Reclinado sobre travesseiros no leito hospitalar, Jaded assistia mais uma filmagem do ataque naquela manhã. Tentava assistir sob a ótica de um ser humano e o que via não era muito bom.
O ataque fora realizado por um grupo de ódio chamado de DNA Puro. Os atacantes eram de várias nacionalidades; dos onze homens, apenas dois sobreviveram. Os sobreviventes confessaram que pretendiam matar as Novas Espécies e desestimular a presença deles na Europa.
As Novas Espécies eram vítimas, porém parte da mídia falava não do ataque, mas da reação deles.
Aquela filmagem em especial mostrava os acontecimentos muito de perto. Jaded assistiu o carro capotando e a reação da segurança do Parlamento. Os atacantes respondiam aos tiros dos seguranças, enquanto viu Storm sair do carro, sendo seguido por ele. Homens sairam dos caminhões e avançaram para eles. O restante da ação era muito rápida.
Storm desarmou um atacante e o lançou a muitos metros de distância. Ele golpeava um homem com a garra e a garganta dele explodia. Fight e Steel chegaram correndo e se juntaram a eles na luta. Jaded foi derrubado no chão e arrastado para o SUV capotado. Storm e seus machos moviam-se numa velocidade inumana. Atacavam um homem depois do outro, socando, mordendo e retalhando sem piedade.
Jaded conteve um gemido quando Storm agarrou um homem por trás e o mordeu, arrancando um pedaço do ombro. Em poucos minutos restaram apenas dois atiradores, que ergueram as mãos em rendição.
Ao redor dos três espécies estavam os corpos cobertos de sangue de nove atacantes. Alguns tinham braços retalhados, outros rostos desfigurados ou peitos expondo pele e músculos rasgados. Fora uma carnificina.
Jaded passou para outro vídeo que mostrava ele e Golden sendo retirados de dentro de ambulâncias, as macas disparando para dentro do hospital. Cecilia saiu de outra ambulância sendo amparada por uma paramédica. O vídeo cortou para a entrada de Steel, Fight e Storm, todos cobertos de sangue. A pior cena era de Storm que mostrava sangue em suas presas.
Jaded desligou o celular. Storm estava ao lado dele, tinha se banhado e trocado de roupas.
— Muito ruim?
Jaded fez uma careta.
— Não haverá tintura no cabelo capaz de amenizar essas imagens.
Jaded se referiu a Justice, que clareava os cabelos e a si mesmo, que tingira os seus de louro numa tentativa de parecerem menos ferozes.
— Tivemos de lutar, Jaded.
— Eu sei. E lutaram muito bem. - suspirou. — Justice me disse que estão nos chamando de animais ferozes.
— Essas pessoas não viram que estávamos nos defendendo?
— Ficaram assustados com a nossa força e velocidade.
Storm abaixou a cabeça. O macho estava há oito anos com ele, passara por muita coisa com os grupos de ódio, mas nunca sofrera um ataque tão pesado.
Jaded ligou o celular. Selecionou outro vídeo, esse de pessoas sendo entrevistadas nas ruas das maiores cidades da União Europeia. Muitas pessoas comparavam as Novas Espécies a super-herois, com força sobre-humana, entretanto outras consideravam seu comportamento como selvageria pura. Storm o cutucou.
— Vamos ver o que a televisão diz. - pegou o controle e colocou num canal de notícias.
Uma mulher muito bonita dividia a tela com uma fotografia sua.
— ... é considerado o garoto-propaganda das Novas Espécies e é festejado nos Estados Unidos como uma celebridade. - cenas dele tirando fotografias com misses apareceram. — Por três vezes foi considerado o homem mais bonito do mundo. Sua presença sempre foi muito disputada e chegou a dançar com duas primeiras-damas norte-americanas.- vários momentos seus na Casa Branca passaram na tela. — E então, o mundo viu esse momento. - a cena dele destroçando a garganta de um atacante foi mostrada e pausada no seu rosto, as presas de fora, parecendo o que de fato era, um homem-fera. — Agora sim, Jaded Wild faz jus ao seu sobrenome, mas esse selvagem não parece nada estafado. Será que o sangue trouxe seu lado animal à tona?
A repórter continuou a falar sobre ele. Jaded viu anos e anos de autocontrole escoarem pelo ralo da grande mídia. Suas roupas de grife, seus cabelos deslumbrantes e seu rosto atraente não significavam mais nada. O que ficaria na mente das pessoas era o ser quase sobrenatural e feroz.
Jaded passou a mão no rosto e se encolheu, pois tocou no grande curativo na sua têmpora. Sua pele estava coberta por manchas roxas e, mesmo sabendo que curariam muito rápido, doíam bastante.
— Quando os humanos verem como curo rápido será mais assunto para a imprensa.
— Podemos pegar Golden e sair daqui agora.
— De que adianta? Amanhã participarei da sessão do Parlamento e não haverá um curativo em mim.
Storm o olhou, desconcertado.
— Gostaria que Justice estivesse aqui.
— Ele está vindo.
— Sério?
— Sou um relações públicas, mas Justice é o estrategista.
— Certo.
Jaded olhou novamente o telejornal. Agora passavam cenas de Cecília caminhando ao seu lado.
— Por que não liberaram Cecília para vir aqui?
— Ela foi liberada para ir para casa há duas horas.
— Ela estava bem?
Storm deu-lhe um olhar enviesado.
— Ela não falou com nenhum de nós.
— Não permitiram?
— Ela apenas foi embora.
Jaded franziu as sobrancelhas, lembrando-se do terror no rosto dela. Seria por causa do ataque ou... por causa dele? Ela certamente se assustara quando ele matou um homem.
— Storm, ligue para ela, por favor.
O espécie pegou o telefone celular e teclou no nome de Cecília. Jaded sentiu um aperto no coração, imaginando se ela não estava aborrecida por ele não ter perguntado por ela, afinal Cecília era membro da sua equipe.
E por que não perguntei, se não consegui parar de pensar nela?
— Alô. Eu poderia falar com Cecília Santanna?... Sou Storm Colorado. Trabalho para Jaded Wild... Sim, ele está bem... Não, senhor... Jaded gostaria de falar com Cecília... Eu aguardo. - Storm cobriu o celular com a mão. — Era o pai dela. - ele esperou em silêncio. — Alô? Cecília Santanna?... Sim.Tenho poucos ferimentos... Obrigado... Vou te passar para Jaded. - Storm estendeu o telefone para ele.
Jaded o pegou e pigarreou, limpando a garganta.
— Senhorita, como está?
— Eu... Acho que estou bem.
A voz dela o aqueceu.
— Perdoe por não tê-la acompanhado no hospital. Os médicos não me liberaram.
Ela fez silêncio por um instante.
— Desculpe não ter avisado que eu saí.
— Eu esperei que viesse me ver. - Jaded se surpreendeu pelo que disse. — Quero dizer, pensei que se reportaria a mim... Não, eu não esperava um relatório nem nada. Só... só esperei que viesse... Para ver se estava bem, claro.
— Eu não estou machucada.
— Mas está bem com... tudo o que aconteceu? - Cecília não respondeu, porém ele ouviu um suspiro. — Eu entendo que deva estar assustada.
— Sim...
Jaded quis perguntar se com o ataque ou com a fúria das Novas Espécies.
— Se preferir, fique em casa amanhã.
— Obrigada, senhor Wild.
Aquela não era a resposta que ele queria ouvir, mas sabia que os humanos eram muito sensíveis.
— Descanse o tempo que precisar. Eu posso pedir a ajuda da senhora Theroux.
— O senhor voltará ao trabalho amanhã? - ela perguntou, parecendo surpresa.
— Devo voltar ao escritório hoje.
— Oh... Talvez eu... talvez eu deva ir...
— Não, descanse.
— Tem certeza?
— Tenho, sim.
— Então, está bem.
Jaded queria saber mais dela, entretanto Cecília não deu espaço para isso.
— Até logo, senhorita.
— Até logo, senhor Wild.
Ele desligou e devolveu o celular para Storm. O macho o encarou.
— Acha que ela voltará?
— Para cá?
— Para a secretaria, Jaded.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Nós a assustamos?
— Não é nisso que estou pensando. Acho que os humanos perceberam que é muito perigoso trabalhar para nós.
— É possível.
Jaded tornou a acompanhar o telejornal. Não sabia o porque, mas perder Aada, Paollo ou Didier não o incomodava tanto quanto perder Cecília. Tentou se convencer de que era porque ela era uma profissional altamente qualificada. Ele não poderia estar com outro pensamento, poderia?
Afundou-se nos travesseiros e assistiu-se mais uma vez a matar um ser humano à vista de todos.
![](https://img.wattpad.com/cover/344843356-288-k437586.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jaded: Uma história Novas Espécies 3
FanfictionJaded é um produto de manipulação genética. Pertence à ONE - Organização das Novas Espécies- um grupo de humanos geneticamente alterados por uma indústria farmacêutica. Ele passou grande parte da vida aprisionado, servindo como cobaia para experimen...