Não estava nos planos de George ter voltar para a capital tão cedo, mas seu desgosto por viagens definitivamente não superava o seu compromisso com suas obrigações. Chegava a ser nauseante ver sua casa tão tumultuada, com todos pareciam estar atolados de afazeres, havia sempre alguém correndo para cima ou para baixo nas escadarias, levando coisas para um lado e para o outro, preparando a casa para as férias de verão adiantadas. Móveis tinham de ser cobertos, flores tinham de ser jogadas foras e uma última limpeza completa tinha de ser feita em todos os cômodos antes da partida.
George mal havia descansado o bastante da festa de aniversário de Cecília e agora estava tendo de lidar com isso. Definitivamente todas as suas poucas habilidades sociais haviam sido drenadas.
— Tem certeza que deseja ir sozinho? — Malcon questionou a seu patrão, enquanto cobria os móveis com lençóis, para evitar que acumulassem poeira.
— Se dependesse de mim, eu esperaria para irmos juntos. Mas Gregory precisa de ajuda o quanto antes e só sobrou uma passagem para hoje. — George explicou, em um tom cansado.
Seu irmão sempre foi um tanto frágil, muito propício a adoecer. Apesar de ter direito a todas as propriedades da família, por ser o filho mais velho, ele decidiu que seria justo ceder duas casas para seu irmão e algumas terras. Mas as coisas estavam difíceis na lavoura, por conta das chuvas que estavam vindo muito mais intensas. Para piorar, Gregory havia sofrido um acidente de carruagem justo enquanto percorria uma zona rural, que além de o levar a ferir sua perna também o fez ficar mais de duas horas embaixo de uma tempestade esperando a ajuda chegar. Agora ele estava machucado e resfriado, e George precisava o ajudar com a administração das terras para que dezenas de pessoas não perdessem seu sustento.
[...]
Enquanto se aconchegava em seu assento e observava a chuva cair, George começou a refletir sobre como mesmo visitando sua família com frequência, sempre parecesse fazer anos que não pisava na capital. Talvez porque a versão de si que costumava passar as férias ali, já tivesse desaparecido a tempos.
Realmente, parecia fazer séculos que deixou de ser aquele homem empolgado para ir a festas e rever seus amigos.
[...]
1889
Rio de Janeiro— Ainda acho que eu deveria usar algo mais claro. Esse vestido não vai chamar atenção em um lugar pouco iluminado. — Camilly disse, enquanto observava a mansão onde ocorreria a festa pela janela da carruagem. Era hilário a ver reclamar de suas roupas, as vezes realmente parecia que ela não notsva o quanto já chamava atenção naturalmente.
Victor era um colega de infância de George, já havia se tornado uma tradição ir a uma festa dele durante as férias. Era bom tirar uma noite para relaxar e se desprender do fato de ser um homem de quase trinta anos, que tinha de honrar o nome de sua família. Sempre que vinha reencontrar seus amigos, ele voltava a ser apenas o George.
— Olha só, duas garotas lindas de uma vez? Isso é que é estar em boa companhia. — Victor brincou, enquanto cumprimentava George com um aperto de mão. Lançando um sorriso furtivo para Camilly e Amélia.
— Essa é a minha irmã. Você realmente não se lembra dela?
— Amélia? Agora eu entendi o porque das mulheres te perseguirem. Não fazia ideia de que a sua versão feminina seria tão atraente. — Victor disse, com sarcasmo.
— Não banque o espertinho. Ela pode não ser mais a criança com a qual estava acostumado, mas ainda é uma pirralha. — George brincou, e Amélia respondeu com uma cotovelada de leve.
— Bem, se você trouxe a sua irmã, então imagino que essa loira não seja sua amante. — Victor disse.
— Então ele costuma trazer muitas acompanhantes para essas festas? — Camilly perguntou, com ciúmes.
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INALCANÇÁVEL
DiversosO mundo é um lugar tediosamente frio e cruel. Não é de se surpreender que tantas pessoas decidam dar as costas para ele e se enfiar em uma muralha. Mas, como nossos protagonistas irão aprender ao longo dessa história, mesmo a maior muralha de pedra...