— Sophie! — Cecília exclamou aliviada, envolvendo a criança em seus braços e acariciando seu cabelo rebelde.
— O que veio fazer aqui? — Simons perguntou em tom de repreensão, embora seu tom de voz mais manso deixasse transparecer seu alívio.
— E-eu, eu achei melhor voltar para casa. — Sophie disse, sua voz vacilando um pouco, mas se manteve firme em sua posição.
— Quem é? — Tia Adelaide perguntou, surgindo atrás de Sophie na porta.
— Sou o responsável por essa menina e vim levá-la de volta. — George declarou, ainda confuso com a posição de Sophie.
— Você não disse que a Sra. Peres havia te liberado? — Adelaide perguntou para a criança em tom de acusação.
— Bem, acho que ela esqueceu de citar o fato de que eu a coloquei sobre meus cuidados. — George disse.
— Você quer me fazer ser presa menina, é isso? Sabia que estava aprontando alguma coisa quando apareceu aqui daquele jeito. — Adelaide disse, parecendo estar realmente ofendida com a omissão de Sophie.
— Mas o que diabos você veio fazer aqui? — George perguntou enfim.
— Senhor... Desculpe-me por não ter avisado sobre minha partida, mas eu não podia continuar tomando o seu tempo com os meus problemas e nem negligenciando as minhas obrigações. Está claro para mim que o senhor só me mantém no meu cargo por pena, mas mesmo sendo pobre e louca, eu sei trabalhar e não necessito de caridade. Por isso decidi voltar para casa e não incomodar mais.
— Sophie, você escutou os absurdos que disse? — George perguntou, incrédulo.
— Pode considerar absurdo, mas vou manter meu posicionamento. — Sophie declarou, e antes que George pudesse protestar, a menina o rendeu em um abraço. — Eu realmente agradeço pelos últimos dois meses, por ter me deixado explorar uma mansão tão antiga, estudar em um palácio, usar vestidos caros e conhecer pessoas tão gentis. Agradeço principalmente por ter me feito acreditar, mesmo que só por um momento, que uma vida tão incrível quanto aquela pudesse ser minha. Não sei quanto ao senhor, mas eu realmente o considero como um amigo e mesmo não podendo aceitar o emprego eu espero que possamos nos ver sempre que vier ao Rio. Vou me lembrar de todas as suas gentilezas quando me sentir para baixo e de todos os amigos que fiz em Santa Marianna. — a criança proferiu aquele discurso com uma sinceridade inquestionável, seus enormes olhos negros tremiam de tristeza e de uma saudade precipitada dos amigos que ainda estavam a sua frente, fazendo parecer que aquela cena realmente era uma despedida épica de uma história que ainda tinha muito a oferecer, mas estava sendo encurtada por um autor preguiçoso.
— Chefinho, o senhor não vai dizer nada? Acabe já com esse devaneio infantil e coloque juízo na cabeça dessa menina! — Cecília ordenou ao patrão.
— E o que sugere que eu faça? Obrigue a Sophie a aceitar o emprego?
— Não pode estar considerando deixar as coisas assim, arraste ela para casa se for preciso! Se o senhor não fizer, eu faço. — Malcon declarou de forma emotiva e logo Sophie o abraçou da mesma forma que havia feito com George.
— Não se preocupe. Em nome da nossa amizade, eu juro que vou chamar a todos de senhor e senhora, vou parar de esbarrar tanto nas pessoas, não vou correr nas escadas e nem fazer caretas, mesmo quando não tiver ninguém olhando. — Sophie prometeu com um olhar decidido e melancólico.
— Senhor, faça alguma coisa! Aconselhe esse criança. — Malcon exigiu, segurando as lágrimas, assustado pela seriedade de Sophie em suas palavras.
— Acontece que a Srta. Tamires não está tão errada, na verdade eu já estava considerando a demitir. — George declarou, e embora Sophie soubesse que era um estorvo, dois ver o Sr. George admitir isso em voz alta. — Sabe, acho que as suas habilidades poderiam ser melhor aproveitadas em um outro cargo. — ele continuou a dizer. — Por acaso você voltou para o seu antigo emprego?
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INALCANÇÁVEL
AcakO mundo é um lugar tediosamente frio e cruel. Não é de se surpreender que tantas pessoas decidam dar as costas para ele e se enfiar em uma muralha. Mas, como nossos protagonistas irão aprender ao longo dessa história, mesmo a maior muralha de pedra...