A missão

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Remi respirou fundo tentando limpar sua cabeça de todas as possibilidades e sentimentos que a consumiam. Precisava se manter focada, só assim se sobrevive ao caos. Abriu a porta e entrou com total casualidade.

Roman se levantou do sofá num súbito, fazendo menção de vir até ela, mas foi parado e silenciado por um gesto de Ellen. A mulher não se levantou da poltrona, seus olhos fulminaram Remi a distância.

— Fale! – ordenou altiva e friamente calma.

— Precisei resolver algumas coisas.

— Você desapareceu por dois dias. Deixou seu irmão sozinho. Merecemos justificativas melhores do que isso.

— Ele estava na escola quando saí. Eu pretendia retornar ao final do dia, mas demorou mais do que eu previa...

— Foi irresponsável. Novamente. Devo presumir que isso está se tornando um hábito. Um péssimo hábito.

— Isso não vai se repetir, Ellen. Eu prometo. Você não me verá falhar de novo – e, após uma breve pausa, arrematou – Acabou.

Ellen estreitou os olhos intrigada, se levantou e caminhou até a filha. Quando estava próxima o bastante, estendeu a mão e, segurando a barra do moletom que Remi usava, ergueu a blusa. Fechou os olhos e puxou o ar insatisfeita.

— Onde está o bebê, Remi? – Perguntou baixando a blusa com raiva.

— Ela não sobreviveu ao parto – a garota respondeu a encarando.

— E você espera que eu acredite nisso?

— É a verdade. Não existe nada além disso.

— Não meça forças comigo, Remi. Não é um bom jogo. Deixar o bebê por aí foi estúpido demais. Só nos causará mais problemas.

— Não existe mais um bebê. Como eu disse, ela morreu no parto. Nunca saberão que ela existiu – e, propositalmente, seus olhos fizeram um caminho rápido até Roman antes de voltarem a encarar Ellen.

A mulher compreendeu e agiu:

— Roman, vá para seu quarto!

— Mas eu...

— Sem "mas", Roman. Vá para seu quarto agora!

A garoto saiu cabisbaixo. Assim que ouviram-no bater a porta do quarto, Ellen continuou:

— Tudo o que você fez foi decepcionante e estúpido demais. Vamos, Remi, conte-me onde está a criança para eu tentar consertar mais esse erro seu. Não me faça tomar medidas mais drásticas.

— Você não precisa fazer nada, Ellen. Tudo está resolvido. Quando você me fez propôs uma acordo para a adoção minha e de Roman, prometi que não causaria problemas. A gravidez foi um erro. Muita imaturidade da minha parte. Eu precisava resolver isso do meu jeito.

— Tudo já estava resolvido, Remi. Entregaríamos a criança ao casal que consegui e você poderia cumprir o que combinamos quando os adotei.

— Não, Ellen. A criança se tornou o meu coelho, sentia isso cada vez mais forte enquanto o parto se aproximava. Agora acabou.

Ellen a olhou em choque por um breve instante. Depois seu olhar se converteu numa espécie de compaixão e orgulho. Num ímpeto, a puxou para um curto abraço.

— E você tem certeza que deixou o corpo num lugar seguro?

— Absoluta. Não há a menor possibilidade de a encontrarem.

Ellen pegou as mãos de Remi e colocou entre as suas. Observou as unhas com traços de terras.

— Vá para seu quarto, tome um banho e descanse. Vou fazer algumas ligações suspendendo a entrega da criança.

Salve-meOnde histórias criam vida. Descubra agora