III - Angel

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Eu precisava sair, ir à procura de algum emprego, então resolvi fazer. Vesti uma calça leg preta, botas de camurça, que ganhei quando completei meus 18 anos. Ainda lembro o quanto minha mãe economizou por elas. Era tudo o que eu queria. Hoje se eu pudesse devolvê-las só para ter mais um dia com ela, eu não hesitaria nem por um segundo.
Coloquei uma blusa branca e amarrei na cintura como sempre costumei fazer. Não era só porque eu estava em Seattle que iria mudar meu estilo. Peguei meu celular que estava desligado. Eu não queria que ninguém me chama-se. Eu nem sequer avisei ao dono do bar, onde trabalhei, que eu estava indo embora. Senti meu peito apertar de medo quando ouvi as mensagens de Luke.
"Onde você está?"
"Christine me liga assim que ouvir essa mensagem. Eu me arrependi pelo o que fiz."
"Baby, por favor, me responde. Estou tão arrependido por ter machucado você."
"Angel, meu amor, fiquei sabendo sobre sua mãe. Querida, diga-me onde está. Eu vou buscar você."
"Droga Angel, eu estou preocupado porra!"
"Angel... Eu juro que se você não me der uma resposta..."
"Desculpe pela mensagem anterior. Eu estou nervoso por não saber onde você está."
"Tudo bem, depois não venha reclamar."
Luke foi um bad boy que conheci no bar assim que comecei a trabalhar lá. Ele tinha sido atencioso e me defendeu de uns bêbados idiotas que tentaram passar a mão em mim. No começo, quando eu tinha uns 17 anos, fiquei loucamente apaixonada por ele. Achava que ele era o meu herói. Hoje, só percebo o erro que cometi. Pura ilusão. Agora que tive a chance de me livrar dele, não iria dizer-lhe nunca onde eu estava.
Soltei meu cabelo e passei um pouco de perfume. Perfume esse que sempre tive apreço por ser o favorito de minha mãe. Desci as escadas e não encontrei ninguém. Guardei o pouco de dinheiro que tinha em meu sutiã. Eu sei que é idiotice, mas eu não tinha uma bolsinha aqui, então meu sutiã era o único lugar seguro que eu poderia esconder 200 dólares sem me preocupar.
Estava quase desistindo por cansaço e porque estava tarde, mas foi quando olhei para cima que vi em luzes neon piscando "Procura-se dançarina". Era uma boate e eu não tinha certeza se era isso mesmo que eu queria. Nunca tinha dançado poli dance, mas talvez não seja tão difícil. Contei meu dinheiro. 170 dólares. Querendo ou não, eu precisava desse emprego e eu não tinha outra opção. Respirei fundo e entrei na boate.
Fiquei atordoada quando fui recebida por luzes fortes e muito movimento. Não era uma boate qualquer, era a boate. Toda organizada, grande, limpa e cheirava bem. Era mais como uma boate social e não como um buraco de homens cheios de tesão para verem prostitutas se esfregarem em um cano e satisfazerem seus pênis.
Se fosse como eu pensei que era, então eu não teria problema algum em aceitar dançar aqui.
- Com licença. - Parei uma menina vestida com um shortinho e uma blusinha de botões segurando uma bandeja com bebidas.
- Oi. - Ela disse sorrindo.
- Desculpe incomodar. Vi o letreiro lá fora e...
- Você veio pelo emprego?
- Sim.
- Ótimo. - Ela entregou a bandeja para outra menina que passava e me puxou. - Venha comigo.
Segui-a, mas fiquei meio preocupada. Onde diabos ela estava me levando? Subimos as escadas e a cada degrau, prendi a respiração. "Mãe, por favor, não deixe que eu me meta em problemas. Esteja onde a senhora estiver, me proteja". Rezei mentalmente.
- Sr. Robert?
- Sim?
Vi como os olhos do homem sentado numa poltrona atrás de uma ilustre mesa de ébano e vidro fumê, me olhava.
- Trouxe alguém que o senhor gostará de receber.
Ele me avaliou dos pés a cabeça e sorriu.
- Veio atrás do emprego?
- É... Sim.
- Sabe dançar?
- Poli dance não, mas sei fazer alguns movimentos.
- Dance para mim.
- O-o... O-oquê? - Gaguejei.
- Algum problema? - Ele questionou.
- Não. É só que... - Eu estava com vergonha. Ele era muito... Bonito.
- Dance para mim.
- Tudo bem.
Inspirei e fechei os olhos. Havia uma música de fundo que daqui dava para escutar, mesmo estando abafada era possível acompanhar o ritmo.
- Então?
Comecei a dançar e fiz o meu melhor. Rebolava da forma mais sexy que conseguia enquanto sensualizava passando minhas mãos pelos meus cabelos. Eu não sei o que deu em mim, mas por um vislumbre de imagens passando em minha cabeça, pensei em Victor. Pensei que estava dançando para ele e me deixei levar. Só sei que quando terminei, tanto a garota quanto o que eu presumo ser o dono da boate, estavam com uma cara, e eu aposto que eles haviam gostado. Eu tinha certeza, esse emprego era meu.
- Qual o seu nome?
- Chris... Angel.
- Qual o seu nome? - Ele repetiu duvidando por eu ter hesitado.
- Angel. Não gosto que me chamem de Christina.
- Quantos anos você tem?
- 21.
- Tina, arrume um uniforme e maquiagens para ela.
- Sim, senhor.
- Tudo bem Angel. - Ele apertou minha mão. - Você está contratada.
Sorri. - Quando começo?
- Agora.

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