Capítulo 44

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Cecília sentia-se uma tola. Desde o início Jaded explicitara que buscava apenas um relacionamento sexual e, preferencialmente, com uma mulher Nova Espécie. A atração que ele sentia por ela, Cecília, fora um acidente provocado pela proximidade.
Em Bruxelas ser sua amante parecera tão natural, deram tanto prazer um ao outro... Ela sabia o que ele pretendia, não sabia? Por que parecer tão chocada agora?
Seu desejo por Jaded ultrapassara o medo por ele ser diferente. Mesmo nos momentos que esse medo surgira, ela conseguira suplantá-lo com a paixão.
Ouvir Jaded confirmando a Justice que não queria um relacionamento sério a deixara triste. Voltara para Estrasburgo sabendo no coração que não aguentaria ser um caso fugaz. Não pretendia, mas desde o princípio se sentira atraida por ele, nem conseguia disfarçar seu desejo. Jaded sabia que o queria.
Conviver com Jaded somente a fizera admirá-lo como pessoa e a atração continuara. Entretanto, não queria ser um caso, uma amante ocasional.
Triste e confusa, deitou na cama e abraçou o travesseiro. Tinha ainda trinta dias para cumprir o acordo com Justice. Deveria ser uma noiva apaixonada até Jaded partir.
E depois?
Depois criariam um motivo público para o fim do compromisso e ela continuaria a servir aos Novas Espécies de outra maneira.
Um pensamento amargo a tomou: Seus pais e amigos não tiveram dúvida dos seus sentimentos por Jaded e teriam confirmação deles ao vê-la sofrer com sua partida.
Lágrimas escorriam do seu rosto para o travesseiro. Como pudera se apaixonar tão facilmente?
Não sabia quanto tempo havia passado, mas alguém bateu à sua porta. Levantou-se e foi abrí-la.
— Oi! - cumprimentou Sandrine.
— Oi, amiga! – abraçou Sandrine tempo demais. — Vem, entra.
Sandrine entrou no quarto e a observou.
— Quando não desceu para jantar eu perguntei ao Jaded por você.
— Estou com dor de cabeça.
— Está muito abatida. O trabalho foi difícil?
Cecília sentou-se na cama.
— Um pouco, mas deu tudo certo. - Sandrine mordeu os lábios e Cecília estranhou o seu silêncio. — O que foi?
— Storm me contou que você e Jaded se acertaram! - completou, rindo e segurando as mãos de Cecília.
— Nós transamos.
— Caramba, amiga! Acho que demorou! Me conta como foi! Ó, se foi um pouquinho parecido com Storm... - Cecília abaixou a cabeça e Sandrine apertou sua mão. — O que foi? Não foi bom?
— Foi muito bom.
— Mas você não está contente.
Cecília respirou fundo e resumiu os últimos dias para a amiga. Quando falou sobre o rompimento, Sandrine estranhou.
— Mas no noivado dava para ver que ele estava de quatro por você!
— Era só sexo.
— Puxa...
A amiga ficou um pouco em silêncio. Depois comentou.
— Eu aqui espantada com o Jaded... Mas Storm também voltará para os Estados Unidos mês que vem.
— Ah, Sandrine...
— É. Nós somos duas tontas. - concluiu, abraçando a amiga.
Entretanto, com o passar dos dias Cecilia acompanhou o relacionamento de Storm com Sandrine prosseguir alegremente. Sua amiga nem disfarçava que estava vivendo na mansão, o que era muito bom, porque jantavam todos os dias juntas. Jaded não jantava mais com ela e passava as noites no escritório.
Seu relacionamento era bipolar. De dia, no trabalho, posavam de um casal feliz e à noite mal se viam. Cecília se pegou chorando várias vezes na cama, porém quando estava com ele mostrava serenidade.
No caminho para o escritório apenas conversavam sobre o trabalho e Cecília se amoldara ao que realmente era, uma secretária-executiva. Na volta não conversavam. Jaded não a tratava mal, contudo o mau-humor era visível.
Durante a semana seguinte à volta de Bruxelas vários dos homens se revezaram em jantar com ela, Sandrine e Storm. Blade já jantara duas vezes com eles.
Numa noite, Sandrine e Storm demoraram a aparecer e Cecília achou que não viriam.Blade e Fight entraram na sala de jantar. Blade não disfarçou o contentamento ao vê-la.
— Está linda, Cecília.
— Obrigada. - ela agradeceu. Fight só olhou para Blade.
— Está sozinha?
— Storm e Sandrine não apareceram.
— Imagino... - Blade deu um sorriso divertido.
Antes que ele se sentasse Fight falou.
— Sem Storm aqui é melhor deixar Cecília jantar sozinha.
— Não acho.
Fight encarou o amigo.
— Não queremos ser inconvenientes.
Blade a olhou.
— Seremos inconvenientes se jantarmos com você?
— Claro que não.
Fight insistiu.
— É melhor, Blade. - Blade apenas sorriu para Cecília. — Jaded não gostará disso.
Cecília se empertigou à menção de Jaded. Blade perguntou a Fight.
— Você é guarda dela, não é?
— Mas você não.
Blade respirou fundo.
— Se não quiser ficar, tudo bem.
Fight se aproximou de Cecília.
— Cecília, Jaded não aprovará que jantemos com você sozinha.
Cecília ergueu o queixo.
— Jaded não tem que aprovar com quem janto.
— Ele não gostará.
Ela notou a preocupação dele.
— Você me faz companhia sempre.
— Quando estou de guarda com Steel.
— Você está com Blade.
Fight deu um olhar estranho para o amigo.
— Este é o problema.
Ela se irritou.
— Jaded não é meu dono, Fight.
— Você é dele.
— Eu não sou de ninguém. - desabafou.
O olhar de Fight lhe dizia que ele não acreditava naquilo.
— Eu não ficarei aqui. - deu as costas e se retirou.
Cecília se sentiu ofendida com a saída de Fight. Ela não era um brinquedinho de Jaded!
Apontou para uma cadeira ao seu lado.
— Vamos jantar?
No momento que Blade se sentou, Storm e Sandrine entraram na sala de jantar. O homem encarou o amigo.
— O que está fazendo aqui?
— Vou jantar.
— Sozinho com Cecília?
— Agora com vocês também.
— Está brincando com fogo, macho.
— Não estou fazendo nada de mais.
— Sabe muito bem o que está fazendo.
— Jaded não a reivindicou.
Cecilia deu um pulo na cadeira.
— Ei!- os dois homens a olharam. — Não sou uma coisa para ser reivindicada!
— Eu quis dizer que... - Storm começou a falar.
— Cecília não é de Jaded. - Blade falou alegre.
— Ele a montou.
— E eu posso fazer o mesmo.
Cecília arregalou os olhos por estarem falando de sua vida sexual. Levantou-se. Storm continuou.
— Se tentar montá-la ele matará você.
— Quem vai montar quem? - a voz grave os interrompeu.
Cecília levou a mão ao peito ao ver Jaded à porta. Storm e Blade se calaram. Jaded entrou na sala.
— O que está acontecendo aqui?
— Vamos jantar! - Sandrine quase gritou.
Jaded olhou diretamente para Blade.
— O que está fazendo aqui?
— Não ouviu a fêmea? Vamos jantar.
Sem olhar para Cecília , Jaded continuou.
— Desde quando janta aqui?
— Há algum impedimento para eu jantar?
— Não quero você perto de Cecília.
— Não é a primeira vez que venho jantar com ela.
— Como é que é?
Storm deu um passo quando Blade se levantou, se colocando à sua frente.
— Vá jantar com os outros machos, Blade. - ele ordenou.
— Jantarei com Cecília.
— Claro que não. - vociferou Jaded. — Saia daqui.
Cecília sentiu a raiva consumí-la. Era como se não estivesse ali; os homens debatiam sobre ela, ignorando sua presença.
— Blade jantará comigo!
Quatro pares de olhos a encararam. Os de Sandrine estavam muito arregalados. Jaded franziu a testa.
— Não, não jantará.
— Ele é meu amigo e sou eu quem decide isso.
Jaded rosnou alto, mostrando as presas e Cecília arregalou os olhos, assustada.
— Não brinque comigo, Cecília.
Ele deu um passo na direção dela e Blade entrou na sua frente. Jaded o olhou, surpreso.
— Recue.
— Recue você, Jaded. Cecília não é sua fêmea.
— Saia.
Blade não se moveu e Jaded o empurrou fortemente, fazendo-o parar do outro lado da sala.
— Jaded! - Cecília gritou.
Ele se virou para ela.
— Você quer jantar com esse macho?
— S-sim.
— Ele estava falando sobre te montar? - perguntou com um olhar de desprezo. A boca de Cecília tremeu. Ele não deveria estar com raiva dela, não fizera nada de errado! — Você quer um macho para se acasalar? Quer trepar com ele também ?
Foi tão rápido que ela não percebeu o que fez. Quando viu, sua mão já estava erguida, voando velozmente para o rosto de Jaded. O som do tapa ecoou na sala e ela levou a mão à boca ao ver a marca vermelha na face dele. Sandrine deu um grito quando Jaded agarrou Cecília.
— Nunca mais faça isso! - ele explodiu.
Então ela o sentiu sendo puxado para trás fazendo-a se desequilibrar. Cecilia caiu de joelhos e gritou também quando viu Blade pular sobre Jaded e os dois se engalfinharem no chão de madeira.

Jaded: Uma história Novas Espécies 3Onde histórias criam vida. Descubra agora