Horva II - A Ursa Menor

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Abeto trotava entre as árvores da floresta absurta. Horva segurava firmemente suas rédeas. As árvores milenares os rodeavam, com suas copas entrelaçadas formando uma tapeçaria verdejante, elas estavam ali à muitas eras e estariam ali até muito depois de Horva encontrar seu fim. Mesmo algumas noites sozinho naquele silêncio, rodeado por tamanho esplender, o fizeram tirar da cabeça, nem por um único segundo, a fatídica noite em que Grisa o deixara só naquele mundo doente.

Horva desceu de Abeto, perto de um riacho que serpentiava um conjunto de pedras . Ele bebeu um pouco de água. Afundou Quebra-ossos no fundo do riacho, sua espada de aço astoriano ainda estava embebida de sangue. A floresta absurta era o caminho mais rápido para Akena, o reino outrora aliado de Herdramor. Mas não era tão seguro, ele nem conseguia parar por mais de algumas horas sem ter que sujar Quebra-ossos novamente, e ele so descobrira isso tarde demais para voltar atrás.

Sua armadura não fazia mais ele se sentir seguro. Era agora apenas mais uma herança, mais uma lembrança, uma companhia nessa jornada solitária. A ideia de juntar seu povo não saía de sua cabeça.

Quantas vezes havia pensado em desistir dessa ideia, que agora soava tão idiota para ele, de juntar um povo separado e disperço? Nem ele sabia; teriam sido milhares de vezes? Já nem importava. A voz de Grisa ecoava em seus ouvidos. O sussuro lamuriento perfurava seus tímpanos, até que ele se levantava da beira de mais um riacho, montava novamente em Abeto e seguia seu caminho.

— Talvez eu seja idiota mesmo – disse Horva, seu olhar sério, esperando que Abeto respondesse.

O frio da noite estava cortante. Em alguns dias seria o festival do equinócio de outono. Ele não chegaria a tempo para as festas de Akena. Nem desejava mais isso, não agora. Se fosse à ulgumas semanas ele adoraria a ideia de ficar bêbado pela primeira vez, talvez ter uma mulher e acordar perdido no outro dia, em uma cama que nunca vira antes. Mas agora, com toda sua família morta, a ideia parecia uma ofensa a memória deles. 

Com dificuldade, ele avistou um morro por meio da fina neblina. Precisavam subir ele para se localizar. Lá de baixo, nas áreas planas, as árvores pareciam iguais, Horva não sabia se estavam andando em cículos.

Abeto era grande e forte o suficiente para grandes viajens, mas estava cansado e não era uma montaria para subida em morros lamacentos. Seus cascos deslizavam, a crina balançava com o movimento da cabeça indo para frente e para trás. O animal fez seu melhor, apenas para ficar com as patas e o peito sujos de lama. Horva desistiu de tentar.

— Está muito cansado garotão? – Horva perguntou ao seu fiel alazão, que não respondeu, provavelmente indignado com a suposição, não que ele pudesse falar.

Horva desceu do cavalo. Decidiu que era hora dele fazer a parte difícil na caminhada. Ele puxou a montaria até o topo do morro. Foi um trabalho, de longe, complicado. Precisou subir alguns metros, fazer um nó de cabo, então puxar a corda até seu limite, então fazer de novo até subir tudo.

Lá, no topo, o vento era mais forte. Seria um campo completamente descampado e plano, não fossem algumas poucas árvores no meio dele, crescendo onde haviam bases de várias estruturas de pedra, de formatos irregulares, listrando o solo. A vista era deslumbrante, a Floresta Absurta de estendia para todas as direções, mas ele ainda conseguia ver de onde havia vindo, um conjunto de altas que faias ficava cada vez mais para trás. A noite estava silenciosa, como sempre. Horva ficou observando a imensidão, enquanto o sol nascia no horizonte a sua frente.

O som de folhas e finos galhos sendo espremidos no solo úmido atraiu os sentidos de Horva, removendo-o de seus pensamento. 

 É amigo, – disse Horva para Abeto, seus olhos estavam pesados – não vamos dormir agora.

O Som Dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora