Capítulo 5 - A Forma do Valor (Parte 3)

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Transição da forma-valor geral à forma-dinheiro
A forma-equivalente geral é uma forma do valor em geral. Pode, pois, caber a qualquer mercadoria. Por outro lado, uma mercadoria só pode encontrar-se sob esta forma (forma C) , porque e na medida em que ela própria é excluída por todas as outras mercadorias, como equivalente. E só a partir do momento em que este carácter exclusivo se fixa definitivamente numa certa espécie de mercadoria, é que a forma-valor relativa [unitária do mundo das mercadorias] ganha consistência objectiva, adquirindo validade social universal.

A mercadoria especial com cuja forma natural a forma-equivalente pouco a pouco se identifica na sociedade, torna-se mercadoria-dinheiro ou funciona como dinheiro. A sua função social específica, e portanto o seu monopólio social, consiste em desempenhar o papel de equivalente universal no mundo das mercadorias. Entre as mercadorias que, na forma B, figuram como equivalentes particulares do tecido, e que, sob a forma C, exprimem conjuntamente no tecido o seu valor relativo, foi o ouro que conquistou historicamente esse privilégio. Então, substituindo na forma C a mercadoria-tecido pela mercadoria-ouro, teremos:

D - Forma-dinheiro [20a]
20 metros de tecido =

1 fato =

10 libras de chá =

40 libras de café =

1/2 tonelada de ferro =

x da mercadoria A =

etc. = = = = = = = = = = 2 onças de ouro;

Na transição da forma A à forma B e da forma B à forma C ocorrem mudanças essenciais. A forma D, pelo contrário, em nada difere da forma C, a não ser no facto que agora é o ouro que possui, em vez do tecido, a forma-equivalente geral. O progresso consiste simplesmente em que a forma de permutabilidade imediata e universal, ou a forma de equivalente geral, se incorporou definitivamente [por força da prática social] na forma natural e específica do ouro.

O ouro só desempenha o papal de dinheiro em face das outras mercadorias na medida em que já anteriormente desempenhava em face delas o papel de mercadoria. Tal como todas elas, ele funcionava como equivalente quer acidentalmente [como equivalente singular] em trocas isoladas, quer como equivalente particular ao lado de outros equivalentes. Pouco a pouco passou a funcionar, dentro de limites mais ou menos largos, como equivalente geral. Ao conquistar o monopólio dessa posição na expressão do valor do mundo mercantil, tornou-se mercadoria-dinheiro e, somente a partir do momento em que já se tornou mercadoria-dinheiro, é que a forma D se distingue da forma C, ou que a forma-valor geral se transforma em forma-dinheiro.

A expressão simples do valor relativo de uma mercadoria (do tecido, por exemplo) na mercadoria que funciona já como dinheiro (por exemplo o ouro) é a forma-preço. A forma-preço do tecido é portanto:

20 metros de tecido = 2 onças de ouro,

ou, se 2 libras esterlinas for a designação monetária de 2 onças de ouro,

20 metros de tecido = 2 libras esterlinas.

A dificuldade no conceito de forma-dinheiro reside simplesmente na compreensão da forma-equivalente geral, ou seja, a forma-valor geral, a forma C. Esta analisa-se na forma-valor desenvolvida, a forma B, e o elemento constituinte desta última é a forma A:

20 metros de tecido = 1 fato, ou

x da mercadoria A = y da mercadoria B.

A forma simples da mercadoria é, por conseguinte, o germe da forma-dinheiro.

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