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Parte dois

Capítulo 7

        Wei Wuxian

            15 de março de 2016 — Dezoito anos de idade.

            Meus pais nunca mais dançaram.

            Nos últimos oito anos, notei muitas mudanças entre os dois, mas essa foi a mais triste de todas. Eles ainda se abraçavam de manhã, e meu pai beijava a testa da minha mãe todos os dias antes de ir trabalhar na universidade. Ao seguir para a porta, ele sempre dizia “eu amo”, e minha mãe completava a frase com “você”.

            Eles ainda se amavam, mas nunca mais dançaram.

            Geralmente, à noite, minha mãe passava um tempo ao telefone, falando com as suas melhores amigas da faculdade sobre mim, sobre os terapeutas, artigos on-line ou as contas. Meu pai se sentava na sala, corrigindo os trabalhos dos alunos da faculdade ou assistindo a The Big Bang Theory.

            Há alguns anos, ele colocava a música do casamento, mas ela estava cansada demais para dançar com ele.

            — Quer dançar comigo? — convidava meu pai.

            — Hoje não. Estou com dor de cabeça, Changze — respondia ela.

            Minha mãe nunca percebia nada, mas eu sempre via como o meu pai franzia a cenho quando ela se afastava.

            — Eu amo... — começava ele, olhando para as costas dela.

            — ...Você — completava ela, conforme a rotina.

            Quando erguia os olhos e me via no topo da escada, ela também franzia a testa. Minha mãe sempre olhava para mim daquele jeito, como se eu fosse uma rachadura no porta-retratos com a foto da família.

            — Vá para a cama, Wei Wuxian. Você tem que acordar cedo para ir à escola.

            Às vezes, ela ficava ali parada, me olhando, esperando por algum tipo de resposta. Quando não recebia nenhuma, ela suspirava e se afastava, mais cansada do que antes.

            Era difícil saber o quanto eu a deixava exausta.

            Era mais difícil ainda saber o quanto eu me deixava exausto.

            — Tudo bem, filho? — perguntou meu pai da porta do quarto.

            Sorri.

            — Que bom. — Ele passou a mão pela barba, que agora estava repleta de fios brancos.

— Hora das piadas? — perguntou.

            Meu pai era um nerd. Era professor de inglês na Yunmeng University e sabia mais sobre literatura do que qualquer um, mas seu verdadeiro talento era conhecer as piores piadas do mundo. Toda noite ele contava uma.

            — Que autor o Harry Potter lê quando está doente?

— Ele batucou com as mãos nas pernas, como se estivesse rufando os tambores, e então gritou:

— Saramago!

            Revirei os olhos, mesmo sendo a coisa mais engraçada que já ouvi.

            Ele veio até mim e me deu um beijo na testa.

            — Boa noite, Wuxian. As batidas do seu coração fazem o mundo continuar girando.

(...)

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