Capítulo 24

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Cecília estava furiosa com Jaded e consigo mesma. Eles praticamente se agarraram em público! Só podia acreditar que ele a estava castigando. Ele chegara perto dela outras vezes durante a celebração, mas não a provocara, deixando-a aliviada. Ela nunca sabia como reagiria às atitudes dele. Mas se sentia satisfeita por ter dado o troco a ele.
Os convidados já haviam ido embora e seus pais ficaram, participando da roda de conversa. Ela não sabia como, mas Sandrine abandonara a timidez e conseguira convencer Storm , Fight, Steel e Golden a mostrarem sua características animais. Golden foi vendado e levado a identificar os odores de todos em outros cômodos e fora da casa. Fight e Steel competiram para ver quem saltava mais alto. Storm, para o deleite de Sandrine, urrara como um leopardo. Storm provara que Jaded era uma Wikipedia viva, pois sabia um pouco sobre qualquer assunto perguntado.
Cecília não conhecia o lado divertido de seus colegas Novas Espécies e assistira com espanto as altas habilidades daqueles homens-fera. Conhecendo-se tudo o que conhecia das Novas Espécies, era natural para alguns pensarem que um dia eles poderiam dominar o mundo.
Sua mãe olhou para o relógio.
— Gente, são uma hora da manhã!
— Sério? - comentou Sandrine.— Nem vi a hora passar.
Sandrine e Storm estavam sentados juntinhos na ponta do sofá.
— Novas Espécies dormem pouco, mãe. - Cecília comentou. — Dormem depois da meia-noite e já estão acordados às quatro da manhã.
Sandrine riu.
— O que você faz, Ceci? Consegue acompanhar Jaded?
Cecília notou que sua mãe deu uma risadinha e seu pai ficou muito sério. Jaded passou o braço pelo ombro de Cecília e a aconchegou.
— O sono de minha noiva é muito pesado. Eu a deixo dormindo.
Cecília não o olhou. Todos os espécies na sala sabiam que não dormiam juntos; não havia segredos entre eles.
— Creio que podemos ir. - seu pai disse.
— Durmam aqui, Rubens. - pediu Jaded.
— Não, rapaz. Gosto muito da minha cama.
Sandrine mexeu os lábios em sua direção e Cecília prestou atenção. Disfarçou quando entendeu o que ela dizia.
Que safada! -se espantou. Sandrine disse: me chame para dormir!
Cecília fez força para não rir.
— Sandrine, gostaria de dormir aqui?
A amiga a olhou inocentemente.
— Não vou atrapalhar?
— Não.
—Então eu aceito. - seus cílios adejaram ao virar e olhar Storm.
Cecília não ficou chocada com o olhar intenso que o homem deu para sua amiga. Eles se paqueraram a noite toda.
Seus pais saíram acompanhados de Strong e Quiet, que fariam a segurança da noite. Cecília subiu com Sandrine para o seu quarto. Logo que entraram a amiga a abraçou.
— Ele é maravilhoso!
— Imagino. Você babou nele a noite toda!
— A noite toda, não, porque ele ficou de guarda durante o jantar. - Sandrine suspirou. — Storm disse que nunca conheceu uma mulher como eu.
Cecília admirou a amiga baixinha e gordinha; seu rostinho redondo estava muito corado, fazendo-a parecer mais jovem que os seus trinta e dois anos.
— Ele pareceu bem interessado.
— Não, é? Me olhava como se eu fosse uma modelo. - Cecília riu com a amiga. Sandrine era muito tímida em relação ao seu corpo, mas estava encantada com o interesse de Storm— Ele é lindo e disse que eu sou linda!
Ela pensou em Storm com os cabelos longos e cacheados como de um hobbit, mas com um rosto que ela achava feroz.
— Deu seu número de telefone para ele?
— Claro que dei!
Cecília achou muito interessante que a amiga doce e alegre estivesse interessada num enorme e sério Nova Espécie.
As duas continuaram conversando enquanto Cecília separava roupas para Sandrine dormir. A amiga acabara de vestir um camisão e tirara a maquiagem quando seu celular tocou. Ela olhou para o número na tela.
— É desconhecido!
— Vai atender?
— Claro! - Sandrine tocou na tela. — Alô... Oi... - formou o nome de Storm com os lábios e Cecília cobriu a boca para não rir alto. — Não, não estava  esperando... Mas claro que gostei... - ela ficou um momento sem falar e um sorriso apareceu. — Obrigada, Storm. Também te achei muito especial... Achei, sim. Bastante... Claro que quero te ver... Agora?... - Sandrine fingiu se abanar. — Não tenho medo de você... Eu posso descer... Sim... Me dê cinco minutos... Tchau... - Sandrine encerrou a ligação e encarou a amiga, os olhos arregalados. — Ele quer que eu encontre com ele no jardim!
— E você disse que vai.
— Disse. Disse!- Sandrine correu para o banheiro .
— O que foi?
— Quero ver meu rosto! Ai, caramba, estou parecendo uma boneca de cera!
— Passe o batom.
— Ah, é.- Cecília pegou a bolsinha da amiga e lhe entregou. Sandrine lavou os dentes com o dedo e passou o batom. Depois se encarou no espelho. — Vou me encontrar com um Nova Espécie...
— Vai.
— É loucura?
— Depende do que pretende fazer.
Sandrine deu um sorriso.
— Não respondo por mim.
— Onde está minha amiga e o que você fez com ela?
Voltando para o quarto, Sandrine parou.
— Não posso descer de salto alto.
— Tenho uma sandalinha de praia.
— Ficará grande, mas serve!
Cecília acompanhou a amiga se olhar várias vezes no espelho e só quando o telefone tocou novamente ela desceu. Storm ligou para saber se ela havia desistido.
Depois que Sandrine saiu, Cecília se trocou e tirou a maquiagem. Estava cansada e tensa e duvidou que conseguiria dormir logo, entretanto apenas apagou a luz e deitou na cama para cair no sono.
Acordou assustada. Sentou-se na cama, confusa. Ouvira um grito? Tinha a certeza que ouvira um grito de mulher. Apalpou a cama e percebeu que Sandrine não estava deitada. Seu coração bateu acelerado e ela se levantou. A ideia louca de que o grito poderia ser de Sandrine a fez arfar. Lembrou-se de Storm abrindo o peito de um terrorista com a mão, da selvageria que o vira praticar e sentiu medo. Ele poderia ferir Sandrine ou... forçá-la? Piscou de susto quando ouviu o que parecia um grito abafado de um homem.
Com o coração na boca saiu do quarto. O corredor estava às escuras e novamente silencioso. Será que ninguém mais ouviu os gritos? Pensou em chamar um dos seus guardas, mas eles dormiam no térreo.
Respirou fundo. Jaded não gostaria que ela o acordasse com suspeitas de um dos seus homens, porém estava realmente preocupada com Sandrine.
Foi até o quarto dele e parou à porta, na dúvida se deveria chamá-lo, entretanto ele era o líder, então deveria ser o responsável. Desistiu, respirou fundo e decidiu descer.
No mesmo instante a porta de Jaded se abriu. Cecília deu um grito.
— Cecília?
— Você me deu um susto! Eu nem bati na porta!
— Eu senti seu cheiro. Precisa de alguma coisa?
— Eu ouvi gritos.
Ela não conseguia ver o rosto de Jaded, apenas seus olhos brilhantes.
— O que tem?
— De uma mulher e depois de um homem. - ele não respondeu. — Eu não sonhei. Ouvi mesmo!
— Eu não duvido.
— Sandrine não voltou para o meu quarto.
— Hum...
— O quê?
— Ela estava com Storm.
— Você a viu?
— Antes de eu subir estavam no jardim.
— Então...
— Então, o quê?
— Não é melhor ver se está tudo bem? - ele ficou em silêncio de novo. — Jaded, estou preocupada.
— Porque acha que ele a devorou ou coisa parecida?
— Estou falando sério.
— Eu também.
— Não pode pelo menos ver se está tudo bem? Eu ouvi gritos.
— Meus machos são todos de confiança.
— Minha amiga também!
Cecília sentiu a mão dele agarrando o seu braço e a puxando pelo corredor.
— O que está fazendo?
Jaded a levou até o início do corredor e parou à porta do primeiro quarto. Segurou Cecilia pela cintura e a fez encostar de frente na porta.
— Ouça. - ele sussurrou em seu ouvido e virou o rosto dela para que encostasse na madeira.
Cecília se mexeu, incomodada por ele a estar pressionando na porta, mas ele não se moveu. De repente ouviu lamentos femininos vindos de dentro do quarto. Era Sandrine! Seus pelinhos se arrepiaram, assustada, porém ouviu em seguida uma risada masculina. Os lamentos aumentaram e logo o homem fazia sons guturais quase animalescos. A voz de Sandrine soou em meio a gritinhos.
Storm! Ai, assim... assim!
O rosto de Cecília queimou e sua boca escancarou. Sandrine!
Satisfeita? - ele voltou a sussurrar em seu ouvido.
Puxou-a de volta pelo corredor e Cecília se deixou levar, ainda estupefacta com a amiga.
Jaded abriu a porta do quarto dele.
— Um macho Nova Espécie só tem a intenção de fazer uma fêmea gritar se for de prazer. - ele fez um instante de silêncio e ela ouviu sua respiração acelerada. — Você é uma heroína mesmo, Cecília, já que concorda em ajudar seres que considera como animais.
Ele fechou a porta e a deixou ali no escuro, perdida.

Jaded: Uma história Novas Espécies 3Onde histórias criam vida. Descubra agora