Yalya III - Templo Caído

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A pequena cabana tinha algo que nem nos melhores dias havia no palácio da família Vallari, a sensação de casa. Seu teto baixo, as paredes de madeira clara, o piso de terra batida. Tudo formava um conjunto familiar para Yalya, talvez fosse um desejo de um lar que nunca se cumpriu.

Arwin estava distante, apesar de passar a maioria dos dias em casa, estava sempre calado ou fingindo estar muito ocupado para falar sobre o que aconteceu na Casa Cinzenta. Naquela manhã ele havia dito que precisava sair para pegar mais lenha, acabaram de passar do equinócio de outono, mas o frio estava tão intenso quanto no inverno.

— Terei que sair também – disse Romyna, a jovem que os ajudara na noite da queda da Casa Cinzenta. Ela havia sido um anjo em suas vidas, Yalya perdera as contas de quantas vezes a guarda real passara por Romyna no campo e ela nunca os contara sobre eles estarem em sua cabana, ela fora um presente dos deuses.

— Não se preocupe comigo, não vou sair daqui – mentiu Yalya. Vinha dias buscando uma forma de voltar para a capital. Havia deixado algo e alguém em Versi-Hay.

Romyna acenou com o braço que havia sido machucado por um soldado. Ela andava rápido, então Yalya não tinha muito tempo. A jovem mal sumira entre os freixos e ela já estava completamente coberta com trapos sujos. Yalya ainda estava se recuperando, mas já estava forte o suficiente para ir atrás do que precisava. E isso estava onde ela havia quase morrido.

Yalya caminhava pela estrada velha até as muralhas da cidade. A luz do sol fazia sua cabeça latejar, apesar do frio o céu estava limpo, o sol não conseguia esquentar, mas brilhava forte.

As muralhas estavam firmes e desafiadoras, o maior poder do mundo, deitava-se misterioso atrás delas. Mas hoje eram apenas pedras para Yalya. Ela passou por elas e seguiu sentido a cidade alta, onde no topo do morro estava a Casa Cinzenta, agora os escombros dela. Yalya caminhava lentamente, e esse era seu máximo, pensava no caminho sobre as histórias do passado, sobre os deuses perdidos, será que sua mãe estaria com eles? Sempre foi melhor pensar que ela estava morta do que pensar que ela apenas abandonara sua filha para sofrer como bastarda em um castelo.

— Olha por onde anda, maltrapilho – disse um guarda, empurrando Yalya para fora do caminho – A família real vai passar aqui em breve.

Yalya se arrastou no chão até sair do meio da rua. Era uma rua larga que levava diretamente ao templo da deusa Poderosa, estava cheia de vendedores e viajantes, todos sendo retirados do caminho com a mesma agressividade. Depois de alguns instantes de balbúrdia, o chão começou a tremer, um som de relincho e cascos contra o chão de pedra crescia, vindo da direção contrária a direção do templo.

— Mas o que...

Virando na esquina mais próxima, sem diminuir a velocidade vinha uma comitiva de tirar o fôlego. Carruagens puxadas por cavalos quase tão grandes como bisões de guerra. Eram feitas de madeira trabalhadas, detalhadas esmeradamente, encobertas com detalhes de ouro, Yalya duvidava que fosse apenas folheada. Logo atrás vinha uma carruagem maior que todas. Sobre ela havia uma escultura, difícil de decifrar, de longe parecia apenas um conglomerado de formas abstratas. Só quando a carruagem chegou na distância de alguns passos que Yalya pode entender que a escultura formava todos os deus juntos, queimando em chamas eternas, representava o nascimento dos novos deuses, nascendo sobre as cinzas dos deuses perdidos.

As janelas da carruagem estavam abertas, dentro dela, apenas o rei-de-sempre e sua rainha. Eles passaram muito rapidamente, mas Yalya pode jurar que viu o rei olhar diretamente em seus olhos. E isso a perturbou. Ela ficou sentada no chão, seu coração palpitando, sua respiração frenética.

— Ei imundo, não quer comprar um pouco de pó de fada? Vai deixar você feliz rapidinho.

— Não, dispenso essas porcarias. – respondeu Yalya – para onde vão com tanta pressa?

O Som Dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora