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Capítulo 18

            Wei Wuxian

            — Você está tomando chá! — exclamou a Sra. Baoshan, surpresa, na hora do almoço em uma segunda-feira.

— Você nunca toma chá.

            O que eu poderia dizer? O amor nos leva a fazer coisas ridículas.

            — É aquele garoto, não é? — perguntou ela, arqueando uma das sobrancelhas. — Ele é o motivo de você estar agindo como um garotinho bobo toda vez que venho te visitar?

            Continuei tomando o chá.

            Ela deu um sorriso com ar de quem sabe tudo e continuou comendo o sanduíche.

            — Ai, meu Deus! Sei o que quero fazer da minha vida! — gritou Yanli, correndo pela sala de jantar e dando pulinhos enquanto balançava um livro nas mãos.

— Sei o que quero fazer depois que me formar na escola no ano que vem!

            — Bem, desembuche logo — ordenou a Sra. B.

            Yanli parou de balançar o livro e se empertigou, levando o exemplar ao peito.

            — Quero ser ativista.

            Eu e a Sra. Baoshan ficamos surpresos, mas esperamos Yanli terminar a frase.

            — Uma ativista de...? — perguntou a Sra. Baoshan.

        Yanli piscou uma vez.

            — Como assim?

            — Você tem que ser ativista de alguma causa. Questões ambientais ou políticas, direitos humanos ou crueldade contra os animais. Qualquer coisa. Você não pode ser apenas ativista.

            Yanli mordeu o lábio inferior.

            — Sério? Não posso simplesmente ser ativista?

            Nós  negamos com a cabeça.

            — Ah, que merd... hã... quer dizer, que droga. Desculpe, Sra. B. Acho que vou ter que descobrir que tipo de ativista eu quero ser. Argh. Isso parece dar mais trabalho do que eu queria ter.

            Ela saiu da sala bem menos entusiasmada do que quando entrou, o que fez com que eu e a Sra. Baosham ríssemos.

— Juro que os seus pais devem ter servido um pouco de burrice para vocês todos os dias no café da manhã. Fico pasma em ver como são burros. — Ela pegou um sanduíche e estava prestes a dar uma mordida quando perguntou:

— Espere um pouco, Yanli estava segurando um livro?

            Fiz um gesto de assentimento.

            Ela largou o sanduíche e balançou a cabeça.

            — Sabia que o fim do mundo estava próximo. Só não sabia que seria tão rápido.

            Ri e continuei tomando o meu chá.

            Não estava com um gosto tão ruim naquela tarde.

(...)

— Você não está me ouvindo,Changze. Só quero garantir que estamos fazendo a coisa certa — explicou minha mãe mais tarde naquele dia, enquanto meu pai andava de um lado para o outro na sala. Ela tinha uma taça de vinho na mão, e tomou um gole. Eu estava sentada no topo da escada, e Yanli estava ao meu lado.

O silêncio das águas Onde histórias criam vida. Descubra agora