E deixar falar a voz do coração

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Um dia de domingo - Lucas Mamede ft. Anavitória ♪

Headcanon: Clara conhece a família de Helena (3/4).

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O quintal de Dona Gisinha, que antes era abafado pelo calor escaldante de Realengo, se tornou gélido e altamente intempestivo depois das palavras ditas por Helena. Era como se aquela agitação alegre e todo aquele entusiasmo diante da grande novidade que era ter Clara naquele almoço, simplesmente tivessem evaporado e então substituídos por uma apreensão perturbadora diante da ameaça que nunca se concretizava: Dona Adalgisa não emitia um som. Não falava nada. Continuava muda.

Seu olhar perdido na mesa improvisada ainda repleta por tudo o que tinha preparado para o almoço e pelas taças de plástico vazias já sem sobremesa, demonstrava sua incapacidade de focar em qualquer outra coisa. Como se ela estivesse tão presa aos próprios pensamentos que todo o resto tinha se tornado insignificante.

Todas prestavam atenção nela e somente nela, e mesmo assim, Dona Adalgisa não se incomodou com os olhares, sequer os percebeu. Até mesmo Helena - que há poucos segundos mal tinha sido capaz de olhar para a mãe - não conseguia tirar os olhos dela.

Já Clara não conseguia se livrar do seu semblante culpado, muito menos disfarçar o desespero que lhe assombrava a alma. Ela se sentiu tão estúpida, mas tão estúpida por ter insistido naquela história e inventado todas aquelas mentiras, que se pudesse se apartar de si mesma, o faria naquele momento. Pensou que se havia tido alguma chance durante todo aquele almoço, ela tinha acabado de escapar pelos seus dedos.

Por que não tinha seguido o que havia combinado com Helena? Por que não tinha tido coragem? Por que era tão medrosa?

Porque experimentar de algo que nunca teve, ou que até havia tido, mas em uma dose infinitamente menor, foi entorpecedor. Bem como uma droga que te vicia e te faz não querer abrir mão dela, mas te impulsiona a sempre desejar mais e mais.

Quem diria que o amor seria a droga mais entorpecente de todas?

Clara, assim como a namorada e as cunhadas, se viu presa à Gisinha, aguardando angustiantemente o seu veredito. Mas aqueles segundos intermináveis de silêncio só a deixavam mais nervosa. Ela tentava entender o que cada traço em seu rosto significava e arriscava ler cada uma de suas linhas, mas infelizmente, falhava em todas as tentativas.

Não conseguia compreendê-la. Talvez, pelo medo de enfim saber o que se passava dentro dela.

Dona Adalgisa parecia completamente atônita, como se estivesse petrificada. Parecia que as palavras que tinha acabado de escutar não tinham feito sentido algum para ela. Como se ela ainda estivesse juntando cada uma das sílabas e tentando assimilar como que aqueles sons proferidos por Helena se uniam e se transformavam em vários conjuntos de letras que significavam algo, que passavam uma mensagem. Como se seu cérebro estivesse com dificuldade de aceitar o que tinha acabado de ouvir.

Vê-la daquele jeito estava fazendo com que o coração de todas elas batesse cada vez mais rápido. De todas, menos o de Catarina.

Dona Adalgisa até tentou falar, mas as palavras simplesmente não saíram. Nada além de um murmúrio confuso escapou de sua boca. Suas sobrancelhas se franziram e Gisinha pareceu voltar à normalidade. Ela desistiu de falar, mas seus olhos passearam até chegarem em Helena. Só aquilo já fez a personal sentir uma espécie de padecimento da alma, como se o que tinha se quebrado dentro dela não tivesse mais reparação e só através daquele momento, daquele olhar, ela tivesse entendido a veracidade disso.

Tudo O Que Nunca Tiveram | ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora