E se o resto da vida estivesse a um passo daqui?

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Tenta Acreditar - Anavitoria

Headcanon: Clara conhece a família de Helena (1/4).

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Os nós dos dedos de Helena chegaram a ficar brancos, tamanha era a força com que apertava o volante. Era impossível não ficar remoendo toda aquela situação enquanto esperava Clara descer.

A verdade é que ela tinha passado quase a noite toda em claro e só conseguiu pegar no sono praticamente de manhã. A consciência pesada não a largou por nada a madrugada inteira, por que então faria isso agora?

Nem ela conseguia entender como tinha perdido o controle da situação daquele jeito. Por que não tinha sentado e conversado com a namorada, exposto tudo o que se passava dentro dela e falado tudo o que poderia acontecer no dia seguinte?

Helena até chegou a pegar o celular e digitou uma mensagem gigantesca para a namorada, mas ao ler aquelas palavras se sentiu tão patética — e até mesmo desleal por ter deixado as coisas chegarem àquele ponto — que apagou tudo e desistiu.

Clara merecia olho no olho, uma conversa de verdade e não uma mensagem qualquer porque ela era incapaz de lidar com a própria consciência inundada pela culpa no meio da noite. Ainda mais que uma mensagem não tinha a capacidade de transmitir tudo o que uma conversa ao vivo e a cores tinha, e ela não podia deixar que Clara surtasse sozinha com um milhão de teorias na cabeça do que ela queria dizer, sem saber de fato o que ela disse.

Pensou em chegar mais cedo para que pudessem conversar, mas sabia que não tinha como isso acontecer já que Malu iria com elas. E era exatamente por isso que a culpa estava consumindo cada fibra do seu ser e a cabeça chegava a latejar a cada grito de Maria Luiza:

"Eu não acredito, Lena! Você não podia ter feito isso!" A voz repreensiva da irmã a fez ficar ainda mais nervosa. Se até a desmiolada da Malu tinha achado inaceitável a sua falta de atitude então realmente aquela tinha sido a pior coisa que tinha feito.

Se até Maria Luiza estava contra ela, como Clara não reagiria? Ela teria algo para reagir? Helena contaria a ela? Em que momento? Com a irmã ali no meio das duas? Seria incapaz de falar qualquer coisa e deixaria Clara perdida em meio a todo turbilhão no meio da família quando enfim jogasse aquela história no ventilador? Deixaria para falar entre o almoço e a sobremesa?

Ao adiar o problema, Helena conseguiu a perspicácia de adquirir mais um para sua lista: agora não só tinha que lidar com o fato de Clara não saber o que a esperava, mas com a reação potencialmente caótica da namorada ao descobrir quase que à porta da casa da sogra que ela estava indo mexer com um vespeiro ao invés de cair num campo de rosas acolhedor. Se tivesse resolvido o primeiro problema de uma vez e tivesse sido honesta com Clara, o segundo nunca existiria.

Como que Helena queria cobrar que a namorada falasse com ela, expusesse seus problemas e dialogasse de maneira madura, se ela tinha sido incapaz de seguir o seu próprio conselho?

Helena estava arrependida, completamente arrependida de ter feito aquilo. Não era do seu feitio agir como vinha agindo, mas ela não conseguiu ser diferente naquela situação. Não conseguiu dizer a Clara o que precisava.

"Eu sei, eu sei... Mas toda vez que eu ia falar simplesmente não saía!" Helena tentou justificar o injustificável, sabendo que aquilo era impossível.

Não estava mentindo. Ela até tinha tentado, mas nunca de uma maneira verdadeiramente eficaz. Sempre arrumava uma desculpa para adiar aquela conversa, às vezes não querendo estragar o momento delas, como naquele jantar surpresa tão perfeito que Clara havia preparado no dia em que a pediu em namoro, ou quando estavam vendo "Retrato de uma Jovem em Chamas" juntas — mais perdidas entre beijos do que assistindo o filme com atenção — tentando se convencer que ainda tinha tempo sobrando para aquilo.

Tudo O Que Nunca Tiveram | ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora