Porque eu te amo - Anavitória ♪
Cena censurada: Clara e Helena se beijam outra vez e bebem vinho (2/5).
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Naquela manhã, Helena acordou um verdadeiro bagaço. Amanheceu no sofá da sala, sentindo um peso no peito, enquanto um barulho ensurdecedor parecia perfurar seus ouvidos, tocando incessantemente, sem nunca dar uma trégua.
Ela bem que tentou abrir os olhos, ainda um tanto presa numa espécie de limbo, mas sentiu uma pontada tão forte na cabeça, uma dor tão aguda e lancinante, que foi impossível ignorá-la e não voltar para a escuridão. Helena resmungou algo ininteligível, e sentiu o rabo de Xadrez resvalando em seu rosto suavemente, percebendo que era ele o que — ou melhor, quem — quase esmagava suas costelas.
Suas mãos migraram para o seu corpinho peludo, fazendo carinho instantaneamente, sem que ela nem precisasse pensar nisso, enquanto o seu cérebro ainda era incapaz de processar que aquele som infernal vinha do seu celular.
Era o seu alarme matinal.
Há muito tempo — talvez quase uma década —, Helena o deixava programado para tocar no volume mais alto possível, porque tinha medo de se atrasar por não ouvi-lo e acabar dormindo mais do que deveria. Isso só tinha acontecido uma vez, quando ela pegou uma gripe terrível e o remédio que tomou a fez dormir por mais de doze horas.
Helena só despertou quando Gisinha foi até a sua casa, se utilizando da sua chave reserva para emergências, porque sua filha não atendia suas ligações desde cedo e ela estava mais do que preocupada. Aquela altura ela já tinha certeza que Helena devia estar morta, que devia ter tido um aneurisma de madrugada, um mau súbito, um ataque cardíaco, ou que aquela gripe diagnosticada no pronto socorro não era gripe coisa nenhuma — porque, na sua concepção, isso era conversa de médico que não sabia dar diagnóstico e falava que tudo era gripe, resfriado ou então uma virose, e passava qualquer besteira porque era um incompetente e só tinha estudado medicina para ganhar dinheiro —, e que sem sombra de dúvidas o seu quadro havia evoluído e culminado na sua morte.
A verdade é que Gisinha tinha um medo terrível de perder suas filhas e, muitas vezes, por ter a mente fértil e uma ansiedade que até a adoecia, ela catastrofizava coisas pequenas, transformando tudo em um grande risco em potencial, e acreditando fielmente nas peças que a sua mente lhe pregava. Tinha um motivo para ela ser assim, e todos sabiam o porquê — até mesmo César —, mas existia uma espécie de acordo não verbalizado, embora eles tivessem total consciência dele, de nunca tocarem nesse assunto com ela.
Então, quando Helena simplesmente não atendeu nenhuma das suas trinta e sete ligações, Dona Adalgisa começou a imaginar os piores cenários possíveis, e até mesmo pensou que a sua filha, tão debilitada do jeito que estava, podia ter se descuidado, tropeçado no meio da varanda e caído do sétimo andar.
Gisinha nunca entendeu por que Helena sempre alugava apartamentos com varanda, qual era o seu fascínio por elas ou por que isso era sempre um pré-requisito ou motivo de desempate entre dois possíveis novos lares. Mas, naquele instante, sentindo até uma dor no peito ao cogitar aquela hipótese, ela pensou que deveria ter feito mais e insistido para que sua filha não alugasse um apartamento tão letal quanto aquele.
Só que, na verdade, o medo de Adalgisa não tinha fundamento algum, já que Helena tinha a varanda inteiramente telada para que sua gata, Nala — a mãe de Xadrez que ainda nem sonhava em tê-lo, mas que era a fiel escudeira e companheira de Helena naquela época —, não tentasse fugir e colocasse em risco uma das suas sete vidas. Mas Gisinha nem se lembrou disso diante de tanta angústia.
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Tudo O Que Nunca Tiveram | Clarena
FanfictionColetânea de cenas censuradas, cenas que aconteceram na minha cabeça e domestic scenes entre Clara e Helena.