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Capítulo 36

Wei Wuxian

Eu não ia embora, e isso o deixou enfurecido.

A cada dia que passava, eu recebia duas versões diferentes de Lan Wangji . A primeira era silenciosa, passava por mim sem dizer nada. Ao longo de todos esses anos, ele nunca tinha feito com que eu me sentisse invisível, até eu vir para a cabana.

A segunda versão era o Wangji bêbado, grosseiro e idiota. Era um lado dele que eu não sabia que existia. Muitas vezes ele chegava em casa cambaleando de tão bêbado e me dizia o quanto eu era patético, que eu deveria seguir em frente, porque a gente nunca ia ficar junto. A gente nunca ia ter um futuro juntos.

— Olha para você. Está sentado aqui, esperando por mim. Qual é o seu problema? — zombou ele, as palavras engroladas, depois de cambalear até a minha porta às três da manhã.

— Pare de se constranger, Wei Wuxian. Isso não vai acontecer. Você não tem uma lista para se dedicar? — Ele abafou o riso e bateu com as costas na parede.

— Ou está com medinho de fazer as coisas sozinho?

Eram nessas noites que eu mais sentia vontade de ir embora. Que eu sentia vontade de jogar a toalha e deixar ele sozinho com o seu sofrimento.

Mas, então, eu segurava o pingente de âncora e me lembrava de todas as vezes que ele continuou ao meu lado.

À noite, eu tomava banho, afundava na água e me forçava a lembrar: esse não é ele. Esse não é ele. Esse não é o meu amor...

Se eu me afastasse dele quando as coisas ficassem difíceis, o que isso diria a meu respeito? Como eu poderia me perdoar se a mente dele ficasse tão sombria a ponto de ele procurar uma fuga? Nos dias que mais precisei, ele sempre ficou ao meu lado, e eu devia o mesmo a ele.

Amar alguém não significava estar junto só nos dias ensolarados. Significava permanecer ao lado da pessoa durante as noites de tempestade também.

Ele não amava mais a pessoa que via no espelho. Não enxergava mais a pessoa divertida, charmosa e engraçada que ele era. Wangji não ria mais, e eu me esforçava para me lembrar da última vez que ele sorriu.

O meu trabalho era fazer ele se lembrar disso.

Era ser a sua âncora.

Eu precisava ficar e amá-lo.

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Quando Wangji estava em seus piores dias, eu precisava me afastar. Ia à cidade e explorava as lojinhas, mesmo assim, não sabia o quanto isso seria difícil para mim. A minha mente estava sempre atenta, me alertando sobre os perigos do mundo. A ideia de não saber o que poderia estar na próxima esquina me aterrorizava.

Quando um homem esbarrou em mim sem querer, tropecei e cai no chão, encolhido de medo. Ele se desculpou diversas vezes e tentou me ajudar a levantar, mas eu estava constrangido demais para deixá-lo fazer isso.

Como eu não podia voltar para a cabana, ia para o lugar que me lembrava de casa: a biblioteca. Eu ia lá todos os dias e me sentava em um canto para ler e afastar a mente do mundo. A Sra. Henderson sempre vinha me ver e me dava um chocolate, além de uma piscadela.

— Não é permitido comer na biblioteca, mas já que você é tão bom em se camuflar, acho que posso deixar passar.

Obrigado, escrevi.

— De nada. — Ela puxou outra cadeira e parou. — Você gostaria de um pouco de companhia hoje?

Fiz um gesto para que ela se sentasse. Qualquer pessoa que me desse chocolate todos os dias podia se sentar comigo.

O silêncio das águas Onde histórias criam vida. Descubra agora