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Clare

Fernando chega tão rápido no hospital que com certeza contraiu uma ou duas multas, não consigo me lembrar dele parar em um só sinal de trânsito. Mas nesse momento eu só agradeço.

Pego a bolsa com as coisas que separei e o travesseiro, meus amigos me olham como se conseguissem passar conforto apenas por esse gesto e eu sou grata por tê-los.

Entro no hospital e vejo Edgar Roux na recepção me esperando, assim como disse que estaria. Sua expressão é de cansaço, pelo que noto a partir de sua roupa amassada ele deve estar aqui há horas, chego mais perto tentando manter o tom de voz calmo, como se ajudasse em algo.

— Senhor Roux, Clare Cipriani. - Estendo minha mão frágil até ele tentando não demonstrar que estou tremendo de medo e ele aperta com sutileza.

— Oi Clare, me acompanhe por gentileza.

Seguimos por corredores e mais corredores em um silêncio totalmente desconfortável. 

Por que ele está tão quieto? 

Espero chegarmos até onde ele pede para perguntar algo? 

O que aconteceu com a minha Livie?

Antes que eu possa perceber estamos em frente a um hall, muito parecido com o que estive com Livie em busca de notícias do mesmo semanas atrás. 

— O médico nos encontrará aqui para dar notícias sobre o estado da Livie em alguma horas se tudo der certo na cirurgia...

— Desculpa te interromper, senhor Roux, mas o senhor não me disse o que aconteceu com ela... É grave? Claro, se ela está em cirurgia não é simples, mas é muito grave? O que está acontecendo?

Minha voz começa a soar mais impaciente e desesperada do que eu pretendia, mas a essa altura eu já não me importo mais com etiquetas.

— Perdão por isso, minha mente está tão cheia que achei que já tinha te falado. Eu almocei com a Livie mais cedo, ela deve ter te falado. A deixei no estacionamento e fui para empresa, ela disse que apresentaria um brochure, ou algo assim, para um cliente que temos em comum e enfim... No meio do meu compromisso recebi uma ligação dos paramédicos e me mandaram vir para esse hospital. Eu estava nos contatos de emergência.

Edgar suspira de forma lenta e dolorosa.

— Um motorista bêbado bateu no carro da Livie, o air bag salvou a vida dela com o impacto mas ela acabou fraturando uma perna, duas costelas e o braço direito. O risco de vida já passou, mas ela ainda está em cirurgia por ter perdido muito sangue, e enfim... Pelos meus cálculos devem trazer ela pro quarto dentro de duas horas.

— As lesões foram graves? Digo, ela vai ter sequelas?

— As lesões poderiam ter sido mais graves, mas chance de sequela só vai dar para saber quando ela acordar.

— Qual o tipo sanguíneo dela? Talvez eu possa doar, ajudar de alguma forma...

— Clare, minha querida, eu sei que é muita informação, mas confie em mim, não há necessidade. Ela vai ficar bem, só temos que esperar ela sair do centro cirúrgico.

Assimilo cada fato que me foi contado, a preocupação que tomava conta do meu peito não desaparece, mas muda de figura. Saber que ela está fora de risco de vida me deixa aliviada, mas me sinto tão pequena e tão impotente, queria fazer mais por ela, queria fazer algo.

— Senhor Roux, já ia me esquecendo, não sei a quanto tempo o senhor está aqui, mas eu trouxe bolinhos e café.

Estendo até a mesinha que está na sua frente e pela primeira vez o vejo sorrir, não de forma alegre, mas de forma doce. 

Por todo esse tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora