05.

663 45 2
                                    

FELIPE.

Aquele dia, depois que saí do quarto, fui direto para o meu, nem avisei que estava indo. E a parada que não para de gongar minha cabeça é o por quê de eu não ter parado, ter deixado pra lá e ter ido embora.

A desgraçada acabou com tudo e eu ainda fiquei em um ambiente em que ela estava. Ela encostou em mim... Igual eu também encostei nela de uma forma que não deveria.

Em quatro anos eu não soube nenhuma notícia dela, se ela se tornou fotógrafa que tanto queria, se ela começou a administrar a empresa da família dela, se ela conheceu um outro. Mas falar que não fiquei balançando de ter visto ela é mentira, papo reto. Tá mais gostosa, o ruivo fez ela estar muito mais mulherão, parece ser responsável com as coisas dela.

Mas do que adianta se por dentro ela deve ser a mesma? Que abandona tudo.

Que foge.

- Que porra aconteceu contigo? - recebo um tapa na nuca pós partida do fut com os crias. - Marolando desde que pisou aqui no Rio.

- Aô, Lucas, vai atormentar a Júlia, ela que tem que dar satisfação.

- Foi pra Jurerê curtiu e na volta viu um fantasma? - pergunta e eu pego o baseado que ele me oferece. - Tu tá todo fechado aí.

- Quase. - a mente retorna no quarto e eu fodendo com ela. - Último dia eu vi a Débora.

- Aquela? - concordo. - E tu não fez nada, né? Cê tá ligado como ficou quando ela partiu.

- Eutranseicomela. - falo rápido e bato minha mão na mesa de madeira. - Porra, a primeira vez que vejo depois de anos e a gente transou.

- Caô? - ele pergunta e eu nego. - Tu tá de tiragem pro meu lado. Duvido que você faria isso contigo mermo.

- Não é cara, ela tá mudada, diferente pra caralho... - respondo. - Mas antes eu nem sabia quem era. Porque foi a amiga dela que chamou, cara.

- Menage? - confirmo com a cabeça e ele ri desacreditado. - Felipe, na boa, tenho porque ficar te relembrando das paradas não, mas cê sabe que isso pode te fazer recair.

- Eu sei, porra. Eu sei que ela despertou o meu pior e fez o inferno! - esbravejo já puto com a situação. - Só que eu não tenho culpa se sou fraco, porque eu tento e tentei por anos esquecer essa filha da puta, para agora ela aparecer na minha vida novamente. Eu não tenho controle próprio quando penso na Débora, eu não consigo lidar com a rejeição dela...

-...talvez tenha sido só uma coincidência da gente se topar lá, mas nesse tempo ela já tá minha mente novamente, apesar dela nunca ter saído, antes ela estava de uma forma inconsciente, mas agora ela tá presente durante o dia todo. E mesmo assim eu não vou deixar ela fazer tudo de novo, me fazer conhecer drogas, da minha coroa entrar em desespero pelo meu estado. Porque a culpa é exclusivamente dela. E eu não vou dar esse gosto de novo.

Falo tudo que estava me sufocando e levanto da mesa indo pra fora pegar um uber e ir pra um outro bar.

Sozinho sem ter que lidar com nada além da minha mente.

DÉBORA.

- Oi, amores. E , como vocês estão? Hoje é um dia que estou com um aperto no peito, mas imensamente feliz! - falo fazendo stories para postar. Todos os dias apareço por aqui. - Vim pro Rio depois de quatro anos sem pisar aqui, foi nessa cidade que vivi uma parte da minha vida e conheci pessoas incríveis, mas por motivos tive que deixar esse lugar perfeito. Mas agora eu voltei e espero que seja para ficar de vez...

Posto e entro no táxi para sair do aeroporto e ir até a casa dos meus pais. Já é tardezinha, o sol está quase que se pondo e isso me traz lembranças de quando eu e o Felipe caminhávamos pro Arpoador todos os fins de semana.

Desci junto da Letícia, minha amiga e acessora pessoal, parando em frente a casa que morei. A última lembrança daqui não é boa. Mas tantas outras são perfeitas.

Respiro fundo e pego a chave do portão. Eu tenho que ser forte para lidar com tudo novamente. As emoções começam a borbulhar por dentro de mim e o choro engasgado preso na garganta me faz querer desabar, olho ao redor e vejo ela bem cuidado, mesmo longe eu zelei por esse lugar. Tenho um jardineiro para cuidar das plantas, uma governanta que cuida da casa para mim para nunca deixá-la abandonada.

Igual eu abandonei tudo.

Tem flores na mesa que fica em meio a entrada, com o lustre pendurado. A escada que dá acesso aos quartos, e em sua parede diversos quadros e fotografias.

Minhas fotografias em quadros. Eu alcancei tanto que existe hora que parece ter sido tudo um sonho, de tão surreal.

- Débora, ei, se acalma. - minha amiga me abraça e eu caio em choro. Choro cheio de angústia, sufocante. - Tá tudo bem, lembra o que combinamos? Não forçar a ficar quando se sentir mal.

- Meu lugar é aqui, Leti. E eu abandonei tudo para fugir, eu fui covarde em não saber lidar com a solidão, com o que eu tinha mãos, com nada. Porque eu sou fraca!

Ela me abraça ainda mais forte e me consola, acalmando todas as emoções. Subo as escadas e entro no corredor que tem uma copa, a salinha que deixei todas caixas e malas, a salinha que vi o meu ex desperado pedindo para eu ficar. E eu não fiquei.

Entro em meu quarto e ele está igual eu deixei. O que muda é o armário vazio, algumas fotos que antes tinham e agora estão em uma caixa. A parede continua exatamente igual; Várias frases que o Felipe escrevia para mim.

você me deu o sentido mais leve da vida.

te conhecer foi a experiência que trouxe sentido de uma vida cheia, antes de você ela era vazia e fria.

o fim não combina com a gente.

O fim não combina com a gente. Mas eu dei um fim e mesmo você pedindo para ficar, eu fui embora.

E o fim se tornou realidade.

PODE FICAROnde histórias criam vida. Descubra agora