Bianchi desejou estar no Rio, mas estava em São Paulo, entrando no carro que tinha acabado de alugar, e ao mesmo tempo respirando fundo para não perder o seu réu primário.
Já era madrugada quando ela deu partida no carro, e saiu pelas ruas desertas. Seu destino era sua cidade onde tinha passado boa parte de sua vida, e ter que encarar aquilo era cruel demais.
Ela ligou o rádio na tentativa frustrada de não ter que lidar com seus pensamentos, mas era inútil, já que seu gosto musical era limitado demais. Ali não existia nenhum 30 Seconds To Mars, Nickelback ou Bullet for my valentine para evitar que as lembranças surgensem furtivamente.E em um gesto rápido ela desligou o rádio ao ver que teria que enfrentar Adele cantando sobre o que poderia ter tido, e o coração na palma da mão.
O silêncio da rodovia era ensurdecedor, só existia os faróis do carro alugado, e por isso Bianchi não se importou em acelerar, sabia que existia radar por ali, mas ela necessitava de sentir aquela adrenalina pulsando em sua veia para se sentir mais viva.Beatriz percebeu ter errado o caminho, quando o seu GPS começou a recalcular a rota, em outra situações ela teria rido e Mateus ainda mais, e pensar em seu menino tão longe fazia com que seu coração remendado se quebrasse novamente.
Ela parou no acostamento, e da janela do carro ela observou o céu, e se lembrou de um livro lido que dizia que as estrelas ouviam os desejos e os realizavam.
Tinha sido o certo ter voltado àquele lugar?
O mundo pareceu desacelerar quando Beatriz fechou os olhos. E tentou se concentrar no sons das árvores ao invés de focar em seus pensamentos. A verdade era que Bianchi não entendia como as pessoas conseguiam se perder em suas reflexões e ainda considerar igual a um paraíso.Como que isso poderia ser o paraíso? Sendo que havia dor demais ali.
Foi no instante que o GPS encontrou uma nova rota, que Beatriz arrumou coragem dos céus para continuar sua viagem.
(...)
Beatriz estacionou o carro alugado na vaga vazia, que antigamente costumava ser sua. Ao descer do carro, avistou Simone vindo em sua direção.E novamente seus olhos se encheram de água.
Aquela era a história da sua vida. Tinha sido deixada à porta da casa de sua avó junto com o seu único porto seguro, sua irmã. Naquela época, Beatriz sussurrava para as estrelas, desejando que sua vida melhorasse. Mas de fato aquele sonho só tinha sido realizado dois anos depois de ser deixada aos cuidados da sua avó, quando Bruna conheceu Miguel.E talvez, tenha sido uma das melhores épocas da sua vida.
Depois de casada, Bruna e Miguel não tinham dinheiro para nada, e os pais de Miguel de bom grado ofereceram a casa do fundo a deles para morarem, e Bruna não hesitou em levar sua irmã mais nova consigo.
Pela primeira vez na vida, Beatriz finalmente sentia que tinha uma família, e ela desejava que isso fosse eterno.
No dia em que recebeu aquela bendita ligação, Bianchi correu até a porta dos pais de Miguel, e bateu incessantemente, e mesmo com a respiração ofegante e o choro contínuo, ela deu a notícia.
Beatriz jamais esqueceria da reação de Simone, pois tinha sido a coisa mais aterrorizante que tinha visto em sua vida.
E por isso naquele instante, a advogada não conseguiu evitar de chorar assim que a mãe do Miguel a abraçou.
Francamente, Bianchi não conseguiria viver com a ideia de que o grave acidente era uma farsa para cobrir o assasinato de sua irmã e seu cunhado.
— Eu não sei se consigo mais, mãe — Ela se aconchegou no abraço de Simone — fiz uma parte de mim acreditar que eles não tinham sofrido. Não aguento passar por isso de novo.
A verdade era que aquela família nunca mais tinha sido a mesma, mas Simone e Antonio com o tempo e em uma forma de suavizar aquela dor, começaram a tratar Beatriz como uma filha, e a jovem advogada, que até então nunca tinha experimentado daquele amor, percebeu que era bom.
— Você não está sozinha, filha — Simone secou as lágrimas da loira — Ontem no telefone, eu te falei que jamais pisaria meus pés naquele lugar, mas se isso for importante para você, eu e seu pai estaremos do seu lado, como sempre estivemos.
— É que eu já nem sei mais o que eu quero fazer.
— Sabe sim, meu amor — Beatriz se pôs a observar aqueles olhos castanhos inundados de lágrimas de sua mãe — é que o coração sempre leva mais tempo para entender aquilo que a mente já sabia.
Beatriz sabia que, por mais estilhaçado o coração de sua mãe, Simone permanecia forte por ela.
— Eu não quero ir amanhã, não sei se consigo acompanhar essa investigação e... — Bianchi respirou fundo, pois não desejava concluir aquela frase — mas eu não sei se a Bruna ficaria orgulhosa de mim, virando as costas para isso.
— Também não sei o que o Miguel acharia disso — Simone segurou a mão de Beatriz — mas eles ficaram orgulhosos da gente, que criamos coragem para seguir em frente. Principalmente você, filha, que está cuidando e educando o nosso Mateus de uma maneira tão linda, e isso era o que eles mais desejavam.
Um singelo sorriso surgiu no rosto de Beatriz ao se lembrar de todas as vezes que Bruna ia sair e pedia para ela cuidar da razão de sua vida.
— Você tá certa, mãe.
— Vamos terminar de conversar lá dentro, enquanto eu faço um chá para você.
A advogada concordou, e em silêncio seguiu sua mãe para dentro da casa. Apesar das fases ruins que ela tinha passado naquele lugar, a nostalgia lhe invadiu a mente pois naquele instante ela só conseguia lembrar-se das diversas gargalhadas debochadas que ela e Bruna costumavam dar, assim como todos os momentos vividos com Mateus ali.
E ali ela entendeu que embora a dor não conhecesse regras, a loira aprendeu a lidar do jeito mais difícil com isso, e talvez em partes isso era bom.
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NOTAS DA AUTORAA minha história com o Corinthians começou bem antes de eu entender o que era o futebol. De repente eu ganhava, do meu irmão, a minha primeira camisa do Corinthians, aquela que o patrocínio era da Kalunga. Quando eu entendi o que era o futebol e o Corinthians, tudo fez mais sentido. Lembro que minha mãe dia toda vez que aparecia uma derrota do Corinthians no Globo esporte, e eu ficava brava. Assim como recordo do meu tio me convidar para entrar com algum jogador do São Paulo, e no mesmo instante eu recusar, pois eu sou corintiana!! Mas o que marcou mesmo foi aquele domingo de manhã do dia 16 de dezembro de 2012, meu irmão batia na parede e meu pai pulava de alegria. Não é só o futebol, vai muito além disso.
E apesar do meu estresse diário, tristeza e revolta, meu amor por esse time não tem um limite.
"Não sou corintiano de coração, porque um dia ele para. Sou corintiano de alma, porque ela é eterna." — Dr osmar de oliveira.
Feliz 113 anos Corinthians!!
VAI CORINTHIANS!!!!
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SORTE NO AMOR | Gabriel Barbosa
RomanceBeatriz não tinha sequer hesitado em assinar o contrato que mudaria a sua vida. Sempre sonhou em ser advogada de um grande time, mesmo sendo um dos quais ela odiava, o Flamengo. A loira se sentiria completa, se não fosse pelo fantasma de seu passado...