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Capítulo 34

Wei Wuxian

— Isso vai ser o suficiente — afirmou meu pai, trazendo a última caixa do caminhão.

De alguma forma, havíamos voltado no tempo para quando éramos só nós dois em um apartamento pequeno, sonhando com um mundo maior. Só que, dessa vez, havia uma irmã com dreadlocks que não saía do nosso lado.

Naquela noite, Yanli voltou para casa para ficar com a nossa mãe, e eu dormi em um colchão inflável em um dos quartos. Meu pai dormiu no outro quarto, em um colchão igual. Por volta das três da manhã, acordei com um barulho. Eu me levantei, fui nas pontinhas dos pés até a cozinha e encontrei meu pai acordado, preparando um bule de café. Quando ele se virou, teve um sobressalto.

— Minha nossa, Wuxian! Você me assustou!

Dei um sorriso de desculpas e peguei o quadro branco antes de me sentar na bancada.

— Não está conseguindo dormir? — perguntou.

Ouvi você andando pela casa. Está tudo bem?

Ele fez uma careta.

— Achei que fosse para sempre, sabe? — Ele serviu café em duas xícaras e me entregou uma.

— Logo que conheci a Ziyuan, ela era um raio de sol. Tinha uma energia que emanava dela, sabe? Não sei o que aconteceu com o passar dos anos, mas ela começou a mudar. Se tornou mais fria... Fico me perguntando se foi alguma coisa que eu fiz ou algo que eu disse, mas perdi minha mulher há muito tempo. Droga, eu também mudei.

— Eu me convenci de que ela só estava passando por momentos difíceis, que o que aconteceu com você, de alguma forma, aconteceu com ela também. Não diretamente, só uma coisa de causa e efeito. Mas foi piorando a cada dia. A mulher que eu conhecia foi desaparecendo bem diante dos meus olhos. E o homem que eu sabia que eu era também não existe mais.

Você sente falta dela?

Ele passou os dedos na testa.

— Sinto falta de sentir falta dela. A verdade é que parei de sentir saudade da sua mãe até mesmo quando ela estava por perto. Com o tempo, desejei ir embora, mas não queria te apressar. Eu não poderia forçá-la a sair de casa quando você ainda não estava pronta.

Meu coração quase saiu pela boca. Ele só ficou em casa por mim. Ele preferiu se sentir infeliz para me manter em segurança.

Sinto muito por ter feito você ficar.

Ele meneou a cabeça.

— Eu faria tudo de novo em um estalar de dedos.

Nós nos sentamos e tomamos o café fortíssimo em silêncio. Éramos muito bons em ficar assim, quietos, um do lado do outro. Parecia certo. Um pouco antes de eu me levantar para voltar para a cama, ele disse:

— Um professor pediu ao aluno que citasse dois pronomes. O que o aluno respondeu?

Sorri ao ouvir a charada e respondi: quem, eu?

Ele deu uma risadinha.

— Isso mesmo.

Enquanto seguia para o quarto, ele se virou para mim e disse a verdade que não queria assumir para si mesmo:

— Sinto falta dela.

Apesar das brigas — e do sofrimento —, ele ainda a amava. Esse era o problema do amor. Ele não ia embora porque você o mandava ir. Ele simplesmente ficava quietinho, sangrando, rezando para que você não o deixasse partir.

(....)

— Ele ainda não desfez as malas — comentou Yanli na sala.

Meu pai estava na cozinha tomando outra xícara de café. Já fazia uma semana que havíamos nos mudado para o apartamento novo, mas o quarto dele ainda estava cheio de caixas.

O silêncio das águas Onde histórias criam vida. Descubra agora