Yalya I - A Casa Cinzenta

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Era o dia para nunca mais voltar. A casa da família Vallari estava fria. O chão de pedra negra normalmente era depressivo, porém naquele dia estava ainda mais. Todo o mundo estava desbotado. Entre sequoias, freixos e torres verdes que levavam a natureza para cima, a grande casa da família Vallari se erguia imponente com as outras construções da capital.

Naquele dia, Yalya iria novamente para o salão das guerreiras. Mas dessa vez era diferente, não voltaria para casa no fim da tarde, ficaria lá, na Casa Cinzenta. Era um caminho sem volta, e uma mestiça não tinha escolha quando estava no maior reino élfico conhecido entre os povos.

— Vista-se - o Lord Vallari jogou uma armadura nova para ela. Ele tinha um olhar severo entre as pupilas azul índigo - é a armadura oficial da família Vallari.

— O que a senhora sua esposa acha disso? - perguntou Yalya. Ela era diferente de todos os elfos, pois não era um, pelo menos não completamente. Seus olhos eram verdes e seus cabelos escuros, com as orelhas pontudas, formavam uma mestiça sem poder negar.

— Ela vai levá-la, minha parte no acordo era que você usaria a armadura da família.

Se o Lord Vallari não fosse tão severo e sem sentimentos, Yalya poderia jurar que seus olhos lacrimejaram.

A armadura que ele trouxe era feita de ouro de Versi-Hay. Em vez de um elmo fechado, tinha duas pequenas hastes em formato de asas nas laterais da cabeça.

— Eu serviria melhor no castelo de Vallari - disse Yalya, enquanto olhava a armadura dourada - sempre sonhei viver no sul.

— Não é uma escolha minha.

— E de quem é? Você ainda é, além de tudo aqui, o Protetor do Sul, o Senhor dos Rios, o Tordo da Fronteira.

O Lord Vallari sempre se fechava no fim das curtas conversas que tinha com a filha. Ela não sabia bem o motivo, talvez os dois fossem parecidos demais.

— Vista a armadura, a senhora Vallari irá chegar em breve.

Lord Vallari saiu puxando seu herdeiro, um menino de seus doze anos que chorava olhando para Yalya. Diferente dela ele era quase uma cópia do pai exteriormente, "mas muito chorão para ser um Vallari", seu pai sempre dizia. Ele se soltou, correu até Yalya e a abraçou.

— Vai ficar tudo bem - disse ela enxugando suas lágrimas - você pode ir me ver quando crescer, então lutaremos juntos.

De todas as coisas detestáveis em viver na casa da família Vallari, sendo uma bastarda, a única coisa que a dava o desejo de permanecer ali era seu meio-irmão Earendil.

Com dificuldade, Yalya conseguiu fazer com que o irmão fosse com o pai. Eles iriam antes delas.

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Yalya e a senhora Vallari pegaram uma carruagem pequena, o suficiente para duas pessoas. As ruas de pedras polidas faziam a carruagem chacoalhar. A viagem foi rápida, mas a senhora Vallari nunca andaria pelas ruas da cidade.

A senhora Vallari era uma mulher pequena, mas de grande temperamento. Havia decidido mandar Yalya para o salão das guerreiras de Versi-Hay no seu décimo quinto ano de vida. Yalya nunca havia sofrido tanto até aquele momento, mas aprendera a se destacar.

Depois de alguns anos no salão das guerreiras chegara o dia da grande entrega. Se tornar parte do maior batalhão de guerreiras dos reinos, as Damas Cinzentas.

Na frente do grande salão havia homens como guardas. Todos estrangeiros ou mestiços. Usavam armaduras do mesmo ouro da de Yalya, mas não tinham as asas na cabeça.

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