Sweet Pea

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Saia de casa as pressas. Eu não sei oque aconteceu direito, mas Betty me pediu para ir ao local marcado o mais rápido possível.

Pego tudo que preciso e vou em direção ao meu carro. Eu não coloquei ele na garagem dessa vez, o que foi uma péssima ideia.

Quando chego perto, vejo um pequeno bilhete no para-brisa. Pego e leio "Desculpa, bati no seu carro. Esse é meu número de telefone."

- Eu não acredito! - respiro fundo - Pelo menos foi educado. - coçava a testa.

Olho e não vejo nada, mas quando chego perto da a porta do motorista tem um belo de um amassado. Não conseguia me concentrar nisso agora, então, simplesmente, guardei o papel no bolso, peguei o carro e fui em direção a Betty.

- Oi, desculpa o atraso. - chego correndo no seu escritório.

- Imagina, não foi atraso nenhum. - ela diz ajeitando alguns papéis em sua mesa - Te chamei aqui porque temos novas pistas! Acho que conseguimos achar mais um conhecido da vítima. Descobrimos o endereço e até o número de telefone.

Ela me mostra quem é e seus dados. Franzo a sobrancelha e ela me pergunta se já tinha visto ele em algum lugar.

- Foi ele que bateu no meu carro. - eu passava a mão no meu bolso para pegar o papel.

- Como assim? - ela me olhava tentando entender oque estava acontecendo.

- É Betty, foi ele sim! - eu abria o papel e conferia os números.

Pegamos tudo oque precisaríamos e fomos em sua direção. Chegando, vimos um trailer bem simples e algumas motos na frente. Fomos até a porta e batemos. Um rapaz alto de cabelo preto nos atende.

- Sim, no que posso ajudar? - ele nos olhava desconfiado.

- Nós somos da polícia e precisamos falar com o você! - nós mostrava-mos nossos distintivos para ele.

- Claro, fiquem a vontade. - ele nos dá espaço para passar.

A casa era bem simples, mas confortável. Ele nos oferece uma água mas recusamos.

- Então, no que posso ajudar? - ele senta em uma poltrona e nós no seu sofá.

- Qual a sua ligação com Josie McCoy? - Betty pergunta assim que liga o seu gravador.

- Nós...eramos amigos com benefícios. Acho que posso nomear assim. - ele diz com cautela.

- E já chegaram ter algo a mais ou só ficaram nisso mesmo? - ela anotava algo em seu bloco e eu ouvia com atenção

- Não e nem dava! Imagina a cara da prefeita se ela visse a filinha dela com  um do sul, ia mandar a menina para fora do país. - ele deu um gole na cerveja que estava tomando antes de chegarmos aqui.

- Quando ficou sabendo da morte dela? - agora era minha vez de perguntar.

Assim que pergunto o olhar dele cai.

- Eu estava em um bar que frequento. A notícia passou na TV e eu nem podia falar nada, já que ninguém sabia. - ele não nos olhava mais - Como o enterro dela foi público eu consegui ver a cerimônia, foi bem bonita, do jeito que ela merecia. Eu fiquei distante, totalmente discreto para ninguém perceber, e aí quando eu tive certeza que todo mundo foi embora eu me despedi dela. - ele limpava suas lágrimas rapidamente e nos olha com um olhar de raiva - Espera, vocês não acham que fui eu que matei ela não é? Só porque sou do outro lado da cidade não quer dizer que...

- Não! - digo alto o interrompendo - Até porque um assassino não deixaria seu número de telefone pedindo desculpa porque bateu no carro de alguém! - tirava o papel do bolso e mostrava a ele.

- Aí que ótimo, bati no carro de uma policial! - ele passava a mão no rosto - Me desculpa mais uma vez, eu posso tentar ajudar em alguma coisa mas...

- Não precisa. - interrompo ele mais uma vez - Eu já adicionei meu seguro.

Ele só movimenta a cabeça positivamente. Um pequeno silêncio se forma, mas é cortado rapidamente por ele.

- Desculpa perguntar, mas como me descobriram? - ele perguntava receoso já que essa não é um tipo de pergunta que se faz a polícia.

- Nós descobrimos que você usava dois números de telefones diferentes. Um para o seu pessoal e outro só para falar com ela. - disse Betty - Bom, obrigada por responder as nossas perguntas! - nós nos levantava-mos.

- imagina, se precisarem de mais alguma coisa ficarei grato em ajudar! Só me prometam que vão encontrar o assassino dela, ela não merecia isso. - o nariz dele já ficava vermelho de novo - Quando eu bati no seu carro, eu estava voltando de lá, mais uma vez!

- Faremos o nosso melhor! -coloquei a mão em seu ombro - Tenha um bom dia! - dei um sorriso para ele.

Ele abriu a porta e nós fomos em direção ao carro.

- Acho que nunca vi um suspeito com tanta dor de ter perdido alguém. - já estávamos dentro.

- Normalmente eu desconfio de tudo nas pessoas, mas esse foi mais difícil. - disse Betty - Da para ver que ele tá sofrendo e descontando na bebida.

Deu para perceber isso. Mesmo que a casa estivesse limpa, dava para ver algumas garrafas vazias de cerveja espalhadas pelos cantos.

- E ele queria algo a mais com ela, sentia-se o carinho que ele falava dela. - eu dizia e Betty já pisava no acelerador.

...

Alguns meses se passaram e finalmente descobrimos quem matou Josie McCoy. Depois dela vieram mais alguns assassinatos iguais e com as ligações descobrimos quem foi.

Levava umas flores para um parente que já se foi quando vejo que está ali.

- Veio trazer flores para ela? - ele tem um pequeno susto com a minha presença mas depois sorri.

- Trouxe! São as favoritas dela. - ele dizia com brilho nos olhos.

Um pequeno silêncio se forma.

- Já soube quem fez isso com ela? - perguntei com receio.

- A pergunta certa é: Quem não ficou sabendo? - ele virou para mim - Fiquei com uma raiva quando li no jornal. Mas pelo menos ela vai descansar em paz agora. - ele dizia sério.

- E você também! - eu coloquei a mão no ombro dele - Acha que não percebemos a quantidade de garrafa de bebida vazia que tinha na sua casa aquele dia? Ou com certeza não se permitiu chorar até agora?

Ele me olha e me leva até o banco que tinha ali perto.

- Quando vocês foram lá em casa eu ainda estava nas primeiras garrafas do dia. - ele olhava para a frente - Era mais fácil de lidar com isso do que o sentimento da perda. - a voz dele embragava - Eu a amava e queria um futuro com ela, a gente conversou algumas vezes sobre casamento e até sobre filhos. - ele já não controlava mais suas lágrimas - Ter a perdido assim foi desesperador, como se a minha vida tivesse acabado, por isso a bebida foi um alvo tão fácil. - ele chorava como uma criança.

Limpava as minha lágrimas e passava a mão nas costas dele.

- Não sei se pode ajudar, mas quer um abraço? - perguntei com uma ponta de esperança de ele aceitar.

Ele me olha com o olhar vazio e pedindo ajuda.

- Quero! - o abraço apertado e sinto suas lágrimas caírem nas minhas costas.

Eu sei que um abraço não vai resolver tudo, mas espero de verdade que depois disso ele consiga viver a vida dele de novo.

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