Capítulo 8

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Cecilia sentiu literalmente seu queixo cair. Olhava para Justice com os olhos arregalados. Ela entendera direito? Olhou para Jaded; ele não a olhava pelo retrovisor, mas abaixara a cabeça e esfregava os olhos com o polegar e o indicador. Do lado de fora, a linda paisagem à margem do rio era ignorada.
— O senhor... o senhor está falando a sério?
Justice a encarou com seriedade.
— Devo lembrá-la que nossa conversa está coberta pela cláusula de confidencialidade no contrato que assinou.
— Sim, claro.
— Entendo que o pedido a tenha surpreendido, contudo é uma necessidade da ONE.
— Não compreendo.
— Senhorita Santanna... Sou líder das Novas Espécies há nove anos. Com exceção do amor que tenho por minha esposa e filho, toda minha alma está entregue a ONE. - ela notou que os olhos dele brilhavam ao falar da Organização Novas Espécies. — Faço tudo, tudo absolutamente, para ver meu povo feliz. - ele fez uma pausa e ela viu que ele olhava para Jaded, que estava de cabeça baixa. — Estamos costurando nossa vinda para a Europa há dois anos e ontem vi que nossos esforços poderiam ser inúteis. Não preciso falar-lhe do que o mundo viu ontem. A senhorita também viu. - fez uma pausa. — É verdade, podemos ser selvagens e mortais quando somos atacados, porém não é esta a imagem que queremos que as pessoas tenham como referência.
Cecilia balançou a cabeça concordando; as Novas Espécies teriam que fazer muito para tirarem aquela má impressão. Se fosse possível.
Justice continuou a falar.
— O que precisamos agora é de algo que mostre nossa melhor faceta. Algo que lembre as pessoas de que também somos humanos.- Cecília ouviu um rosnado vindo de Storm. Justice apenas franziu os lábios com a reação do companheiro. — Como eu dizia, precisamos da senhorita.
— Precisa que eu fique noiva... do senhor Wild?
Jaded suspirou e ergueu a cabeça, olhando-a pelo retrovisor. Cecilia sentiu um formigamento estranho ao encarar os fascinantes olhos verdes.
— É exatamente disso que precisamos. Sabe qual o produto que mais vendemos pela internet? Um cartaz com a face de Fury. E Ellie é a mulher que mais recebe cartas da ONE. As pessoas amam histórias de amor. - Cecilia começou a entender o pensamento dele. — Se dermos outro caso de amor para curtirem, se mostrarmos que sabemos amar e cuidar de humanos...- ele silenciou e aguardou que ela registrasse a ideia.
Cecilia achou o expediente infantil e não acreditava que surtisse efeito.
— Justice, isso é uma bobagem. - declarou Jaded. — Não funcionará.
— Já te disse que funcionou antes.
— Acha que se eu e... a senhorita Santanna passearmos de mãos dadas, a opinião pública mudará ao nosso favor?
— Tenho a certeza. - Justice virou-se para Cecília. — Nossa entrada na Noruega teve início com uma troca de e-mails entre a rainha e minha companheira. Fomos convidados a visitá-la e logo depois fui convidado pelo primeiro-ministro para falar no parlamento. E agora já iniciamos o projeto da colônia em solo norueguês. Então, senhorita Santanna... - falou, mas olhou para Jaded. — Foi uma rainha que aprecia histórias de amor que deu o pontapé inicial na colônia norueguesa.
— Por favor, Justice... - bufou Jaded.
Justice não se abalou.
— A União Europeia verá a senhorita e seu noivo vivendo em harmonia. Jaded mostrará às pessoas que pode ser amoroso e cuidadoso com sua companheira.
— Mas, senhor North...
— Justice.
— Hã... Ah... Sim, Justice, porque está pedindo a mim?
Justice pegou o celular e abriu numa rede social de imagens; clicou em cima de uma. Mostrou o celular para Cecília.
— Veja quantas curtidas essa foto alcançou.
Cecilia viu que era a fotografia em que Jaded a abraçava. Estreitouos olhos, surpreendida pelo número de apoios que a foto recebeu: eram milhões de curtidas!
— As pessoas relacionaram um ao outro e, simples assim, a ideia se formou.
— Mas...
— Não é muito ético, mas precisamos fazer de tudo para recuperar o apoio que tínhamos. Faremos um contrato fechado, sigiloso, e você será bastante recompensada.
— Eu não... não estou preocupada com isso. - falou, sentindo-se ofendida.
— Não a quis subornar com a oferta de dinheiro. Será apenas uma compensação.
— Se eu tivesse que ajudar qualquer pessoa, jamais seria por dinheiro.
Justice inclinou a cabeça e a observou.
— Se é assim, Cecília, aceite a encenação para nos ajudar.
Ela ainda estava atordoada, entretanto algo não escapou à sua atenção; Jaded parecia ser contra a estratégia. Encheu-se de coragem e perguntou, olhando para Jaded.
— O que o senhor Wild acha disso?
Justice respondeu primeiro.
— Jaded fará o que for necessário pela ONE.
Jaded virou-se para ela e Cecília piscou  diante do olhar pesado.
— Eu farei o que for necessário pela ONE. - repetiu.
Ela sabia que não deveria, mas sentiu-se menosprezada pela atitude dele.
— Cecília, a ONE precisa de você. - disse Justice, muito seriamente.
Ela não conseguia disfarçar que estava chocada. Depois do que vira no ataque, como poderia fingir ser íntima daquele homem? Seu rosto esquentou quando lembrou-se de como o cobiçava antes. Mas fora antes...
Justice a observava novamente, agora com os olhos estreitados.
— Incomodaria se a ligassem a um Nova Espécie?
— Não.
— Tem restrições contra um de nós?
Ela olhou para Jaded antes de responder.
— Eu trabalho para a ONE... Sou pró- Novas Espécies.
— Então, nos ajudará? - Cecilia lambeu os lábios e olhou novamente para Jaded; ele olhava para fora. Nunca o vira tão sério e silencioso. — Cecília?
— Eu... eu preciso pensar.
— Claro. Storm?
— Sim?
— Pare aqui, por favor.
— Está bem.
O carro estacionou à margem do rio.
Justice abriu o paletó.
— Cecília, pode nos dar licença um instante? - Justice tocou no ombro de Jaded. — Venha comigo.
Cecília percebeu o olhar de Jaded para Justice. Parecia irritado. Ambos saíram do carro e logo depois Storm saiu também, empunhando uma arma. Ela se perguntou o que estava acontecendo.
Justice encostou-se na mureta, como se estivesse admirando o rio, porém falava com Jaded. Este o ouvia de cabeça baixa, com as mãos nos bolsos. Ela reparou que Fight e Steel cercavam os dois, olhando atentamente ao redor.
Cecília sabia que logo chamariam a atenção dos transeuntes. Contando com Storm ,ao lado da porta do carro, eram cinco homens enormes, com os longos cabelos ao vento.
De repente, Jaded ergueu a cabeça e falou com Justice, que apertou seu ombro. Jaded olhou na sua direção e, para sua surpresa, começou a caminhar para o carro.
Cecília se ajeitou no banco quando ele abriu a porta do automóvel e entrou. Quando virou o rosto para ela parecia muito cansado.
— Entendeu o plano de Justice?
— Sim.
— Pretende fazer parte dele?
— Eu... ainda não sei.
— Pode pensar nisso, Cecília?
Ela ficou encarando o rosto bonito, tentando entender como aquele homem fora capaz de tanta selvageria.
— Eu pensarei.
Jaded respirou fundo.
— Trabalhamos juntos há pouco tempo, mas já a tenho em alta conta. É inteligente, responsável e muito eficiente. É minuciosa e tem sido muito atenciosa comigo. – ele deu um sorrisinho sem graça. — Fico torcendo para almoçar comigo todos os dias.
— Por quê? - ela perguntou, sentindo o rosto pegar fogo.
— Por que eu esqueço de almoçar quando você não está comigo.
— Oh...
— Tem sido muito gentil, mesmo quando sou ríspido ou desligado. - Cecília não refutou. Sim, às vezes ele era rígido e, sim, costumava esquecer dela na sala. — Quero que saiba que eu não gostaria de ninguém mais ao meu lado nessa... empreitada.
— O senhor não está satisfeito...
— Estou cansado de precisar ser alguém que não sou.
— Então, por que aceitará o que Justice quer?
Jaded a encarou, os olhos verdes brilhando.
— Já quis ter outra vida? Ser outra pessoa?
— Eu... não.
Ele deu novamente o sorriso sem jeito.
— Então, é feliz.
Cecília sentiu o pesar na voz dele. Achava Jaded Wild um homem lindo, famoso, que demonstrava uma grande alegria de viver. Ela estaria errada?
Mesmo sentindo o coração bater tanto no peito que doía, ela perguntou.
— E você, não é feliz?

Jaded: Uma história Novas Espécies 3Onde histórias criam vida. Descubra agora