— Já chegamos? — Sophie perguntava a Malcon pela centésima vez.
— Não. — O rapaz respondeu de forma seca.
— Ahm? Do que está falando? Acabamos de chegar. — Cecília disse, confusa.
— Não vou a dar o prazer de ouvir isso saindo da minha boca, me recuso a incentivar essas perguntas irritantes.
— Você é muito inflexível, até parece que não aprontava quando criança. — A loira comentou, enquanto pegava sua bagagem e se preparava para sair.
— Acho que o Malcon nunca foi uma criança, ele deve ter nascido um adulto bem pequeninho, já de terno, e só foi esticando com o tempo. — Sophie zombou, embora sua parte imaginativa estivesse de fato considerando isso, enquanto seu lado curioso ficava aguçado ao pensar em Malcon mais jovem.
— Viu só o que a sua falta de profissionalismo causa na mente dessa criança? Não consigo fazer com que ela se livre da sua mania irritante de me chamar pelo primeiro nome. — Malcon disse a Cecília, em tom de reclamação, logo em seguida se virando novamente para Sophie. — E para a sua informação, senhorita, eu já fui sim uma criança normal. Na verdade, eu era infinitamente pior do que você, por isso mesmo digo que ainda tem salvação.
— PIOR??? — As duas perguntaram, incrédulas e curiosas.
— Sim. Acreditem se quiserem, mas eu não tenho o melhor dos passados. Gosto de ignorar essa época, mas admito que visitar a capital trás essas lembranças a tona. Não posso dizer que fiquei triste quando George decidiu diminuir a frequência das viagens.
— Eu não acredito!!! — Cecília começou a dizer em êxtase. — Malcon, Malcon Simons, era um desordenado? Preciso de detalhes!!!
— Srta. Bertha, já lhe disse que o que te mata é a língua? — Simons questionou, enquanto tirava as últimas bagagens da carruagem.
— Conte logo, Malcon! — Sophie exigiu.
— Querem saber? Essas lembranças vão tomar conta da minha mente de uma forma ou de outra mesmo, talvez faça bem as colocar para fora. Mas tem uma condição...
— Qualquer coisa! — As duas responderam, sem nem pensar.
— Terão de ter modos durante toda a nossa estádia no Rio. Isso significava nada de correr nas escadas, de me provocar, de sair perambulando por aí, nem de me chamar pelo primeiro nome.
As duas se encararam, hesitantes, e logo em seguida concordaram com relutância.
— Ótimo, comecem pegando ao menos uma das suas malas e se apressando para não perdermos o trem.
Bem, ao menos essa parte não seria difícil para Sophie. Afinal, mesmo com os presentes que ganhou, continuava só precisando de uma mala, embora essa fosse muito melhor do que a mala velha com a qual chegou. Mas não se sentia inferior por isso, ao invés de uma mala acabada levando poucos itens que representavam o pouco que Sophie tinha no mundo, agora tinha uma linda mala cheia de mimos que a lembrava de que tinha amigos que se esforçavam para lhe fazer agrados.
Como um conjunto de luvas de seda que Malcon a deu, embora suspeitasse que ele só fez isso para que soubesse quando ela havia se sujado e pudesse a repreender. Além da escova de carvalho branco que Cecília a deu, e com o qual escovava seu cabelo todos os dias, após aplicar uma fórmula de hidratação no cabelo da menina. Ela percebia o desagrado de Sophie quanto a sua aparência, e estava trabalhando para cuidar do cabelo desajeitado da menina, enquanto Malcon moldava as refeições para a ajudar a ganhar massa, e George dava preferência a tarefas ao ar livre para ela, esperando que ajudasse a se livrar da pele pálida.
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INALCANÇÁVEL
RandomO mundo é um lugar tediosamente frio e cruel. Não é de se surpreender que tantas pessoas decidam dar as costas para ele e se enfiar em uma muralha. Mas, como nossos protagonistas irão aprender ao longo dessa história, mesmo a maior muralha de pedra...