Capítulo 30

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Letícia

DIAS DEPOIS

Eu já estava recuperada, ao menos fisicamente. As únicas recomendações que recebi do médico foram para seguir com a minha vida e esperar alguns meses antes de tentar ter outro bebê, o que com certeza todos nós precisávamos depois de tanto sofrimento. Sobre a parte emocional, tudo estava sendo como minha mãe disse, eu me pegava pensando no meu filho, sentia falta de ver a minha barriga crescendo e de planejar cada detalhe para a chegada dele, mas o apoio da minha família estava sendo fundamental para que eu ficasse bem na medida do possível. Depois de alguns dias em que saí do hospital, minha mãe conversou comigo e disse que eu estava livre para voltar para o apartamento quando quisesse, o que me preocupou por causa da sua reação em se culpar pela minha perda, mas ainda assim eu voltei a morar com Santiago, pois achava que também seria importante ficarmos juntos para superarmos o que aconteceu. Tudo me parecia estar indo bem até eu receber a visita surpresa de Mari para me contar que desde que eu saí de casa, minha mãe voltou à estaca zero, quase não se levantava da cama para nada. Além da preocupação, eu também senti raiva de toda a situação porque eu nunca quis abandoná-la sem ter certeza de que ela ficaria bem sem mim e por ela ter colocado na cabeça que precisava fingir que não estava mais sofrendo para não me atrapalhar sendo que sempre fomos realistas uma com a outra. Foi com esse sentimento que eu acompanhei Mari até em casa e caminhei a passos duros até o quarto da minha mãe, a encontrando adormecida em sua cama.

− Mãe! Acorda, precisamos conversar! – eu falei, abrindo as janelas e iluminando o quarto.

Minha mãe se mexeu e demorou um minuto para perceber o que estava acontecendo, se sentando rápido. Provavelmente ela não esperava me ver de surpresa em sua casa.

− Você não tinha que estar trabalhando?

− Sim, mas tive que vim ver se você está mesmo fazendo isso consigo mesma. – eu falei trêmula.

− Olha, eu não sei o que você está pensando, mas hoje eu resolvi dormir até tarde, por isso estava na cama até agora.

− Para, mãe! – eu respirei fundo para não me alterar. – Eu sei que tudo voltou ao que era antes, que você não sai desse quarto para nada e finge para mim que está bem.

− Filha, eu garanto que estou bem, não precisa se preocupar. Agora pode ir trabalhar, senão você vai se atrasar.

− Não. Eu quero que você tome um banho, eu vou trazer o seu café da manhã e nós precisamos conversar muito sério. – eu puxei a coberta do corpo da minha mãe.

Eu sabia que estava sendo um pouco dura com minha mãe, mas se com paciência e calma, nada se resolveu, talvez com firmeza desse tudo certo, assim como ela e meu pai às vezes faziam para educar meus irmãos. Obviamente minha mãe não entenderia minha atitude, já me olhava querendo chorar, porém eu não podia me render, era pelo bem dela.

− Por que você está fazendo isso comigo? – minha mãe perguntou com a voz embargada.

− Porque eu já perdi demais na minha vida. – eu falei, também já com vontade de chorar. – Eu perdi a minha mãe Raquel, o meu filho... Meu Deus, eu já perdi até você quando eu nasci. – eu forcei uma risada, olhando para cima. – Mas eu não vou perder de novo, entendeu? – eu enfatizei, voltando a encarar minha mãe. – Não você, a minha mãe, melhor amiga e pessoa mais importante da minha vida, então você vai se levantar dessa cama e vai tentar reagir como eu estou fazendo.

Nós duas já chorávamos quando eu terminei de falar enquanto minha mãe encarava as próprias mãos. Eu sabia que nada disso era culpa dela, mas também não podia mais deixá-la viver no próprio tempo, pois sabia bem como as coisas acabavam.

Segredos Revelados (2ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora