Capítulo 8

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MESES DEPOIS

As coisas não haviam mudado tanto. Minha mãe continuava entre idas e vindas com Michel e toda vez que isso acontecia, ela ficava muito mal, até para sair da cama era por pura obrigação de cumprir os compromissos da gravação do programa que estava em reta final. Por vê-la sofrendo, eu tentei muitas vezes contar que o namorado dela não era o santo que parecia, mas quando não tinha medo da sua reação, ela mesma continuava tentando discutir comigo por falar mal dele. Estávamos há um dia do seu aniversário e eu resolvi dormir com ela para estar presente desde os primeiros minutos do seu dia. Depois de horas de conversas, filmes e séries, eu percebi que ela estava pensativa e sabia que ficar daquele jeito para ela era um perigo, pois sempre acabava pensando em coisas que desencadeavam suas crises.

− Em que está pensando? – eu sorri, acariciando o rosto da minha mãe.

− Será que vão se lembrar do meu aniversário?

− É claro que sim, mãe, os seus fãs passam o ano todo preparando as homenagens.

− Eu sei, mas falo do Michel e dos seus irmãos. Será que eles ainda se importam? – minha mãe perguntou sem graça.

Por mais que os medos da minha mãe parecessem absurdos na maioria das vezes, eu sabia que todos vinham da falta de atenção e negligências das pessoas que ela amava, afinal na família ela era sempre a provedora e para quem todos corriam quando precisavam e quase sempre se esqueciam de que ela também era um ser humano que necessitava de colo e atenção, por isso eu tentava lidar com todos os sentimentos dela com carinho e cuidado.

− Com certeza sim. Não se preocupa, manhosinha, o seu dia vai ser muito especial. – eu sorri, acariciando o rosto da minha mãe que retribuiu o sorriso.

Eu olhei o relógio do celular e faltava uma hora para meia noite. Obviamente eu já tinha organizado quase tudo para me certificar de que minha mãe só receberia boas surpresas, por isso precisei inventar uma desculpa para sair do quarto e ver se Jos e Lucerito já haviam chegado em casa, pois não confiava muito que eles cumpririam com o combinado.

− Eu vou buscar mais pipoca, já volto. – eu falei e me levantei, pegando a bacia vazia de cima da cama.

− Não demora. – minha mãe pediu e eu assenti, saindo do quarto.

Quando eu atravessava a sala para ir à cozinha, a porta se abriu e Jos e Lucerito entraram em casa, me fazendo respirar aliviada. Pelo menos o dia da minha mãe ia começar bem.

− Ah, que bom que vocês chegaram.

− Claro, a gente prometeu. Ela está acordada? – Lucerito perguntou.

− Sim, esperando dar meia noite. – eu sorri, negando com a cabeça e fazendo meus irmãos sorrirem também.

Minha mãe simplesmente adorava fazer aniversário mesmo estando desanimada aquele ano com todos os acontecimentos, por isso eu queria que ela se animasse como de costume.

− Dá tempo a gente tomar banho? – Jos perguntou.

− Sim. As coisas estão na cozinha, meia noite é só vocês pegarem e irem para o quarto dela.

Meus irmãos assentiram e antes deles saírem, Lucerito me abraçou, me fazendo sorrir. Eu também sentia falta de quando eles eram crianças e brincar comigo e com a nossa mãe era o que eles mais gostavam na vida.

− Obrigada por estarem aqui, é muito importante para a mamãe. – eu falei.

− A gente também mora aqui, irmãzinha. – Jos debochou.

− Que bom que vocês se lembram, irmãozão. – eu ironizei e bati na bunda de Jos, fazendo Lucerito rir.

Lucerito e Jos foram tomar banho e eu fui à cozinha encher a bacia da pipoca, voltando para o quarto e encontrando minha mãe como deixei, deitada na cama e encarando a porta.

− Você demorou. – minha mãe comentou assim que me viu.

− Eu me distraí. – eu sorri de leve, largando a bacia de pipoca e me sentando na cama, abraçando minha mãe e encostando a cabeça em seu ombro, fechando os olhos e aspirando seu cheiro.

Eu amava aquele cheirinho, muitas vezes pensava em como ele seria desde a infância sem nem imaginar que seria o cheiro da mulher que me deu a vida. Minha mãe retribuiu o abraço e afundou o nariz no meu cabelo, assistindo mais um episódio da nossa série favorita. Quando acabou, olhei o celular novamente e já era meia noite, o que me fez sorrir e apertá-la com força.

− Parabéns, minha vida, que Deus te traga sempre muita felicidade e amor. Eu sou muito grata por ter o privilégio de ser sua filha e poder desfrutar sempre da sua luz. Te amo muito. – eu beijei o rosto da minha mãe.

− Obrigada, filha, vocês são meus melhores e mais lindos presentes, eu não seria nada se não fosse vocês. – minha mãe falou com a voz embargada.

Nessa hora, Lucerito e Jos entraram de chapeuzinhos de aniversário, apitos, balões e um bolo em mãos, fazendo minha mãe arregalar os olhos, surpresa, e logo rir feliz. Era algo simples, mas de grande importância para ela ter seus três filhos reunidos para passar a noite com ela, comemorando seu aniversário só entre a gente.

− Feliz aniversário, mamãe! – Lucerito gritou e se jogou entre nós.

− Feliz aniversário, mãe. – Jos falou e se apoiou com um joelho na cama para beijar a testa da nossa mãe.

− Bem, a surpresa de aniversário, eu já ganhei. – minha mãe falou, com os olhos brilhando e um sorriso no rosto.

Nós começamos a cantar os parabéns, ou mañanitas como chamavam no México, enquanto Lucerito colocava um chapeuzinho na cabeça da mamãe e eu acendia a vela do bolo com o isqueiro que Jos me entregou.

− Faz um pedido, mãe. – eu falei sorrindo e colocando o bolo nas pernas da minha mãe.

Minha mãe sorriu e fechou os olhos, respirando fundo antes de soprar a velinha. Nós gritamos e nos sentamos na cama, cortando o bolo e comendo enquanto conversávamos animadamente.

− Obrigada por estarem aqui, meus amores, eu amo ficar assim, juntinhos só nós quatro. – minha mãe falou sorrindo após terminarmos de comer.

− E a gente só quer ver você feliz. – eu sorri, acariciando a bochecha da minha mãe.

− Eu posso pedir só mais uma coisa? – minha mãe perguntou sem graça.

− Claro, o que quiser, não é? – eu encarei Lucerito e Jos que assentiram.

− Vocês podem passar a noite comigo? Queria aproveitar que vocês estão em casa hoje. – minha mãe abaixou a cabeça.

Eu encarei meus irmãos. Eles sempre diziam que não eram crianças para dormirem com a mamãe, mas por ser aniversário dela, eu torci para que mudassem de ideia.

− Bem, eu vou ficar. – eu me ajeitei ao lado da minha mãe na cama.

− Eu também. – Lucerito se deitou do outro lado da minha mãe.

Nós encaramos Jos, com expectativa. Ele era o mais distante, talvez por ser um homem, ele não achava graça em ficar perto de três mulheres, mas eu esperava que pelo menos daquela vez ele fizesse a vontade da nossa mãe.

− Está bem, eu fico com as mulheres da casa. – Jos riu, se deitando aos nossos pés.

Nós também rimos e voltamos a ver filmes entre conversas até Lucerito e Jos adormecerem. Quando olhei para minha mãe, ela sorria, observando demoradamente seus três filhos.

− Gostou do início do seu aniversário? – eu sussurrei.

− Eu acho que nunca mais havia me sentido tão completa. – minha mãe respondeu no mesmo tom.

Eu sorri, puxando minha mãe para se deitar no meu peito, como ela gostava de dormir. Durante todo o dia, estivemos em família, até mesmo o meu pai veio almoçar com a gente quando se certificou de que não teria problemas e à noite, Michel veio buscá-la para um jantar romântico que pareceu ter dado certo, pois ela chegou tarde e com um sorriso gigante no rosto. Eu só desejava fazer com que todos os dias da vida da minha mãe fossem como foi aquele, mesmo sabendo que isso não estava no meu controle.

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Capítulo leve para comemorar o aniversário da nossa querida que tá chegando ♥️♥️♥️

Segredos Revelados (2ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora