INTRODUÇÃO

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Para os leitores...

Se até um relógio quebrado precisa acertar a hora duas vezes, então não me surpreendo em saber que até as almas mais soturnas, das que preferem banhar sua criatividade no mar da melancolia, a impregnando de dramas e dilemas com respostas precocemente condenadas a uma natureza sádica, ainda tem seus momentos de delírios harmoniosos e buscas de finais felizes.

É por isso que hoje, bem aqui, nesse canto tão inóspito e semideserto do vale reservado as minhas criações, eu entrego não uma jornada incansável e infrutífera, muito menos um grande e desolador mistério. Não encontrarão esperanças destruídas aqui, e por mais que nessa história vaguem almas perdidas, garanto que a todas está reservado um caminho para a luz.

Entrego minha simpatia a aqueles que apreciam o manto de insensibilidade e sarcasmo que eu visto em tantas obras, como o mais fascinante e insano dos narradores. Porém aqui, nessa rara e frágil excessão, me vi tomado por uma nova musa, uma que não tinha a mórbida pele pálida ou os fascinantes cabelos negros. Não lhes entrego o tormento de sempre e sim a esperança de nunca, pois minha musa é, de forma inexplicável, não uma criatura voraz de essência perdida, mas sim uma ninfa de curiosidade infantil indestrutível.

Sei que minhas ríspidas palavras, amoladas para formar as mais sanguinárias das frases, e que minhas gélidas mãos, acostumadas a descrever os mais intensos e profundos sentimentos, nem de longe são os melhores instrumentos para criar o ambiente acolhedor que essa ninfa merece. Por isso reconheço que, ainda agora, minha criação vaga seminua e inacabada, com sua natureza crua exposta para qualquer olhar curioso.

Apenas peço compreensão e gentileza, que assim como eu, se permitam abandonar temporariamente as amarguras da vida, e que aqui, nesse projeto tão rude e desajeitado, vislumbrem essa pequena peça com uma mente nutrida apenas com pensamentos primordiais. Aqueles que não foram ainda contaminados com a imundície do mundo, e que por isso aceitam a inocência da infância com os braços abertos.

Me desculpo novamente com aqueles que desejam apenas presenciar minha natureza sádica, mas aqui, tudo o que encontrarão é um mundo simples, um mundo de dilemas compreensíveis e problemas passageiros, um mundo onde crianças podem ser crianças.

Dedicatória: Para todos os rabugentos, levemente insensíveis, grosseiros, pouco românticos e de cabeça dura, que no fundo têm um coração mole. Afinal, precisamos de mais histórias que contem o nosso lado.

*Todos os locais e personagens citados aqui são fictícios.

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