Apesar de conseguir manter seu instinto de acordar as 05:00h, Sophie muitas vezes ainda sentia uma enorme tentação de permanecer na cama. Provavelmente ainda levaria um bom tempo para que seu corpo cansado se acostumasse a maciez daquela cama incrível, e só assim a permitisse seguir com sua rotina sem ter de lutar contra sua vontade de apreciar mais um pouco aqueles lençóis de seda.
Mas também haviam coisas maravilhosas em sua nova vida que a motivavam a acordar, como o delicioso café da manhã que Cecília sempre fazia questão de pedir para a padaria entregar. Ela alegava ter como motivação a vontade de compensar o fato de não cozinhar bem, mas só um idiota não perceberia que a vontade de ver o Sr. Ramos estava acima disso.
Bem, independente das principais motivações de Cecília, nada se comparava ao doce toque daquelas massas leves e refinadas recém saídas do forno.
Sophie estava indo em direção ao seu manjar dos deuses, quando sua atenção foi roubada ao notar Ofélia sentada na sala de visitas. Poucas coisas superavam sua fome, e entre essas coisas estava a sua curiosidade. Ela se moveu vagarosamente, sabia que era errado espiar, mas Ofélia havia simplesmente ido embora ontem sem que podesse ter suas aulas e quando pediu uma explicação a George ele simplesmente mudou de assunto. Talvez ela tivesse um pouco de culpa no cartório, tinha dificuldade para aprender coisas novas, Ofélia poderia estar cansada de perder seu tempo tentando a ensinar.
De fato, não foi difícil ouvir seu nome sendo citado na conversa que a loira estava tendo com o Sr. George.
– Eu não quero saber se é meu patrão e nem se é um tolo cabeça dura. O senhor vai sentar e ouvir o que eu tenho a dizer sobre a condição de Sophie – Ofélia disse, de forma decidida em um discurso que parecia ensaiado.
– Desculpe, eu fui infantil – George dizia de forma forçada, desviando o olhar pelo cômodo. O orgulhoso Sr. George estava envergonhado? Isso era novidade, e só atiçou sua curiosidade – Acontece que é difícil aceitar a possibilidade dela ser deficiente. Sophie me parece tão capaz.
Espero, de quem estavam falando? Por que seu nome estava sendo posto no meio disso?
– É claro que a Sophie é uma criança esperta, a Amélia também era. Ainda tem muito o que descobri sobre pessoas assim, mas existem diversas condições e níveis de dificuldades diferentes – Ofélia o informou, parecendo tentar o reconfortar.
Aquilo não fazia o menor sentido, eles citavam deficiências e dificuldade, a comparando com a falecida irmã do Sr. George. Que lógica aquilo tinha?
– Eu só..... Eu não quero que ela tenha o mesmo destino que a Amélia, não quero que ela sofra. Não é possível que não tenha como curar seja lá o que ela tenha. – George disse em um tom melancólico e emotivo.
– Bem, nós vamos precisar a deixar em observação para poder ter certeza quanto as dificuldades e necessidades dela. Mas infelizmente acredito que não exista uma cura, independente do problema, apenas tratamentos para facilitar as coisas. – Ofélia explicou.
– Então ela vai ter de viver como uma deficiente? – ele perguntou, já supondo a resposta e se lamentando por antecipação.
– Do que vocês estão falando? – Sophie perguntou, abandonando qualquer tentativa de disfarçar sua presença – Não sou deficiente! Não estou doente! Não preciso de pena! – ela declarou, sentido sua face pálida ser tomada pela vermelhidão do desespero e seus olhos negros como a noite ganharem estrelas conforme o brilho das lágrimas presas iam se acumulando.
– Sophie, eu não quis dizer.... – George tentou falar, travando na tentativa de achar a palavra certa, mas ela definitivamente não iria esperar por uma justificativa.
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INALCANÇÁVEL
De TodoO mundo é um lugar tediosamente frio e cruel. Não é de se surpreender que tantas pessoas decidam dar as costas para ele e se enfiar em uma muralha. Mas, como nossos protagonistas irão aprender ao longo dessa história, mesmo a maior muralha de pedra...