Clare
Ter que administrar um negócio sozinha é um desafio diário, mesmo tendo uma pequena equipe para me ajudar em tudo, é exaustivo não ter um suporte fixo. Mas isso é algo que sinto falta na minha vida também.
Todos os dias os mais variados casais vem até o "Cipriani's Coffee", vejo todo aquele romantismo. Alguns vem apenas para tomar café da manhã juntos, mas ja assisti mais pedidos de namoro do que gostaria, e também assisti vários rompimentos.
Me pergunto se sei o que é amor, tive muitos romances, não nego, minha lista pode se comparar com a da Taylor Swift. Mas nunca senti nada mais que atração ou paixão momentânea.
Cresci no Upper East Side, em uma das famílias mais ricas e conceituadas, e eles me deram tudo, menos amor. E depois de tanto tempo de reclusão e privação, eu simplesmente fugi de casa em uma noite de dezembro.
Lembro como a neve caía, eu tinha uma mochila, dinheiro e nenhum lugar pra ir. Depois de dar mil voltas, acabei no Central Park e surtei. Comecei a me questionar se não seria melhor voltar para casa, eu só tinha 16 anos afinal, como iria cuidar de mim mesma?
Me recordo de chorar e também de uma senhora vir em minha direção. Ela me perguntava o que tinha acontecido e eu não sabia o que responder.
Como iria explicar que eu tinha me expulsado da minha própria família?
Então eu fiz o mais fácil, disse que tinha me tornado órfã, deixei para trás toda vida que tinham planejado para mim e o sobrenome que eu costumava usar. E a dona Amelie me adotou, primeiro me colocando dentro de sua própria casa.
Quando meus pais finalmente me acharam, e eu tive que contar toda a verdade para a senhora que me acolheu, a mesma pediu para que meus progenitores passasem minha guarda para ela, e eu juro que pareceram aliviados com o pedido, e agora carrego o sobrenome dela.
Dos meus pais só me restou a aparência, a altura da família do meu pai, que me faz ser uma mulher ligeiramente alta, os castanhos e lisos cabelos da minha mãe e o rosto de traços hispânicos. O que costuma chamar atenção de muitos interesses românticos.
Mas nunca passam disso, interesses românticos.
Dentre minhas divagações escuto Fernando me chamar.
— Clare, o novo carregamento chegou, finalmente temos mais café. – Meu funcionário, gerente e melhor amigo diz com o mais lindo sorriso, quase como se tivesse ganhado na loteria – Venha, precisamos ser os primeiros a tomar a primeira leva do dia, sabe como é, teste de qualidade.
— Teste de qualidade ou prejuízo para o meu bolso? – Respondo ele ja rindo e indo em direção à primeira xícara do dia. — Você está certo, esse café definitivamente é o melhor, devíamos servir com a torta de amora, será que você consegue fazer para essa tarde? – Pergunto com os olhos piscando, sabendo que ele nunca me negaria uma bela torta.
— Claro que sim, meu bem, já estou indo para cozinha. – E lá se vai Fernando, sumindo após passar por uma porta.
As vezes invejo o que ele tem com Antony, tão verdadeiro e simples, quase não brigam, qualquer um consegue enxergar as faíscas de longe, mas enquanto eu não me conecto com ninguém, foco toda minha energia no meu negócio. Amelie com certeza estaria orgulhosa de como transformei o lugar.
O dia passa de forma lenta, um pedido de bolo, outro de torta, milhões de cafés, interações e risadas, me sinto exausta e só quero refrescar um pouco a cabeça. Confirmo com Fernando que ele será o responsável por fechar o Ciaprini's hoje e pego minha moto.
Não preciso pilotar muito para chegar aonde tudo começou. Sento no mesmo banco de sempre, um café na mão.
Consigo ver o sol se pondo de onde estou, e agradeço a Clare do passado por ter pego a jaqueta, mesmo que seja primavera a noite começa a esfriar.
Aprecio meu café quando vejo uma cena que nem em meus sonhos seria tão perfeita.Uma linda jovem loira, cabelos cumpridos em um penteado impecável, dentro de um vestido vermelho que realça cada parte de seu corpo, seus saltos estão na mão e consigo ver de forma precisa que ela não pertence ao subúrbio. E então ela se vira e cruza o olhar ao meu.
Não me recordo de ter visto olhos azuis mais intensos e bonitos do que os dela.
Fico presa, não consigo desviar, ela é tão bonita, parece tanto que a gente ja se conhece. E a vejo vindo até mim, quase paraliso, mas tento não demonstrar, apenas aguardo.
— Oi, eu estou meio perdida, entrei pelo outro lado do parque e não sei dizer aonde estou agora, você poderia me ajudar? – Ela me diz de uma forma tão doce que quase parece pecado.
— Claro, mas tudo que importa é aonde você quer chegar. Tem noção de para onde ta indo? – Respondo à ela que parecia completamente perdida.
— Na verdade eu não sei ainda, eu apenas estou aqui, não tenho noção para onde vou. – A menina parece envergonhada ao dizer isso à uma estranha.
— Então não importa muito a direção que esta indo, certo? – Sorrio para ela de forma amigável, quase que tentando passar uma confiança. – Meu nome é Clare.
— Acho que está certa, Clare. Meu nome é Livie, posso sentar um pouco com você? – Ela solta um suspiro e parece um pouco mais confortável agora.
— Claro, quem sabe você me conte porque esta vestindo esse belo vestido no meio de um parque. – Tento falar com humor sobre a situação mas a feição da mesma se fecha na hora. – Desculpa, não queria tocar em um ponto sensível, só queria saber mais de você.
— E o que exatamente você quer saber, Clare? – Ela vira para mim e sinto na hora uma vontade perturbadora de ficar cada vez mais perto dessa linda mulher de olhos tão azuis quanto o oceano.
— Qualquer coisa que você quiser contar, Livie. Meus ouvidos estão livres para você essa noite. – E sendo bem sincera, realmente estavam.
Ela fica alguns segundos em silêncio, suspira fundo e finalmente fala.
— Você acreditaria se eu te dissesse que acabei de fugir de um jantar de noivado em potencial? – Me encara nessa hora com um divertimento no olhar.
— Mas era o noivado de quem? - Pergunto apreensiva e confusa, me sentiria culpada em sentir atração imediata por alguem que ja tem o coração pertencente à alguém.
— O meu. Só que eu era a única a não saber disso até 2 horas atrás. – E nessa hora eu presto ainda mais atenção na loira, enquanto ela me conta com detalhes como os pais a levaram até o evento.
E a situação em si já estava horrível, até ela me dizer o nome de quem teria sido ou será o seu noivo. Nesse momento eu gelo, e consigo perceber um par de olhos azuis me encarando com preocupação porque eu simplesmente parei de falar.
Aaron Butterfield, esse eu conheço.
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Por todo esse tempo
RomantizmLivie é uma jovem adulta que realmente acredita que agradar os pais a qualquer custo é sempre a opção correta, mesmo que isso a afaste de quem ela é. Mas isso muda quando ela conhece uma mulher que poderia ser descrita como a própria força da nature...