A mentira

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Parecia absurdo sair assim, descalço e sem camisa, pelas ruas atrás de alguém que ele não fazia a menor ideia de quem era. Mesmo assim, Kurt se lançou na via pública e quase correu para alcançar a pessoa que se afastava.

Mulheres o procuravam o tempo todo quando estava em Clearfield. Ele teria ignorado qualquer uma delas e confirmado àquela com quem se divertia naquele dia que fez o certo ao dispensar quem batia à porta. "Uma adolescente meio gótica metida num moletom preto que caberia no Michael Jordan" Lexx descreveu com desdém. Ele definitivamente não conhecia alguém assim.

Mas algo pulsou dentro dele, uma merda de esperança se acendendo. E seus instintos o lançaram para a rua. Porra! Ele precisava ter certeza.

Quando o rosto dela emergiu do capuz naquela expressão quase vulnerável, ele provou um alívio repentino como quem pode finalmente subir à tona para respirar após meses submerso na água escura.

— Por Deus, Jane – e sorriu com uma sinceridade que sua alma dificilmente alcançava. — Eu não acredito que você veio até aqui – concluiu lutando contra o desejo de puxá-la para si e beijá-la ali mesmo.

Então, a expressão no rosto dela mudou completamente. Fria e distante, ela puxou o braço do aperto da mão dele.

— Não era minha intenção atrapalhar sua "diversão". Volte e termine o que começou – cuspiu as palavras tomada por uma nova forma de dor que queimava em seu interior.

E continuou caminhando.

Ao ouvir a voz dele, Remi sentiu algo tremer dentro de si, seu coração reconquistando a esperança após semanas mergulhada na lama. Mas a lembrança da loira de lingerie usando a camisa dele a trouxe para a realidade e para o erro que foi ter vindo até ele.

— Ei, espere! – Kurt disse adiantando-se alguns passou e colocando-se em seu caminho. – Jane, não há nada lá que eu precise terminar porque nada sequer começou de verdade. Foi só algo de momento...

— Algo de momento... Como nós? Não começamos nada também.

— Eu sei que não... Mas você está aqui. Por favor, Jane, fique. Vamos conversar.

"Foi um erro ter vindo até aqui. Foi um erro me envolver com você. Foi um erro não usar a merda da camisinha e esquecer a pílula do dia seguinte. Eu te odeio!" Ela articulou cada frase em sua mente e deveria ter dito cada uma delas com toda frieza. Mas o bebê remexeu em seu ventre a lembrando que não era por ela mesma que estava ali.

— Conversar, Weller. Só isso. Mas não com ela por lá.

— Não, não. Claro que não. Ela já estava de saída.

Com um aceno da cabeça ela indicou que o seguiria de volta. Caminharam rápido, ela em silêncio e ele falando sem parar sobre o clima, a rua, a casa.

Já na entrada, Kurt se apressou em abrir a porta. Mesmo imersa na organização de uma narrativa pra abordar o "problema" que veio tratar, Remi precisou morder os lábios diante da gentileza dele, a raiva dentro dela cedendo um pouco.

Não durou muito. A imagem da loira sentada no sofá com uma colher cheia de sorvete na boca fez o sangue de Remi ferver rápido. Então, ela fuzilou Weller com os olhos.

— Eu resolvo isso num minuto – ele se prontificou e, virando para a outra, continuou – Lexx, eu disse que você podia ir.

— Você saiu correndo, não dava pra ouvir o que disse. Vai mesmo me dispensar pra ficar com a coleguinha de turma da Sarah?

—Você sabe que não aceito esse tipo de coisa nem como brincadeira, Lexx. É uma acusação muito séria. Ela é maior de 21. Por favor, vista-se e vá embora.

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