Capítulo 42

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Justice North fora criado em laboratórios. Sua força e inteligência vinha de manipulação genética. Sabia que era superior aos humanos, mas também sabia que, como todos do seu povo, ainda era refém deles.
Naquela terça-feira estava na galeria do grande salão do Parlamento Europeu em Bruxelas. Havia vinte e setes deputados que formavam o Conselho de Imigração. Diversos haviam usado da palavra , uns defendendo a imigração das Novas Espécies, outros condenando com fúria.
Sentado ao lado de Jaded contabilizou todos os votos. Faltava apenas um voto para o pedido da ONE ser aprovado. O conselheiro Carl Jurgen pegou o microfone. Justice viu Cecília pegando na mão de Jaded e o macho a apertando. Conversaria novamente com Jaded, mais tarde.
Jaded era um conselheiro muito responsável e nunca causara nenhum prejuízo às Novas Espécies. Todos sabiam da sua aversão ao acasalamento, principalmente com humanas. Achava que o relacionamento com mulheres humanas enlouquecia os machos espécies. Ver o macho com uma fêmea humana o lembrava de Tiger que quando descobrira que humanas poderiam engravidar, pegara horror delas, entretanto arriscara a própria vida para salvar Zandy com quem se casara e tivera dois filhos. Jaded iria pelo mesmo caminho?
O conselheiro Jurgen começou explicando as ressalvas que tinha contra as Novas Espécies e vários deputados se manifestaram favoravelmente, porém ele mudou radicalmente sua opinião. Um tumulto irrompeu no salão, mas Jurgen não se calou.
— E minha recomendação é para que as Novas Espécies tenham livre acesso a se tornarem cidadãos da União Europeia! Este é o meu voto!
Justice se levantou junto com Jaded. Os dois se abraçaram, sinceramente comovidos.
— Obrigado, Jaded!
— Fomos nós, Justice!
O abraço foi longo e Justice não  se importou com as câmeras nem com os celulares filmando-os.
Eles se soltaram e se viraram para seus parceiros. A galeria estava cheia de Novas Espécies, com exceção dos dois machos que estavam com os pais de Cecília.
Abraçando Steel, Justice observou o beijo entre Jaded e Cecília. Aquele macho estava se enganando se pensava que seu relacionamento com Cecília era algo temporário. Lembrou-se que ele tentara esconder seu envolvimento com Jessie pensando que era o melhor para o seu povo. Jaded já não tinha esse problema, a questão era pessoal.
Deixou a preocupação com Jaded de lado e se preparou para as entrevistas que, sabia, viriam.

Cecília aplaudiu quando o conselheiro Jurgen fechou a votação a favor das Novas Espécies. Depois Jaded a abraçou e beijou. O salão se transformou num tumulto e o presidente da Comissão precisou continuar a votação aos berros.
Justice decidiu se retirar com sua equipe e Jaded a segurou pela mão. Na saída do prédio haviam muitos repórteres e Justice parou, cercado por quatro Novas Espécies. Jaded também foi solicitado e os outros os cercaram; ele não soltou sua mão durante o tempo que duraram as entrevistas. Um repórter fez uma pergunta para ela.
— Cecília, você é uma imigrante. Como vê a vitória hoje das Novas Espécies?
Jaded passou o braço por seu ombro e ela respondeu.
— Imigrar para a França foi o modo que meus pais conseguiram para me dar uma vida melhor. Eu acredito que a União Europeia estará concedendo o mesmo para as Novas Espécies. E assim como eu me tornei uma cidadã produtiva para a França, eles serão altamente produtivos para os países que os acolherem.
Uma repórter gritou.
— Você e Jaded continuarão a morar na França?
Ela olhou para Jaded que a aconchegou contra si. Foi ele quem respondeu.
— Ainda estamos resolvendo.
Justice começou a caminhar na direção do SUV e Jaded fez o mesmo. Cecília já estava acostumada a se ver cercada por repórteres e por multidões. Antes de entrar no SUV viu alguns cartazes nas mãos de manifestantes. Piscou surpresa ao ver um cartaz que a chamava de prostituta de aberrações. Outros a chamavam de traidora da raça humana e um amaldiçoava os filhos que tivesse. Seu coração doeu, sabendo que as companheiras sofriam constantemente aquele ataque.
Entrou no SUV e, quando Jaded entrou, percebeu o quanto estava contrariado.
— Não queria que você tivesse visto isso.
— Acho que é questão de me acostumar.
— Quando eu voltar para Homeland você continuará sendo protegida, não se preocupe.
Cecília mordeu o lábio inferior. Também deveria se acostumar com aquilo. Em breve Jaded voltaria para casa e o noivado seria rompido. Respirou fundo. Ela sabia que seu relacionamento com Jaded seria por pouco tempo.
Chegaram na mansão dos De Croos apenas para buscar suas bagagens; voltariam imediatamente para Estrasburgo. Cecília estava no quarto, guardando seus produtos de higiene pessoal e desceu com a frasqueira. Ao chegar no alto da escada ouviu as vozes vindas de baixo.
— ... como seu líder. Estou falando como amigo.
— Você sabe a minha posição, Justice.
— O que não significa que você não possa mudar.
— Cecília me entende e aceita como as coisas são.
— Tem certeza?
— Tenho, claro.
Cecília sentiu-se mal ao ouvir a conversa particular. Estavam falando sobre ela! Voltou para o quarto e decidiu esperar um pouco. Sentou-se na cama. Ela conhecia o pensamento de Jaded, entendia que seu relacionamento era datado, porém sentiu-se triste assim mesmo.
Ela havia superado o medo que tinha dele em nome de seus sentimentos. Ela o queria, como jamais quisera outro homem. Era algo muito forte que não conseguia explicar por ter acontecido tão rápido.
Fazer amor com Jaded fora a experiência mais eroticamente extravagante que tivera. Ele seria o único homem com quem teria um relacionamento meramente sexual.
Mas é isso mesmo? - se perguntou, incomodada com a dor que sentia no peito.
Levantou-se e foi até o espelho. Estava radiante. Estar com Jaded a fazia sentir-se mais viva.
Ela já se machucara uma vez por amor e demorara a se recuperar, embora aquele relacionamento não se comparasse a como se sentia com Jaded.
— Cecília?
Era Jaded.
— Estou no banheiro. - el, abriu a torneira e fingiu lavar as mãos.
Jaded entrou no banheiro e se recostou nela. Sorriu através do espelho.
— As bagagens foram guardadas. Agora só falta nos despedirmos dos De Croos.
— O conselheiro está aqui?
— Sim.
— Então vamos.- disse, secando as mãos.
Jaded a observou, inclinando a cabeça para o lado.
— Você está bem?
— Estou.
— Está tão séria. Por favor, ignore aqueles cartazes.
Ela já havia até esquecido os tais cartazes de ódio!
— Eu estou bem.
Jaded segurou o seu rosto e a beijou. Cecília forçou um sorriso e saiu com ele. Talvez em Estrasburgo  se sentisse melhor.









































































Cecília

Jaded: Uma história Novas Espécies 3Onde histórias criam vida. Descubra agora