A casa

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Mal se esgueirou pela janela adentro e já se enfiou na cama, embaixo do edredom. Quando se viu segura, as memórias daquela noite a assaltaram e um sorriso tolo invadiu seu rosto. Merda! Isso acontecia toda vez que se lembrava dele. Isso e tantas outras sensações mais. Como o incômodo gostoso que ele deixava entre suas pernas e essas borboletas agitando-se no seu estômago. Precisava aprender a controlar isso e ser mais cautelosa especialmente com esse sorriso que podia trai-la.

Mas agora estava sozinha. Que mal tinha deixar tudo que se agitava dentro de si mesma sair? Ela mordeu o lábio inferior e abraçou o travesseiro eufórica. Queria pular, correr, dançar... Dançar? Que ideia maluca, ela não sabia dançar. Mas sentia como se pudesse fazer isso agora.

"Controle-se!" a repreensão de Ellen soou em suas lembranças. Ela respirou fundo. "Controle-se!" repetiu mentalmente agora assumindo a responsabilidade. Essas ideias bobas eram pueris demais e ela era uma mulher, não uma adolescente tola!

Duas batidas rápidas soaram na porta e o rosto desengonçado e espinhudo do irmão invadiu seu quarto:

— Acorda, Bela Adormecida de araque! Tá atrasada. Esteja pronta na cozinha em dois minutos se não quiser arriscar ter caca de nariz no meio dos ovos do café da manhã – e mostrou a língua saindo antes que o travesseiro arremessado por ela atingisse a porta.

Ela bufou enquanto verbalizava mentalmente um "idiota!". Quando é que Roman ia crescer? Não deixava as atitudes infantis, era lento e dispersivo para tudo e tão sentimental!

Saltou da cama e alongou o corpo. Os poucos cochilos que teve naquela noite foram o bastante para deixá-la em condições de encarar o dia. Era melhor se apressar antes que Roman cumprisse o prometido.

Entrou na cozinha e foi direto até a geladeira. Precisava de um copo de leite gelado. Cumprimentou Ellen com um sonoro bom dia. Enquanto se servia, sabia que a mãe tinha os olhos sobre ela.

— Suas lições de búlgaro e mandarim estão atrasadas.

Inferno! Ela se esqueceu que deveria atualizar as lições na noite de quarta.

— Tive uma forte enxaqueca ontem à noite e acabei me deitando mais cedo. Farei tudo hoje à tarde.

— Você também se esqueceu do francês no sábado passado.

Ela se amaldiçoou. Como deixou isso passar?

— Tudo estará em ordem após essa noite, eu prometo.

— Tem alguma coisa que você queira me contar, Remi?

— São nove línguas diferentes, Ellen. Eu só me confundi com a lição de francês...

— Ótimo! O serviço da casa ficará exclusivamente por sua conta nas próximas duas semanas. E quero o dobro de flexões no treino de hoje antes da escola. Isso vai te ajudar a se manter mais focada no que realmente interessa.

Seus dedos de apertaram ao redor do copo. Ela queria bufar e esbravejar que aquilo não era justo, mas sabia que isso só deixaria Ellen irritada aumentando ainda mais suas obrigações nos próximos dias. Então, levantou o queixo e encarou a mãe assentindo para demonstrar que reconhecia suas próprias falhas e que estava de acordo com as regras dela.

Já na academia do porão, deixou suas frustrações se transformarem em pancadas no saco de treinamento. Ela poderia dar conta do serviço e das lições extras, estava ciente do atraso na escola também, e ainda assim conseguiria escapar para se encontrar com Weller. Mas com Ellen em alerta, precisaria desacelerar sua saídas noturnas. A mãe era astuta.

No decorrer da semana, os diálogos com Ellen foram fechando o cerco.

— Homens só querem uma coisa. E, quando conseguem, você se torna carta fora do baralho.

Salve-meOnde histórias criam vida. Descubra agora