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FELIPE.

- Se tu fizer alguma coisa com ela, acabou pra você! - aponto o dedo na cara do motorista, ameaçando.

Fiquei vendo ela chamar um carro pra levá-la de volta pra casa e, quando chegou, eu fui pra fora, paguei o valor da corrida e ainda pedi pra ela ser levada em segurança. Posso ter defeitos demais, mas minha minha mãe nunca aceitaria eu tratar uma mulher assim, por mais que a seja ela. Eu expulsei ela da minha casa, está bêbada e correndo um risco fodido. Só é minha obrigação não deixar que aconteça nada.

O carro some na rua quase que deserta e eu volto pra dentro, vendo na pequena poltrona alguma coisa de uma pulseira, daquelas de pingente. Pego e respiro fundo antes de olhar, levanto minha mão vendo um avião e vejo também um coração com uma data desenhada.

XXII- I - MMXVI

22/01/2016.

Dois mil e dezesseis foi quando nos conhecemos. Exatamente no dia vinte e dois. No último ano do Ensino Médio, no primeiro dia de aula.

Aperto forte na minha mão e vou caminhando pela minha casa. Ela estava tão quieta, silenciosa e derrepente um barulho da campainha tocando duas vezes seguidas, me deixando em alerta quando ouvi a voz dela. Eu não ia abrir, eu queria não ter aberto, mas essa desgraçada sempre me faz ter atitudes contrárias do que eu quero. E aí a paz saiu, o silêncio, tudo... Iniciando barulhos de garrafas sendo quebradas, copos, artigos de decoração... eu destravando a gaveta que há tempos não era mexida. E depois nossa briga. Nossos gritos.

Caminho pelo corredor e vou pra porta que dá na cozinha. Tem duas garrafas de bebida alcoólica quebrada, o cheiro está forte. Tem um vaso de flores que ficava na bancada da ilha (que a Rose teima em deixar aqui, dizendo que essa casa precisa de harmonia) e junto, a caixinha de anel de noivado que eu tinha comprado pra ela.

Eu a teria pedido em casamento se ela não tivesse me largado. Em uma semana nós estaríamos noivos se ela não tivesse ido pra porra de Curitiba. E eu ainda fui idiota de guardar.

Abro a caixinha e coloco junto os dois berloques que, por algum motivo que não sei como, caíram de sua pulseira. Agora eu tenho três malditas coisas que pertence à ela. Caminho pro outro lado da cozinha, na sala de jantar, e vou ao fundo, onde possui um aparador de decoração; taças, bebidas, e alguns intens de cozinha pra organizar aquelas bobeira de mesa posta que minha mãe insiste em dizer que eu preciso ter.

Abro a gaveta que está destrancada e respiro fundo antes de pegar o saquinho ali. Antes, bem ao fundo, mas, por eu ter mexido, veio pro meu campo de visão.

Eu não sei quanto tempo eu não abria essa gaveta, mas hoje eu lutei muito contra a minha vontade. A real que eu nem sei porque ainda tenho esse pacote de cocaína aqui, e algumas outras drogas. Guardo a pequena caixa azul e, ainda com o pó na mão, caminho devagar de volta pra cozinha, sentido meu coração disparar.

Pego um dos poucos copos de dose que sobrou e uma garrafa de whisky, coloco no vidro cristalino e sento na banqueta. Dou o primeiro gole e analiso o que tenho tenho minhas mãos. Abro o pequeno pacote que contém algumas gramas e despejo na bancada, fazendo três carreiras de início.

Não consigo ir de imediato.

Porra, Felipe...

Dou mais um gole e sinto uma queimação nos meus olhos. Estou chorando. Busco ar mais uma vez e encaro o entorpecente, recordando das sensações que traz.

PODE FICAROnde histórias criam vida. Descubra agora