Capítulo 9 - Capital Constante e Capital Variável

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Os diversos factores do processo de trabalho assumem uma quota-parte diversa na formação do valor-produto.

O operário acrescenta novo valor ao objecto de trabalho por acréscimo de um determinado quantum de trabalho, abstraindo do conteúdo determinado, do objectivo e do carácter técnico do seu trabalho. Por outro lado, encontramos novamente os valores dos meios de produção consumidos como partes integrantes do valor-porduto, p. ex., os valores de algodão e fuso no valor do fio. O valor dos meios de produção é, pois, conservado pela sua transferência para o produto. Este transferir dá-se durante a transformação dos meios de produção em produto, no processo de trabalho. É mediado pelo trabalho. Mas como?

O operário não trabalha duplamente no mesmo tempo, uma vez para acrescentar um valor ao algodão pelo seu trabalho e outra vez para conservar o antigo valor do algodão ou - o que é o mesmo - para transferir o valor do algodão, que ele elabora, e do fuso, com que trabalha, para o produto, o fio. Mas antes, por mero acrescentar de novo valor, ele conserva o valor antigo. Dado, porém, que o acréscimo de novo valor ao objecto de trabalho e a conservação dos valores antigos no produto são dois resultados totalmente diversos que o operário produz ao mesmo tempo, embora trabalhe apenas uma vez no mesmo tempo, esta bilateralidade do resultado só pode manifestamente ser explicada a partir da bilateralidade do seu próprio trabalho. No mesmo momento, ele tem, numa qualidade, de criar valor e, numa outra qualidade, de conservar ou transferir valor.

Como acrescenta cada operário tempo de trabalho e, portanto, valor? Sempre na forma do seu modo peculiarmente produtivo de trabalho. O fiandeiro só acrescenta tempo de trabalho ao fiar, o tecelão ao tecer, o ferreiro ao forjar. Contudo, pela forma conforme a um fim em que eles acrescentam trabalho em geral e, portanto, novo valor, pelo fiar, tecer, forjar, os meios de produção, algodão e fuso, fio e tear, ferro e bigorna, tornam-se elementos constituivos de um produto, de um novo valor de uso(1*). Desvanece-se a velha forma do seu valor de uso, mas apenas para desabrochar numa nova forma de valor de uso. Da consideração do processo de formação de valor resultou, porém, que na medida em que um valor de uso é gasto em conformidade a um fim na produção de um novo valor de uso, o tempo de trabalho necessário para a fabricação do valor de uso gasto constitui uma parte do tempo de trabalho necessário para a fabricação do novo valor de uso, e portanto é tempo de trabalho que é transferido do meio de produção gasto para o novo produto. O operário conserva, pois, os valores dos meios de produção gastos ou transfere-os como partes integrantes de valor para o produto, não pelo seu acrescentar de trabalho em geral, mas pelo carácter útil particular, pela forma especificamente produtiva deste trabalho acrescentado. Enquanto actividade produtiva conforme a um fim - fiar, tecer, forjar -, o trabalho, pelo seu mero contacto, ressuscita os meios de produção de entre os mortos, anima-os em factores do processo de trabalho e liga-se a eles em produtos.

Se o trabalho produtivo específico do operário não fosse fiar, ele não transformaria o algodão em fio e, assim, também não transferiria os valores de algodão e fuso para o fio. Se, pelo contrário, o mesmo operário muda de profissão e se torna marceneiro, então acrescentará, como dantes, valor ao seu material, através de um dia de trabalho. Acrescenta-o, portanto, pelo seu trabalho, não na medida em que é trabalho de fiar ou trabalho de marceneiro, mas na medida em que é trabalho social abstracto em geral; e acrescenta uma determinada magnitude de valor, não porque o seu trabalho tenha um conteúdo útil particular, mas porque dura um tempo determinado. Portanto, na sua propriedade universal abstracta, enquanto dispêndio de força de trabalho humana, o trabalho do fiandeiro acrescenta novo valor aos valores de algodão e fuso; e na sua propriedade concreta, particular e útil, como processo de fiação, transfere o valor destes meios de produção para o produto e conserva assim o seu valor no produto. Daí a bilateralidade do seu resultado no mesmo instante.

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