Capítulo 15

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         Não sei o que o dia de hoje espera de mim, mas espero que não muito, porque não tenho ideia de como vim parar aqui, sentado na aula de matemática, às 10 da manhã de uma quarta-feira. Hoje acordei com mais sono que o normal e talvez o fato de eu ter ido dormir umas 3 da manhã tenha algo a ver com isso. Simplesmente não conseguia dormir, então fui dar uma caminhada na quadra e depois fiquei vendo episódios de Friends até pegar no sono.

         No entanto, algo me mantinha desperto durante as aulas: Alec não tinha respondido nada até agora e ele não estava com seus amigos quando passei por eles no corredor.

         Saio de mais uma aula e enquanto mando uma mensagem para Scott perguntando se ele estava sabendo de algo, ouço uma mulher chorando, distante. Me aproximo, na mesma direção do som, e consigo ouvir a Mrs Martin dizer "Dentro de poucas horas podemos acionar a polícia e eles tratarem como desaparecimento. Estou certa de que ele está bem e provavelmente na casa de algum amigo", que é seguida pela mesma voz chorosa "Meu Alec! Já deviam estar procurando, ele nem voltou para casa ontem. Isso é um absurdo!".

         Meu coração acelera e percebo que quem devia estar procurando por ele era eu, e não a polícia. Ele deve ter sido capturado. Largo minhas coisas no armário e saio correndo para a última sala do corredor. Bato na porta, e interrompo a fala de Mrs. Finch sobre algum sistema fisiológico dos mamíferos:

         -- Bom dia, Mrs. Finch. Desculpa interromper, mas preciso falar com eles ali. – e aponto para Corey, Mase e Theo, que estavam sentados próximos, na frente.

         Ela me olha incomodada, então completo com um sorriso sem graça:

         -- É importante.

         Ela faz sinal para eles saírem e eles me olham confusos, já no corredor comigo.

         -- Porra, esqueceu minha blusa, de novo? – Theo começa, mas o interrompo.

         -- É o Alec. Acho que os caçadores estão com ele.

         Suas expressões mudam para outras de preocupação ou de raiva.

         -- É, acho que nossa ida a floresta encantada vai ser mais cedo que pensávamos. – solta Theo.

         -- Sim, e você vai dirigindo. – informo.

         -- Alguma novidade? – ele sorri.

         Então, estamos nós quatro, de novo, na camionete do Theo, indo para o meio do nada. Mas, dessa vez, paramos um pouco antes, na estrada, e vamos andando até onde lembrávamos ser a cabana.

         -- Ok, acho melhor a gente se separar, porque eu não vou ficar escondido atrás, de novo não. – avisa Mase.

         -- É mesmo, amor. Hoje você tá com o taco, então já ganhamos essa luta. – Corey brinca e ele dá um empurrãozinho nele.

         -- A gente vai dar a volta, para chegarmos por trás. Qualquer coisa, mandem mensagem. – Mase diz e os dois saem andando na frente, mas logo ficam invisíveis e não podemos mais vê-los.

         -- Ele fica com o TacoBoy e eu com o Pincher. Que maravilha!

         -- Vai se fuder. – respondo e sai, talvez, ríspido demais, porque eu realmente estava nervoso com essa situação toda.

         Eu estava no comando. Um de nós some e eu poderia ter feito algo. Agora pode ser tarde demais. Alec pode estar morto e eu vou ser o responsável por esse caos. Ouço a voz do Scott, do meu pesadelo de ontem, repetindo "Eu confiei em você".

         -- Já me avisa agora se você precisar de ajuda para acertar um soco, de novo. Eles já não gostam da gente, sabe, não precisamos dar mais motivos para chacota. – ele completa algo que estava dizendo antes, que eu nem havia prestado atenção.

         -- Puta que pariu, cala a boca. – paro de andar e exclamo o encarando.

         -- Não, só precisava ter certeza mesmo, porque da última vez você... – começa a dizer, enquanto solta mais um de seus sorrisos cínicos, mas o interrompo com um soco bem certeiro em seu nariz, para ver se ele para de falar merda.

         Já estava de saco cheio. Sinto minha pele arder e tento impedir uma crise, porque não tínhamos tempo. Não faltava muito para chegarmos e ao mesmo tempo que queria chegar logo e saber se estava tudo bem com Alec, também não queria chegar nunca, com medo de descobrir que não estava.

         Ele me olha, limpando o sangue do nariz, também sem cara de estar com muita paciência. Logo, sou atingido com outro soco na cara e reajo o empurrando para trás, quando grito – a beira de mais uma explosão:
          -- Por quê você me odeia tanto?!?

         No fundo, eu já não tinha mais tanta certeza de que realmente pensava isso, mas meu coração já estava acelerando de nervosismo com mais um caos gerado por mim.

         Ele solta uma risada enquanto balança a cabeça negativamente, e chego a conclusão de que ele também tinha enlouquecido um pouco nessa confusão. Uma vontade gigantesca de bater nele, de novo, eclode dentro de mim, mas ele é mais rápido e se aproxima quando diz:

         -- Você é um burro mesmo, né?

         Preparo meu punho para o acertar, mas ele é mais rápido e avança em mim. E não foi para me socar.

Do Outro Lado da Porta de Uma Camionete EnferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora