"UMA MENTE QUE SE CULPA"

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George observava paralisado no quarto vazio de Sophie, tentando desviar seus pensamentos para algo que o impedisse de ter um ataque de pânico.

— Ela também não está no jardim. — Cecília disse, tão preocupada com o destino da criança quanto seu patrão.

— Tem certeza que ela não disse nada sobre passar a tarde em outro lugar? — George perguntou em uma voz estridente e alterada, que mais tarde o fez se sentir culpado por colocar ainda mais pressão em Cecília.

— Certeza absoluta. — a loira garantiu, por mais que desejasse com todas as forças estar errada.

— Isso não faz sentido. Por que ela chegaria em casa e então iria embora sem mais nem menos? — George perguntou, mesmo sabendo que Cecília estava tão confusa quanto ele, como se não verdade estivesse questionando a si mesmo, vasculhando sua mente atrás de uma resposta.

— Vá com meu irmão dar queixa do sumiço, vou pedir para a eugenia se reunir com os vizinhos para procurar a Sophie. Eu irei checar pelos lugares que ela conhece. — George ordenou, decidido a lidar com aquilo de forma racional.

Em poucos minutos a casa estava mais agitada do que desfile de carnaval. Todos estavam empenhados em devolver Sophie sã e salva aos braços de seu cuidador. George partiu em direção a casa de praia de Felipe, e enquanto dirigia pela rua de seus pais pode ver o caos que se instaurou no lugar. Alguns vizinhos gentis ajudavam na busca sem medir esforços, enquanto outros observavam a agitação nas varandas e olhavam com reprovação, as vezes dizendo coisas como "tudo isso por uma criada fugitiva?"

Era quase surpreendente ver como alguém era capaz de se deparar com uma situação tão preocupante como aquela e simplesmente dar de ombros, por se tratar de uma criança pobre. "Quase", afinal a essa altura da vida George já estava familiarizado com a frieza humana.

Era estranho pensar que existiam no mesmo mundo e faziam parte da mesma espécie, pessoas como aquelas, que desprezavam seus semelhantes mais frágeis, e pessoas como Daphne, que abriam mão de uma tarde de descanso para ajudar uma criança a se sentir mais confiante.

Daphne! É claro que a primeira coisa que aquele nome o fazia pensar era em sua mais recente rejeição, mas após uma breve melancolia ele percebeu que sua ex namorada era justamente a quem Sophie agarrava pelas saias quando estava triste. Por algum motivo ela parecia ser vista como uma figura materna pela menina.

[...]

— George? — Daphne disse, confusa, ao vê-lo em sua porta.

— Sophie sumiu. — George disse de forma direta, tanto por ter tido seus pensamentos ocupados pela preocupação, quanto por se sentir abatido ao ver novamente Daphne.

— O-o-que? — a ruiva questionou assustada. — E você já notificou a polícia?

— É óbvio, mas estou tentando agilizar as coisas. Pensei que talvez ela tivesse vindo te ver.

— Não, infelizmente ela não está aqui. Se tiver alguma coisa em que eu possa ajudar...

— Sabe onde fica o prédio Dr. Carlos Álvares? — George perguntou de forma ansiosa, antes mesmo de Daphne terminar sua fala.

— Dr. Carlos Álvares? É um prédio residencial rosa com janelas brancas quadradas, fica a duas ruas daqui. Se quiser eu te levo. — Daphne se ofereceu sem pensar duas vezes, mostrando também estar muito abalada com a situação.

Os dois seguiram para o carro apressados, estavam tão paranóicos com a possibilidade de Sophie estar em perigo que nem tiveram tempo de notar a estranheza de estarem juntos novamente naquele veículo que já havia servido de cúmplice para o caso dos dois.

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