Desobediência

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Não tive coragem de abrir os olhos, não tive coragem de ver o que havia acontecido logo após aquele tiro. As possibilidades do que veria eram muitas e de grandes chances, abri meu olhos sem olhar para frente, minha respiração era pesada fazendo o ar ter dificuldade para entrar e sair de meus pulmões. Meus olhos estavam encharcados de tantas lágrimas de medo e preocupação, de certa forma, pude me lembrar que não estaria passando por aquilo se não tivesse ido até os meninos naquela noite. Não havia gostado de Tom logo de cara, ele era insignificante, mas me via com sentimentos por ele. Desejava sua morte, no entanto isso mudou, agora desejava que ele me tirasse daquela situação agonizante e torturante. Pressionei as mãos em meu rosto choroso e desesperado, me virando lentamente para frente sem abrir os olhos. Aceitei que deveria olhar, ou morreria e jamais saberia o que havia sido feito logo após aquele estrondoso barulho.

Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, ainda reciosa separei meus dedos trêmulos e nervosos um pouco, me permitindo ver e observar o aconteceu. Minha visão estava embaçada e distorcida graças ao acúmulo de lágrimas em meus olhos castanhos, esfreguei meus olhos com os dedos e pisquei algumas vezes. Pude ver, claramente, Tom estava denifinitivamente vivo e...bem?
Ele ainda tinha a arma na cabeça da japonesa de vermelho, ela estava sem sua arma, graças a Bill que tinha uma ótima mira. Sorri aliviada, porém ainda sentia medo, podia acontecer algo em seguida. Segurei a arma em minha mão mesmo sem saber usá-la, pude me lembrar das vezes que vi Tom usando armas em minha frente, copiei suas ações e engatilhei a arma. Era uma tentação me manter dentro do carro, vendo eles trocarem palavras e olhares enquanto suas armas continuavam apontadas a um fixo ponto, todos tinham seus dedos ao gatilho podendo puxá-lo a qualquer hora. O instrumento que poderia causar o assassino em minha mão era pesado, mas tinha força o suficiente para mantê-lo. A japonesa parecia ser boa em jogos de palavras, ela falava calma enquanto sua arma beijada estava ao chão, a arma de Tom e a arma de Bill eram fixas em sua cabeça pequena e mal pintada. Confesso que mesmo parecendo uma palhaçada, ela ainda dava calafrios em mim, meu medo não era dela, porém do que ela poderia fazer. Excitei em sair, mesmo sentindo que deveria ficar no carro. Dentro do carro de Tom que estava trancado, procurava o botão de destranca-lo, podia ouvir a conversa deles fora do carro com dificuldade, a japonesa sabia falar;
"Nem tudo acaba assim Tommy" Ela afirmava com seu sorriso maléfico no rosto.

A forma como disse "Tommy" me deu nojo, a única que poderia ter vindo usar esse apelido nojento era Hanne. A própria, e morta Hanne.

Destranquei o carro pois havia encontrado o botão, estava cansada e com medo, mas ainda assim enfrentaria a mulher mais fina que já havia visto em minha vida. Os olhares se voltaram para mim, quando sai do carro, Tom me olhava confuso e com um pouco de raiva de tê-lo desobedecido. A japonesa cruzou os braços e revirou os olhos, parecia uma adolescente de ensino médio. Bill me olhou incrédulo, não podia acreditar que eu "queria morrer".

"Eu te disse pra ficar no carro!" Tom reclamou, ele me olhava irritado tirando sua atenção da japonesa.

Bill tinha seus olhos em mim assim como Tom, ambos haviam perdido sua concentração na perigosa. Apenas virei meus olhos para Tom por alguns segundos, ao me virar para a japonesa novamente, ela tirou uma faca de seus bolsos.

"NÃO!" Gritei para que Tom ficasse alerta novamente, quando vi a japonesa com a faca nas mãos.

Ela havia pego a arma de Tom a colocando no bolso, Tom não pode fazer nada antes que fosse esfaqueado, a japonesa enfiou a faca no abdômen de Tom sendo cruel e a colocando fundo a cada minuto. Tom gemia de dor a cada vez que a faca ficava mais funda, a Japonesa tirou a faca de Tom se afastou um pouco apontando sua arma para mim. Bill deixou sua arma cair, se juntando ao irmão no chão que estava agachado apoiando as mãos no carro.

"Sua...puta" Tom murmurou de dor para a japonesa, ele tinha sua mão pressionando o local em que foi atingido.
Seu sangue escorria muito, manchando toda suas roupas. Sua mão estava ensanguentada tentando estancar o sangramento.

Me amaldiçoei por sair do carro, certamente não deveria ter saído, assim Tom não estaria machucado.
Eu acho...

Apontei a arma que estava em minha mãos em direção a Japonesa, ela parecia surpresa que eu estava com uma arma nas mãos. Tom se levantou ficando fora da mira de minha arma, claramente teria de fazer algo.

"A bonitinha de longos cabelos ruivos sabe mexer com uma arma?" A japonesa debochou, talvez ela soubesse que nunca havia almejado uma arma antes.

As palavras não saiam de minha boca, apenas conseguia derramar lágrimas e segurar a arma em sua direção, com muito ódio. Ignorava Tom jogado ao chão morrendo de hemorragia graças a facada da japonesa, ele estava morrendo ao meu lado, mas preferi focar na mulher. Ele podia morrer, mas eu precisava machucá-la pra mostrar que não deveria ter esfaqueado Tom. Esperava que pudesse protegê-lo como ele me protegia, ele havia me protegido de duas pessoas conectada a ela. Minha vez de proteger ele? Talvez, porém não tinha ideia de como. Bill se afogava em suas lágrimas silenciosas tentando manter seu irmão vivo, Bill queria levar Tom ao hospital, mas seu irmão queria ficar para se certificar que ficaria segura. Me surpreendi que Tom preferia morrer lentamente para me ver e conferir se estava bem, invés de se salvar e me ver segura mais tarde, acho que já devia ter me acostumado.

Puxei o gatilho sem pensar duas vezes, fechei meus olhos por segundos, esses segundos pareciam um grande tempo. Pude sentir a arma se mexer em minha mão, me desequilibrando com o impacto da saída rápida da bala, com os olhos fechados não havia visto nada, estava cansada, com medo e me sentindo uma completa vadia e fracassada. Tom estava morrendo, mas preferia ficar ao meu lado. Apenas queria ir para casa, abraçar Tom e chorar e implorar para que ele me acordasse daquele pesadelo, sempre tive a esperança de que fosse um pesadelo e que logo acordaria. Mas nem tudo são obras imaginárias, meu choque de realidade aconteceu quando fui sequestrada, o corte em meu rosto era uma cicatriz que não sairia nem com o tempo longo, por culpa de Tom estava lá. Deveria culpá-lo, matá-lo, queria estourar sua cabeça a tiros. Algo me impedia, dizendo que seria o único a me proteger, o primeiro a me machucar da pior forma, o primeiro a melhor me proteger.

Meus sentimentos e emoções eram uma grande guerra e confusão, os meros segundos em que fechei meus olhos foram o suficiente para entender toda a minha confusão emocional, aonde estava, e o porquê de estar ali.

E então, abri meus olhos...

𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐎 𝐂𝐀𝐎𝐒 - Tom Kaulitz.Onde histórias criam vida. Descubra agora