Segredos Revelados (2ª Temporada)

Capítulo 17

DIAS DEPOIS

As coisas tinham mudado muito rápido para pior. Minha mãe entrou em uma terrível sequência de crises de ansiedade, pânico, choros e pesadelos quando não tinha insônia, o que terminava a deixando sem nenhuma vontade de se levantar ao menos para tomar um banho e se alimentar, esses horários eram os mais difíceis de todos os dias em que eu precisava praticamente travar uma batalha contra o psicológico abalado da minha mãe para que ela fizesse o mínimo que uma pessoa deveria fazer para viver ao menos fisicamente bem. Para variar, Jos e Lucerito não entendiam muito bem e nem minha mãe fazia questão que qualquer pessoa, mesmo sendo da família, soubesse o que estava acontecendo com ela. A única coisa que a fazia reagir em dias menos ruins era o seu trabalho, o qual ela tentava cumprir com excelência como fez por todos aqueles anos, quando não podia adiar seus compromissos. De repente, a minha vida estacionou e eu deixei de ser mulher e profissional para ser filha em tempo integral, voltei para a casa da minha mãe enquanto Santiago continuava cuidando do nosso apartamento e se mostrava bastante compreensivo em relação às minhas novas obrigações, ainda que fosse complicado não termos mais quase nenhum momento a dois e no meu trabalho, eu praticamente não ia, atendendo meus pacientes de forma remota na maioria das vezes. Era quase meia noite, minha mãe já dormia há algumas horas e eu pensava em fazer o mesmo quando ela se acordou em um pulo e sem dizer nada, iniciou um choro compulsivo, me fazendo suspirar. Aquilo havia se tornado comum para nós, mas me doía muito ver que não havia restado nada daquela mulher forte e feliz de antes.

− Mãezinha... – eu me sentei, acendendo o abajur e a puxando para o meu colo.

− Eu me acordei muito angustiada outra vez. – minha mãe falou entre soluços, com a mão no peito.

− Você ainda pensa nele, não é? – eu perguntei devagar, acariciando o cabelo da minha mãe.

Depois de alguns dias, nós evitávamos de tocar no nome do Michel e sempre que isso acabava sendo indispensável, o chamávamos de "ele", pois quando tudo era mais recente, a simples menção desse homem piorava a situação.

− Tudo começou por causa dele, mas agora nem eu sei explicar. – minha mãe se encolheu nos meus braços. – Eu sinto uma angústia, uma dor no peito, eu nem me reconheço mais, não gosto mais do que vejo no espelho, nem encontro alegria nas coisas que fazia antes. Eu vivo no piloto automático, faço o que é de minha obrigação torcendo para acabar logo para voltar a ficar na cama. Eu quero que isso passe, mas não sei o que fazer. Você viu como ele acabou comigo? – ela me encarou, entre soluços.

Eu encostei a cabeça à da minha mãe, acariciando seu cabelo. Era a primeira vez que ela me falava como se sentia, porque antes ela só dizia os seus sintomas externos que eram os tremores, as mãos suadas e a falta de ar, mas naquele momento ela me confirmou o que eu já sabia, seu problema era grave.

− Não acabou, não fala assim, por favor. – eu falei com a voz embargada, mas respirei fundo. – Você ainda tem muito para viver e conquistar, precisa ver os meninos crescerem, tem que estar comigo no meu casamento, se lembra do quanto você quer experimentar a sensação de ser a mãe da noiva? – eu sorri de leve e minha mãe assentiu, enxugando as lágrimas. – Você é linda, cheia de saúde, de sonhos e precisa se lembrar disso todos os dias. Eu tenho certeza de que se você procurasse ajuda... – eu falava, mas minha mãe me interrompeu.

− Eu não preciso de ajuda, eu só preciso de você. – minha mãe falou, me apertando mais.

Já fazia meses que eu implorava para que minha mãe buscasse ajuda psicológica até mesmo com alguém de confiança da minha clínica, mas ela permanecia irredutível, garantindo que só com o meu apoio ficaria bem, só que a verdade era que eu também estava cansada, apesar de não demonstrar, eu vivia a vida da minha mãe, dava qualquer coisa para vê-la melhorar e tudo que eu conseguia era que ela se afundasse mais.