Capítulo 18

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Cecília se mudou dois dias depois. Na verdade, levou suas roupas, sapatos, produtos de beleza e higiene pessoal e dois livros que estavam na sua lista de leituras.
Estava insegura de sua posição. Cada vez mais se envolvia na vida daqueles Novas Espécies e começou a pensar em quando sua vida voltaria ao normal. O quarto que lhe deram era grande e arejado e ela notou que os lençóis e coberta femininos eram novos. Qual deles teria escolhido as estampas floridas em tons pastéis? No banheiro encontrou shampoo e condicionador apropriado para cabelos crespos e sabonetes de aroma delicado. Alguém se preocupara bastante com ela.
Jaded lhe contara que mais uma dupla viria da Noruega para ajudarem na segurança. Ele decidira que os pais de Cecília também precisavam de guardas.
Cecília viu sua vida ser totalmente tomada pelas Novas Espécies, pois também ficara atenta a eles. Evitava perfumes fortes e mantinha o seu som baixo, pois sabia que eles eram sensíveis aquilo.
Blade orbitava em torno dela cuidando de cada uma de suas necessidades e ela notou que aquilo desagradava ao Jaded.
Resguardando todas aquelas particularidades, sua vida até que era agradável.
Algumas noites após a mudança, estava sentada num banco de madeira, nos fundos da mansão, onde havia um lindo jardim. Lia um romance, aproveitando o aroma das flores.
— Atrapalho?
Ela levantou os olhos e viu Blade parado próximo a ela.
— Ah, não, eu estou lendo.
— E é um livro bom?
Ela mostrou o livro, um pouco envergonhada pelo casal seminu e deitado numa praia que ilustrava a capa.
— É um romance contemporâneo.
— Nossas fêmeas gostam muito de ler. - ele disse, sentando ao seu lado.
— Os machos não?
— Alguns gostam. A maioria prefere exercícios. Gostamos de nos mantermos preparados.
— Entendo.
— Mas há machos que preferem ler, como Jaded.
— É mesmo?
— Ele não gosta de lutar. - contou num sussurro.
— Ah...
— Eu gosto. Preciso estar pronto para defender quem me importa. - ele deu-lhe um olhar nada sutil.
— Seria bom se não precisassem lutar.
— Esta é a nossa vida.
Blade ergueu o nariz e inspirou, olhando para a porta. Uma figura alta apareceu, era Golden.
— Olá. Estão aproveitando a noite?
— Estava. - Blade respondeu, nada animado.
Golden parou à frente deles, fazendo sombra contra a iluminação do jardim. Cecília se afeiçoara a ele e conversavam muito sobre crianças e famílias; o homem, que parecia bem mais novo, era fascinado sobre os humanos.
— É pena que esse banco é pequeno para nós três.
— Posso chegar para o canto. - ofereceu Cecília.
— Vai ficar apertado.
— Só um pouco. - ela chegou para a beirada do banco.
Golden sentiu entre os dois.
— Você gosta de ler? - ele perguntou.
— Gosto muito.
— Jaded lê muito.
— Eu soube.
— Ele aprendeu muitas coisas sobre os humanos. - Golden deu um sorriso mostrando as presas. Cecília achava que nunca se acostumaria a elas. — Ele me disse que há pessoas especialistas em crianças. Pediatras, psicólogos...
— Você poderia estudar sobre as crianças Novas Espécies, Golden. Soube que já há um bom número de criancinhas agora.
— Que ideia interessante! Eu poderia ajudar com nossas crianças.
— Por que não começa a estudar agora? - perguntou Blade.
Golden virou o rosto para ele. Cecília não viu sua expressão, mas Blade não pareceu gostar.
— Estou conversando com Cecília.
— Eu também estava. - replicou Blade.
Percebendo um clima estranho entre os homens, Cecília se colocou em pé.
— A noite está ótima, mas vou deitar.
— Fique, Cecília. - pediu Blade.
— O dia foi bem puxado.
Golden se levantou.
— Eu entro com você.
Blade se levantou também.
— Eu posso fazer isso.
— Não precisa, rapazes. Aproveitem a noite. Boa noite.
— Boa noite, Cecília. - disse Golden.
Ela se virou e caminhou para dentro da casa. Ouviu que Golden e Blade pareciam discutir. Ela havia percebido o interesse de Blade, mas não queria dar ideias ao homem. Oficialmente era namorada de Jaded.
Enquanto atravessava a sala para ir para o quarto pensou na possibilidade de ter um romance com um Nova Espécie. Já beijara um, será que contava?
Viu os outros guardas assistindo televisão e imaginou se Jaded ainda estava no escritório.
— Boa noite, rapazes.
— Boa noite. - responderam em uníssono.
Cecília ficava tensa ao pensar que agora moraria numa casa cheia de Novas Espécies, homens que pareciam ameaçadores. Ela se admirava de sua coragem e confiança neles, afinal se algum deles quisesse lhe fazer mal, não teria nenhuma defesa. Passou em frente ao escritório; a luz estava acesa.
Naqueles dias Jaded tinha sido um perfeito cavalheiro; não havia nada de homem-fera em seu comportamento.
Mas ele nem me olha também. - pensou, consciente de que ele tomava muito cuidado em interagir com ela. Em público, era sempre atencioso e carinhoso, em particular falava com ela apenas profissionalmente.
Cecília! - ouviu a voz dele através da porta.
Parou, confusa. Como sabia que ela estava ali?
A porta se abriu e, por um instante , perdeu o fôlego. Mais cedo Jaded estava vestido com uma bermuda e camiseta, mas agora usava apenas a bermuda, caída displicentemente em seus quadris, e os pés descalços. O peito... Nossa, havia muita pele bronzeada exibida ali! Ficou surpresa com a tatuagem que começava em seu peito esquerdo e descia pelas costelas. Era um lindo tigre erguido nas patas traseiras e urrando; o rabo da fera desaparecia nas suas costas e ela desejou ver onde terminava.
— Oi? - perguntou, recuperando a voz. — Como sabia que eu estava passando?
— Senti seu cheiro.
— Sentiu meu...
— Meu olfato não é aguçado como dos caninos, mas consigo discernir aromas a pouca distância.
— Nossa...
Jaded a olhou como se procurasse ver algo mais nela.
— Falei com Justice. Ele acha que deveríamos noivar esta semana.
Ela piscou, mas não estava surpresa. Sabia que haveria um noivado.
— Está bem.
— Podemos escolher as alianças amanhã?
Alianças! Meu Deus!
— Claro.
— Iremos no final da manhã. Storm precisa organizar a segurança.
Ela abaixou os olhos e notou o V que seus músculos abdominais faziam ao sumirem dentro da roupa. Sentiu seus olhos abrirem mais ao reparar o volume longo e grosso dentro da bermuda. Ela já o vira ereto uma vez e sabia que ele podia ser bem grande. Engoliu em seco, impactada pela masculinidade bruta daquele homem. Jaded lhe dava água na boca.
Mas sabe ser feroz...
Ela ficara com manchas escuras por dias em seus braços. Tudo o que ela sabia dele lhe dizia que Jaded era divertido, equilibrado, perfeitamente moldado aos humanos, entretanto ela já o vira agir com ferocidade, explanar sua sexualidade e, por fim, ser rude com ela. A dúvida era se ele sempre fora assim e se continha ou era apenas com ela. Ela achava que ele tinha reações exageradas, como quando insistira na atração entre os dois e ao se aborrecer com o que ela dissera no dia do talk show.
— Cecília?
Ela ergueu o rosto. Ele a olhava de forma divertida.
— Oi?
— Você se distraiu. Eu perguntei se você quer escolher a joalheria.
O rosto dela pegou fogo. Ele a vira admirar suas... partes!
— Eu... Não, não tenho nenhuma de preferência.
— Ou você gostaria de ir a Paris?
— Paris? Não acho necessário. Quero dizer, as alianças nem precisam ser caras. Você pode adquirir alianças banhadas apenas.
— Como assim banhadas?
— É, banhadas em ouro. Sairão bem mais barato.
— Mais barato?
— Sim. Por que desperdiçar dinheiro com algo que será descartado logo?
Ele franziu as sobrancelhas, olhando-a com o semblante muito sério.
Oh, meu Deus! O que eu fiz agora?

Jaded: Uma história Novas Espécies 3Onde histórias criam vida. Descubra agora