A Cabana

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A viagem não foi longa e cada detalhe do caminho valeu a pena. A paisagem era fenomenal. A floresta cobria as encostas do vale entre as montanhas.

Dentro do carro, cantaram canções infantis e fizeram brincadeiras para o tempo passar. Avery conduzia com habilidade o casal, tornando aquele momento completamente natural, como se fossem uma família absolutamente normal por mais surreal que isso soaria para os dois poucas horas antes.

Quando a cabana apareceu entre as árvores, o cenário não podia ser mais lindo. O outono dava um tom alaranjado que combinava perfeitamente com as paredes de madeira iluminadas pelo sol.

Jane deu um suspiro discreto que Kurt acompanhou satisfeito.

Levaram pouca bagagem e Kurt foi capaz de dar conta das malas enquanto Jane carregava Avery e sua bolsa de brinquedos.

Observar as duas juntas se tornou uma das coisas favoritas no mundo para ele. Jane era muito desajeitada ao lidar com a criança. Fazia escolhas nada comuns como colocar a menina nas costas. Avery aprovava e se divertia com a situação.

Dentro da cabana, um ambiente amplo e rústico unia a sala e a cozinha. Aparadores, armários e mesa de centro de madeira de demolição passavam a ideia de solidez e antiguidade enquanto o sofá moderno, retrátil, confortável e coberto por mantas ampliava o aconchego do ambiente.

Um quarto com apenas uma cama de casal. As borboletas se agitaram no estômago de Jane com essa constatação e automaticamente seu corpo todo reagiu fervendo. Merda! Isso poderia fazê-la corar. Será que ele planejou tudo isso? Tudo dentro dela queria que a resposta fosse sim, mas uma voz baixa e cruel lá no fundo sussurrava relembrando a ela os danos causados e o quanto estar ali já era um verdadeiro milagre. O sofá da sala poderia servir de cama. Se Emma costumava vir até ali com ele, provavelmente era onde Kurt costumava dormir. Talvez ainda tivesse o cheiro dele. Inferno! Se ela ficasse no sofá teria uma longa noite de saudade pela frente. Outra longa noite de saudade. E dessa vez, com ele a poucos metros de distância. Mas que droga de pensamentos eram esses? Ela sequer se reconhecia. Devia estar procurando fragilidades do local para garantir a segurança de todos ou traçando possíveis rotas de fuga afinal ela era um soldado. Só um soldado.

Kurt deixou as malas no quarto e se apressou em ajeitar as coisas na cozinha. Essa tarefa deixava Jane e Avery ao alcance dos seus olhos. Elas brincavam no chão da sala. Percebeu que Jane repetia as estratégias e limites que ele utilizou com a criança naquelas últimas horas, na casa de Emma, no apartamento e durante a viagem. Essa era ela: observadora, cuidadosa, inteligente, estrategista. Habilidade refinadas demais para alguém tão jovem. Mas essas características o atingiam de forma especial. Contrariando a racionalidade e tudo que a vida e seu treinamento para o FBI lhe ensinaram, sentia-se seguro com ela.

Percebeu que os olhos dela se fixaram por alguns segundos mais na direção do quarto para então migrarem sorrateiramente até ele antes de se voltarem para a menina. Será que ela estava pensando... Não! Melhor afastar esse tipo de hipótese. A história dos dois era complicada demais para acreditar que tudo terminaria com os dois fazendo amor naquela cama. Além disso, já estava sendo difícil demais conter seu corpo que reagia desesperado por ela desde que ouviu sua voz rouca conversando com Allie no seu apartamento. Se não fosse por Avery, ele teria jogado sua autopreservação no lixo assim que a outra saiu deixando os dois sozinhos. Teria feito amor com Jane me cada cômodo. Inferno! Se a coisa entre eles fosse um menos complicada, já estaria flertando com ela para terem todos os momentos possíveis ali naquela cabana. Como nos inúmeros sonhos que tinha com ela toda vez que visitava esse lugar.

As horas passavam rápido com os três juntos ali. Avery sentia-se completamente à vontade com Jane. Weller pensava se existiria algum tipo de elo biológico que desencadeava esse comportamento atípico da filha ou se a garotinha simplesmente tinha herdado dele a ausência de autodefesa quando se tratava dessa mulher.

Salve-meOnde histórias criam vida. Descubra agora