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DÉBORA.

Eu não costumo fazer trabalhos pré- wedding. É uma área que me afeta muito, meu foco sempre foi eventos publicitários, paisagem, festas, mas nunca algo tão sentimental.

Sinto que consigo desenvolver melhor, lidar com a dor ardente em meu peito. Mas agora eu tô aqui em um espaço perfeito para fazer um trabalho sobre casamento. Não sei por quais motivos aceitei, por quais razões sinto pontadas a cada vez que respiro esse ar que corre entre o campo, entre os corredores da locação, entre a troca gasosa que ocorre dentro de mim.

É um casal jovem, cheio de vida, sorrisos, toques. Tantos sorrisos sinceros; de admiração, amor. Amor demais.

Ele olha para ela completamente fascinado, o vestido branco balançando junto ao vento enquanto ela corre pra mais perto dele. O olho pequeno por conta do sorriso de orelha à orelha.

Pego a minha câmera e vou fazendo cliques, sem me preocupar com poses, apenas deixando de forma espontânea. E isso fica tão perfeito. Pela foto é perceptível a felicidade que está a transbordar entre eles.

A música troca e minha respiração falha. Eu sempre trabalhei com música junto aos ensaios, para deixar mais descontraído, só que hoje a playlist não é minha, foi a noiva quem conectou e, pela segunda vez, sinto esse arrepio na minha nuca.

Eu aqui, sem rumo, travada e perdida.

Hoje me deu medo da vida. Hoje eu senti falta de você.

De te amar por telepatia.

Eu realmente estou aqui travada e perdida. Eu realmente senti sua falta hoje. Não só hoje, como nos últimos quatro anos.

Engulo o nó que se formou em minha garganta e esboço um sorriso para o casal que agora se posiciona na minha frente, vendo o jeito carinhoso que que ajuda ela a trocar de roupa.

- Débora, você tá bem? - a garota pergunta.

- Sim, só um mal estar por conta do calor. - minto.

Eu não estou assim por causa dele, e sim por estar aqui fazendo um trabalho que não condiz com minha amargura, minha inveja.

Eu assumo que estou com inveja do relacionamento deles, de terem o que eu não tive. De viver o sonho que era meu.

- Vamos dar uma pausa?! - o noivo agora quem diz. E eu concordo. - O calor realmente está demais. Tem uma cafeteria perto daqui, se quiser ir.

- Claro que sim, podem ir na frente que sigo vocês. - concordo tão rápido para tentar desconcentrar dessa música que ainda toca. - Vou só guardar as coisas, cinco minutos estou lá.

E eles partem. E eu desabo no chão tentando tirar tudo que se passa na minha mente. Todas as lembranças.

Quando você estancou minha ferida.
Que de você vem paz resolvida, ai, ai.

PODE FICAROnde histórias criam vida. Descubra agora