Segredos Revelados (2ª Temporada)

Capítulo 20

Lucero

Manuel e eu fomos o caminho inteiro até a festa em silêncio. Eu já não me sentia tão nervosa, não estava angustiada e tentei encarar aquilo como de fato era, dois amigos saindo juntos. Nós não demoramos a chegar e como era um pouco tarde, a mídia e os convidados já haviam entrado, o que me dava mais um tempo antes de ser bombardeada por fotos, perguntas e cumprimentos. Manuel estacionou o carro e deu a volta para abrir a porta para mim, me fazendo sorrir, já que ele também não fazia isso quando éramos casados. Ao subirmos a escada que dava para o salão de festas, eu notei que ele quis colocar a mão nas minhas costas, mas decidiu não fazer, o que me deu um certo alívio, pois eu não queria dar chance às más impressões que já existiam nos simples atos. Quando entramos na festa, todos se viraram para a gente e meu coração acelerou, mas mesmo assim eu sorri. Como sempre, muitos amigos e a imprensa se aproximaram pedindo por fotos e nos enchendo de perguntas, principalmente por que estávamos juntos, a qual demos a justificativa de sempre, que éramos amigos de toda a vida por causa dos nossos filhos. Nós só pudemos respirar aliviados quando todos se acostumaram à nossa presença e voltaram a curtir a festa. Foi quando dessa vez Manuel não hesitou em me tocar nas costas.

− Você quer uma bebida?

Eu ia responder quando vi por trás de Manuel quem eu nunca mais queria ver. Minha boca se abriu e eu quis avisar ao meu acompanhante e sair dali, mas meus pés não me obedeceram e eu logo fui notada por ele, o responsável por todas as minhas dores, Michel que sorriu e veio em nossa direção.

− Ora, veja quem eu encontro aqui. Como vão? – Michel levantou o copo de whisky que segurava como forma de cumprimento.

− Muito bem. O que faz aqui? – Manuel perguntou sem me soltar, mas se mexeu desconfortável ao meu lado.

− Eu fui convidado, também sou grande apoiador do Teletón. Mas que ótimo vê-los, casal.

− Nós não somos um casal. – eu falei pela primeira vez, trêmula.

Michel riu e aquele som me arrepiou, não como antes que era de pura felicidade, mas sim de medo e todas as coisas ruins que eu voltei a sentir por causa dele. Como eu imaginaria que teria que encará-lo ali no meio de uma festa de televisão se ele nunca gostou de me acompanhar? No mínimo, alguém teria falado sobre a minha ida repentina e ele resolveu ver se havia acabado comigo mesmo.

− Conta outra, Lucero, eu sei que vocês sempre se gostaram. – Michel falou, ainda rindo. – Viu só, meu amor, como foi bom deixar o caminho livre? Agora você vai voltar ao seu conto de fadas. – ele deu um gole na bebida.

− Eu não acredito que eu estou ouvindo isso. – Manuel começou a se revoltar.

Antes que Michel respondesse novamente, eu puxei Manuel pela parte do pulso do seu paletó. Bastava um minuto perto daquele homem para acabar com meses do meu progresso interno, eu já não conseguia respirar e o meu coração parecia que ia explodir dentro do peito. Eu sabia que estava prestes a entrar em crise, mas Michel estava diante de mim e já chamava atenção de algumas pessoas, pois eu nunca falei sobre o nosso término, mas com ele chegando sozinho e eu acompanhada do meu ex marido já viraria notícia, só que na verdade, aquela era minha última preocupação, no momento eu só me concentrava em não desabar e criar uma cena publicamente.

− Por favor, vamos embora. – eu falei com a voz embargada, ainda agarrada ao paletó de Manuel.

− Agora mesmo. – Manuel falou ainda encarando Michel, mas logo se voltou para mim e agarrou minha cintura, me levando em direção a saída.

Eu me deixei ser guiada, pois se Manuel me soltasse, eu não conseguiria nem andar com minhas pernas pesadas. Nós saímos discretamente e por sorte, o carro estava em frente à escada, onde meu ex me ajudou a entrar e deu a volta para assumir a direção, partindo o mais rápido possível. Eu me agarrei aos braços do banco do carona, tentando normalizar minha respiração, enquanto a cidade praticamente voava nos meus olhos, mas eu me sentia sufocada de todas as maneiras.