Trouxe um capítulo tranquilo com Rafe, dois seguidos.
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── Por que você ainda tá comigo?
Rafe tinha a voz tranquila, quase relaxa de sono e eu o olhei confusa. A pergunta foi tão… aleatória, estávamos apenas curtindo nossa presença após bagunçarmos seus lençóis e em meio ao silêncio sua pergunta ecoou e eu sentei na cama tentando achar uma resposta coerente. Quero dizer, a pergunta em si é interessante, eu não queria mentir falando algo da boca pra fora que ele interpretasse de forma errada.
Por que eu estava com Rafe Cameron?
Existem muitos núcleos nessa simples pergunta. Rafe era completamente fora do normal, ele não conhecia os limites que a vida insistia por, ele em si tinha tantas camadas que o formam que eu quase não conseguia decifrar certamente o que era o que ali. Rafe Cameron era caótico, tinha tantos sentimentos dentro de si que o atormentavam ao mesmo tempo que ele não sabia lidar com isso, a mágoa, rancor, dores e traumas, seus problemas com o pai. Tudo isso o transformou na pessoa extremamente problemática que ele era.
Ele era um grande lunático, possessivo, agressivo ─ na maior parte do tempo ─, drogado em algumas e se ele caminhasse mais um pouco, alcoólatra também estaria na lista. Mimado, explosivo e o príncipe kook que todos respeitavam e odiavam ao mesmo tempo. Esse era ele, por fora. Por características que ele mostrou às pessoas.
Mas também, ele era quebrado, uma criança que precisava ser resgatado, um menino de dezenove anos confuso e com um medo tão grande da rejeição que ele não media esforços para ser aceito, principalmente pelo maior vilão de toda sua vida, Ward Cameron, seu pai. A pessoa que mais atormentou Rafe na vida, primeiro deixando seus filhos de lado por pura preferência e amor pela irmã caçula de Cameron mais velho, a esperança e convicção de Ward que Rafe manteria os negócios da família vivos era um ato de peso, ele queria que o filho seguisse a vida que ele tem, os passos sujos e criminosos dele. Rafe não quer, ele quer se descobrir, se encontrar, ele quer viver em paz com ele mesmo. Mas ele também quer ser o orgulho de seu pai, mostrar a ele que ele vale a pena, que ele consegue deixar Ward feliz com outra coisa, mas isso não é o suficiente, Ward não aceita Rafe. E isso mata o menino de uma forma que respirar para ele é a mesma coisa se afogar.
Como viver em paz com tantos demônios juntos o atormentando em uma única vez? Tantas vozes dizendo coisas diferentes?
Como ter paz quando você está em uma guerra constante consigo mesma e com os outros?
Impossível. Mas de alguma forma estranha, quando eu vi Rafe pela primeira vez, eu não vi e nem ouvi tudo aquilo que as pessoas falavam dele, eu vi o verdadeiro eu que ele exalava, apesar de uma pose bonita e charmosa, sorriso encantador e mostrando ser o rei da festa, algo nele me intrigou e eu não parei até ele me mostrasse todas as suas feridas, eram tantas que eu não consiga curar todas de uma vez. Então, eu amei Rafe Cameron, o menino perdido e que precisava ser salvo dele mesmo.
