15.

434 32 5
                                    

FELIPE.

Desencosto da porta e vou pra minha sala, com a cabeça a mil por causa dela. Toda vez a mesma coisa: vejo ela e automaticamente fico atordoado, sem conseguir focar no meu trabalho, sem vontade alguma de fazer meu dever.

Semana passada foi aniversário da Lu, e desde que saí daquele cubículo as coisas que aquela mulher falou ficaram na minha mente, martelei tanto que, no fim, quando fui embora de lá, não resisti e acabei passando na porta da casa dos pais dela, agora dela.

Fiquei parado alguns minutos em frente, dentro do carro e lembrando das vezes que já pulei o muro só pra poder ver ela fora do horário, ou só para dizer que a amava. Eu era assim, mas ter agido dessa forma com ela não foi nada quando ela decidiu ir embora.

Todas minhas atitudes foram em vão. O meu pedido para ela ficar foi em vão.

E ela se foi sem mais nem menos.

E agora ela tá aqui, de volta, passando como um furacão. Que chega de forma repentina, fazendo estragos, deixando tudo fora de ordem que antes estava organizado. Não dando pausas para aliviar o estrago, não dando pausa para deixar a mente sem pensar nela.

E hoje, enquanto ela apresentava todo aquele trabalho que ela fez, mostrou o quanto ela domina do assunto, do meio social, de tudo. Todos ali conectados, admirando o que ela proporcionou, a explicação impecável, o jeito firme e confiante que ela dizia cada detalhe.

Eu odeio isso. Porque fiquei o tempo todo com a atenção focada nela. Não quis entrar porque jurei para mim mesmo que eu não posso estar lado a lado dela, eu preciso de uma distância segura, só que eu não consigo controlar. Parece que ela tem a porra de um imã que me puxa, não importa o local.

E o fim é sempre igual; Ela vivendo a vida dela tranquilamente e eu nervoso o resto do dia.

Uma batida na porta me faz tirar a atenção de uma foto que seguro e eu faço sinal pra ela entrar. Coloco a parte da foto para baixo e a Júlia, minha sócia e melhor amiga, se senta na cadeira.

- Pode falar. - falo, sem paciência já.

- Que isso que você estava segurando? - ela pergunta e eu me faço. - Felipe, por favor...

- Júlia, na boa, tô tranquilo.

Ela não tenta nada e nem diz mais nada. Ela sempre soube todos os limites, ela sempre me entendeu, me apoiou. E ela sabe o motivo por eu estar assim.

- Eu sei que não, Felps. Acha que não vi você na porta durante o tempo todo que aquela reunião rolou?! - começa os puxões de orelha dela. - Toda vez que toca no nome dela ou quando você vê ela é isso. Não consegue trabalhar, quer afastar qualquer pessoa que chega perto, se isola, fica estranho. Poxa, eu só quero o seu melhor.

- Eu tô bem.

- Para de se enganar, de verdade. Nem você, nem eu, nem ninguém acredita nisso. - eu pego a foto que estava segurando minutos antes e ela olha pro pequeno papel. Rasgo a foto e me levanto para jogar no lixo. - Felipe...

- Júlia, para de se preocupar comigo, eu tô suave. - tento manter minha paciência. Ela não merece que eu estoure. - Eu estou limpo já faz um tempo, única coisa que eu uso e você sabe que não controlo é a bebida e a maconha.

PODE FICAROnde histórias criam vida. Descubra agora