18.

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DÉBORA.

A primeira que coisa que fiz aquele dia assim que cheguei em casa foi comprar minha passagem para voltar pra Itália. Eu vou sozinha dessa vez, Leti ficará por cá administrando as coisas que iniciamos. Mas tem um porém: minha partida será daqui um mês.

Serão mais trinta dias nessa cidade que tem meu amor na mesma medida que tem a minha tristeza. Serão trinta dias tendo que lidar com esse maldito trabalho. Eu vou fazer uma rescisão de contrato quando for partir, o valor é alto, mas eu não vou me desgastar tentando uma coisa que não vai dar em nada.

Por mais que seja meu trabalho, uma coisa que levo muito a sério, eu não vou suportar ter que ver ele todos os dias, ter que ver uma indiferença no tratamento e não poder fazer nada. Nossa discussão única é trabalho. Eu poderia não ter aceitado, mas sendo muito sincera, eu vi a oportunidade perfeita de mudar nosso passado.

Não mudar, mas resolver. Resolver tudo que deixamos pra trás sem menos, na verdade eu, mas a história ali era nossa. Era a nossa vida.

Despeço da minha melhor amiga com um abraço e desço do carro indo em direção a portaria da agência. Ninguém sabe que eu iniciarei os trabalhos aqui essa semana, apenas ele. Talvez a Júlia. Caminho por todo aquele lugar e fico com meu coração descompensado, com as mãos suando. Ajeito a minha roupa e entro na sala de reunião que ele me avisou que eu deveria estar para fazer devidas apresentações (isso tudo em um e-mail) e, assim que chego, todos os rostos se viram pra mim.

Dou um sorriso e com minha confiança vou até onde ele está e paro em seu lado. Sinto o olhar da Júlia total em nós, não disfarçando nada, do Rafael também.

- Bom dia! - desejo cordialmente. Estou meia sem jeito.

- Bom dia. - todos respondem no mesmo segundo. Felipe pigarreia e fica numa posição de chefe.

- Seguinte pessoal: Débora é a mais nova contratada da Carpe Diem, a partir de agora ela será nossa fotógrafa oficial e ajudará no marketing, caso alguém não saiba, mas ela é influenciadora. Dito isso, quero que desejem boas vindas à ela.

- Não precisa disso, Felipe. - sussurro pra ele que me ignora. 

Um por um vem me desejando boas vindas e eu acho isso incrível da mesma forma que estranho. Incrível por eles serem sempre simpáticos, atenciosos e estranho pelo fato de serem assim. Será que eles são assim ou isso é só um show que o Felipe está fazendo pra brincar com minha cara?

- Não avisou sobre, ruivinha. - Rafael diz, e eu dou um sorriso amarelo.

- Decidi de última hora, não esperava também.

A Júlia é a última, mas ela poupa o abraço e apenas me dá um sorriso. Eu sei que ela tá achando isso estranho, eu também estaria.

- Ela ficará com nós do marketing ou ela terá uma sala apenas para ela? - Agnes, se não me engano, pergunta.

- Ela irá ficar comigo na minha sala. - o homem responde.

PUTA QUE PARIU.

Eu solto uma tosse pelo susto e não consigo não demonstrar surpresa. Ninguém consegue.

A Júlia tá olhando nós dois, nem disfarça, um olhar super enigmo. Meu Deus, eu não consigo não pensar na péssima escolha que ele fez.

- Na sua sala? - o Rafael pergunta.

- Sim, Débora e eu precisamos de alguns momentos antes dela ir já pra junto de vocês, ambos precisam apresentar as coisas de trabalho.

Meu pé começa a bater sem parar no porcelanato brilhoso de tamanha ansiedade que essa informação me causou. É impossível não pensar nas diversas coisas que pode acontecer com nós naquela sala, e tenho certeza que nem uma delas são boas.

- Quero que saibam que estarei aqui a disposição de vocês, assim como qualquer coisa que precisarem podem contar comigo. - falo e saio daquela sala.

Eu vou caminhando para a sala do Felipe que eu bem sei qual é, subo aquelas escadas e adentro a primeira porta central, jogando minha bolsa no sofá lateral. Olho pra aquela sala e já vejo uma mesa e uma cadeira além da que tinha quando vim da última vez, um computador, e um item de decoração de anos atrás.

Pego com a mão e quando vou começar a analisar a porta se abre e eu coloco de volta no lugar. O cheiro que ascende a sala me embriaga e eu fecho os olhos.

- Vejo que já está se adaptando ao seu novo ambiente.

- Felipe, eu não vou ficar com você. Eu posso ficar com eles lá embaixo, vai ser melhor. - respondo.

- Claro que não. Quero que tenha conforto para ficar aqui e trabalhar concentrada. - se senta no sofá e eu encaro.

- Você me odeia! Até poucos dias nem me queria ver pintada de ouro na sua frente, aí agora além de eu trabalhar com você ainda vou dividir sala com você? A conta não fecha, Felipe.

- Tudo bem, se quiser eu te mudo lá para baixo, mas eu tô prezando o lado profissional. Unicamente. - se levanta, pega um copo de água e caminha até minha frente. - Eu ainda te odeio, não ache que esse sentimento mudou.

- Eu vou lá para baixo.

- Tudo bem. Amanhã veremos isso, mas hoje você começa aqui. - dou uns dois passos e paro em sua frente, ficando poucos centímetros mais baixa por conta do salto. - Débora...

- Eu quero te entender. Isso sim! - aponto o dedo no seu peito. - Você bate no peito dizendo que não vai ter conversa, fala com tanta firmeza que me odeia, mas se contradiz em todo momento. Você, Felipe, me colocou para trabalhar contigo, você me colocou na sua sala. Unicamente você está fazendo da nossa situação um drama igual esses de novelas, de livros, o que for.

- Eu fazendo drama? - solta uma risada debochada. - Conta outra, Débora. Tu não assume sua culpa.

- Eu não assumo minha culpa? Eu sei que eu errei. Eu tenho total noção disso, mas você acha que eu não assumo porque simplesmente não me deixa conversar. Você me afasta de resolver o que quero.

- Não estou te afastando agora.

- Ah, então vamos conversar agora. Resolver a nossa situação.

- Não. - responde.

- Viu? - abro os braços. - Você fala tanto que não está me afastando, mas olha aí: não. Isso porque não me afasta, imagina se fizesse. Sinceramente, eu não sei porque você propôs isso, e muito menos porque eu tive a capacidade de aceitar. Mas eu não estou aqui pra brincadeiras, pra você achar que pode fazer comigo o que quiser por conta de um erro meu.

- Débora, então vamos conversar. Porra, fala o que você tanto quer.

- Felipe! - alguém abre a porta e interrompe nós dois. Não conheço. -  Preciso que você resolva um assunt com um empresário. Desculpa, interrompi?

Respiro fundo e eu não sei se agradeço ou fico indignada por isso.

- Já vou, Ricardo. Obrigada por avisar, só que da próxima vez bate na porta, por favor.

E ele sai sem nem olhar pra trás.

PODE FICAROnde histórias criam vida. Descubra agora