Cecília encerrou o seu serviço, porém perguntaria a Breeze se tinha mais alguma tarefa a fazer. Saiu do salão e, quando atravessava a sala de recepção, a senhora Theroux a parou.
— Cecília?
— Pois, não, senhora Theroux?
A velhota a olhou de cima a baixo.
— Você está bem?
— Estou.
— Você tem estado abatida nesta semana.
Cecília percebeu a mulher olhando para sua barriga. Estava com uma blusa solta, porém não parecia grávida.
— Estive, mas já estou bem.
— Quando ficou aquelas semanas fora, eu me preocupei. As Novas Espécies são muito voláteis.
— Não entendi.
— Algo podia ter saído do controle.
Cecília inspirou fundo.
— Senhora Theroux, meu rompimento com Jaded foi pacífico.
A mulher a olhou desconfiadamente.
— Se você diz...
A senhora Theroux ajeitou os óculos.
— Já está tudo resolvido?
— O quê?
— O motivo de você se afastar.
Velhinha fuxiqueira! - pensou.
— Está tudo bem.
— Este trabalho não é para qualquer um. - Cecília não fez comentários. - Embora eu imagine que para você tudo foi mais complicado.
— Com licença, senhora Theroux. - Cecília pediu, cansada da curiosidade da mulher.
A idosa segurou seu braço.
— São muito interessantes essas Novas Espécies, não são?
— São, sim.
— Sabe que ninguém queria trabalhar com eles quando chegaram aqui?
— Não.
— Eu fui a única a aceitar o trabalho. Depois vieram os outros.
— Que bom que a senhora teve mente aberta.
— Trabalho é trabalho.
Cecília balançou a cabeça assentindo e voltou a caminhar.
— Cecília? - a senhora chamou.
— Sim?
— Fiquei feliz de ter terminado o noivado.
— Como?
— É uma vida difícil a desses seres. Você é jovem e inteligente para assumir uma vida tão arriscada..
— Ah... Sim.
Sem querer ouvir mais, foi para o escritório de Breeze. Ela estava concentrada na tela do computador.
— Com licença, Breeze.
— Ah, Cecília, eu precisava mesmo falar com você.
— Se precisar eu posso ficar mais um pouco.
— Não quero cansá-la.
Cecília ergueu as sobrancelhas e Breeze riu.
— Gravidez não é fraqueza, Breeze.
— Não me leve a mal, nós costumamos mimar nossas grávidas.
Cecília teve um vislumbre de como seria sua vida nos próximos meses. Novas Espécies eram um grupo muito coeso e seu filho receberia toda a atenção.
— Do que você precisa?
Breeze se levantou e deu a volta na mesa.
— Jaded está vindo para Estrasburgo.
Uma sensação fria envolveu Cecília. Sentou-se, com os olhos arregalados.
— Você contou para ele?
— Não.
— Então, por que ele está voltando?
Breeze deu um sorriso radiante.
— Eu prefiro que ele te conte.
— Você não contou mesmo? - insistiu, preocupada. Ainda não estava preparada para contar para Jaded.
— Não se preocupe, ele não sabe de nada.
— Quando... quando ele vem?
— Ele foi para Homeland mais cedo e pretende viajar para Paris... - olhou no relógio. — ...daqui a pouco. Amanhã estará aqui.
Cecília sentiu seu coração acelerar. Passara o último mês tentando evitar pensar em Jaded, mas tudo o que via a fazia se lembrar dele. Até mesmo Blade. O homem era uma das suas escoltas , a tratava com toda delicadeza possível e ela lembrava dos ciúmes de Jaded. Almoçava com Breeze no escritório e se lembrava de quando compartilhavam aquele momento, fingindo que não estavam se observando. Mas era na cama, à noite, que mais sentia falta dele. Lances dos momentos que vivenciaram passavam por sua mente sem que ela conseguisse controlar. Seu corpo lembrava-se do dele, ansiava por ele... Em muitas noites dormira chorando, lamentando por ter se envolvido com ele, mesmo sabendo que seria apenas um affair.
— Breeze, por que ele vem? - insistiu.
— Por que acha,Cecília?
— Se ele não sabe do bebê... eu não imagino.
Breeze sorriu.
— Eu considero os machos das espécies burros, mas sempre achei as fêmeas humanas espertas.
— O que quer dizer?
— Ele vem por você, Cecília. Pediu para eu dizer que sente a sua falta.
Cecília não quis acreditar. Sabia que Jaded a desejava muito, a atração entre eles era forte, contudo não esperava nenhum sentimento dele.
Você é minha, Cecília. - ele dissera. - E eu sou seu.
Balançou a cabeça, sentindo-se confusa.
— Breeze, eu e Jaded fomos amantes, apenas isso. E durou pouco.
— Ele não me deu essa impressão quando cheguei.
— Jaded foi bem claro comigo. Era apenas sexo.
— Ele mandou Blade para a Noruega por ciúmes. Não acha que foi porque sentia algo por você?
— Foi uma questão de marcar território. Jaded apenas queria mostrar que era meu dono.
— Talvez a possessividade seja um sinal de sentimentos.
— Duvido.
Breeze a observou com um olhar curioso.
— Cecília... Eu poderia te dizer muitas coisas, mas acho que você precisará ouvir Jaded.
Com uma respiração profunda, ela arriou os ombros. Sua relação com Jaded acontecera em alta velocidade e grande intensidade. Não queria ter esperanças de que seria diferente.
— Não precisa de nada mesmo?
— Não, querida, pode ir.
Cecília saiu desnorteada. Não podia acreditar que Jaded vinha para vê-la. Uma preocupação surgiu: alguém teria desconfiado de sua gravidez e contado a ele?
Ligou para Blade e avisou que já sairia. Pensou que Jaded não sabia que Blade voltara para Estrasburgo.
Blade e Fiber, que viera com Breeze, chegaram no escritório. Blade sorriu para ela como se já não a tivesse visto antes. Ele pegou a bolsa dela e jogou nos ombros.
— Vamos?
— Sim. - hesitou um instante. -— Eu preciso conversar algo com vocês.
— Claro. - Blade respondeu.
— No carro.
Desceram para o térreo e Cecília notou como Fiber chamava a atenção. Era mais escuro do que as outras Novas Espécies e Breeze lhe dissera que provavelmente ele tinha sido misturado com pantera. Havia um nítido ar de perigo no olhar do homem e atraía muitos olhares femininos.
Entraram no carro e ela se preparou para o assunto delicado.
— Eu me mudarei para a mansão. - declarou.
— Isso é ótimo. - Blade comentou com um sorriso enorme. — Quando?
— Não fechei o dia ainda. Preciso de uns dois dias para arrumar minha bagagem.
— Eu posso te ajudar.
— Obrigada, Blade. - Cecília inspirou fundo. Conversaria mais tarde com Blade, não queria problemas com Jaded.
Chegaram no seu apartamento e ela pediu que entrassem, como sempre. Fiber decidiu ficar no carro até a troca de escolta e Blade subiu. Cecília se acostumara à presença dele, entretanto sabia que não era justo com Blade. Ela não correspondia ao sentimento dele, porém ele parecia satisfeito apenas em estar do lado dela.
Blade entrou na frente vistoriando cada cômodo. Cansada, Cecília sentou-se no sofá. Ele voltou para a sala e a olhou.
— Você parece cansada.
— Eu estou.
— Mas você está bem? - ele a observou atentamente. — Tenho te achado diferente esses dias, mas não consegui descobrir em quê.
— Blade, preciso te dizer que Jaded está vindo para cá.
O semblante do homem mudou rapidamente.
— Por quê? Ele não é mais responsável pela ONE Europa.
— Breeze disse que ele vem para se encontrar comigo.
Blade franziu a testa.
— Para quê?
— Não sei, Blade.
— Você não pode recebê-lo. - afirmou. — Diga a ele que não quer falar com ele.
— Mas eu preciso...
— Encontrar com ele? - Blade sentou ao seu lado. — Você não precisa. Cecília... - ele segurou suas mãos. — ... eu estava dando um tempo para você superar o que houve com Jaded, mas agora... - Blade a encarou e Cecilia admirou o rosto bem feito, a masculinidade visível. Ele era muito bonito. — Cecília, você quer ser minha?
Ela puxou as mãos e ele não resistiu.
— Blade, você é muito especial... Mas eu não posso me envolver com ninguém agora. - ela pousou as mãos no ventre, fazendo a protuberância se destacar. — E tenho assuntos não resolvidos com Jaded.
Blade acompanhou seu movimento, ficou um instante observando sua barriga e depois ergueu os olhos para ela.
— Você... - balançou a cabeça. — Não, não...
— Eu estou grávida.
Ele arregalou os olhos.
— É por isso que ele vem?
— Não, Jaded não sabe ainda.
Blade se levantou, agitado.
— Isso é... Eu não esperava. - ele pareceu confuso. — Você... você tem sentimentos por Jaded?
Ela pensou em negar, contudo não tinha razões para isso. Blade merecia sua sinceridade.
— Eu tenho.
Ele ergueu as sobrancelhas mostrando que não esperava aquela resposta.
— Você o ama?
— Eu o amo, Blade. Eu o amo muito.

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Jaded: Uma história Novas Espécies 3
FanfictionJaded é um produto de manipulação genética. Pertence à ONE - Organização das Novas Espécies- um grupo de humanos geneticamente alterados por uma indústria farmacêutica. Ele passou grande parte da vida aprisionado, servindo como cobaia para experimen...