Prólogo

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Nicola (três anos antes)

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Nicola
(três anos antes)

EU ME LEMBRO DA PRIMEIRA VEZ QUE PARTIRAM MEU CORAÇÃO. EU IMAGINAVA QUE seria como um crac seco, forte, de uma só vez, mas não foi o que aconteceu. Foi parte por parte; em pedacinhos pequenos, quase diminutos, cortantes. Foi assim que dei as boas-vindas a um novo ano.

Eu tinha quinze anos e meus pais tinham ido passar o réveillon em uma festa de uns amigos que tinham uma galeria de arte aqui em Londres, com a qual meu pai colaborava, às vezes. Implorei durante semanas e, por fim, eles me deixaram ficar com Oliver e Harry, que iam comemorar em casa com alguns amigos. Harry viria e eu não o via desde que ele tinha se mudado para Nápoles.

Eu nunca tinha me maquiado antes, mas naquele dia coloquei um pouco de rímel, blush e um gloss. Estreei um vestido preto justo e deixei o cabelo solto. Quando me olhei no espelho, me vi mais mulher e mais bonita.

Eu não ligava que Harry fosse onze anos mais velho que eu. Só conseguia pensar nele, no frio na barriga que me acompanhava, no quanto me afetava um olhar dele ou apenas poder vê-lo sorrir; era como se o resto do mundo simplesmente não existisse.

Oliver me olhou com a testa franzida quando saí para a sala de jantar.

— O que está usando?

— Um vestido.

— Um vestido muito curto.

— Está na moda — respondi e, vendo que ele não parecia convencido, fui até ele e o abracei. — Para de ser estraga-prazeres, Oliver, é o meu primeiro ano-novo longe dos nossos pais.

— É bom você não me dar trabalho.

— Não vou dar. Prometo. — Ele sorriu e me deu um beijo na testa.

Ajudei meu irmão com os preparativos do jantar, apesar de quase tudo ser comida semipronta. Oliver levou a mesa grande para o meio da sala, eu coloquei a toalha e levei os talheres e os copos. A campainha tocou enquanto eu colocava um garfo em cima do guardanapo amarelo. Lembro bem desse detalhe porque, naquele momento, ouvi a voz de Harry e senti meu estômago revirar, e então cravei os olhos nos quadradinhos da estampa.

— Onde deixo a bebida? — ele perguntou.

— Melhor na sala de jantar — respondeu Oliver.

Eu me virei para ele com os joelhos tremendo. Não sei o que estava esperando. Não sei se achava que ele me veria naquele vestido preto, com os olhos pintados e, de repente, eu deixaria de parecer uma menina para ele, mesmo ainda sendo. Ele notou. Sim, ele notou. Eu sei, porque Harry sempre foi muito transparente em seus gestos, mas não parecia surpreso.

Ele deixou as garrafas e me deu um beijo na bochecha.

— Querida, pode colocar mais um lugar à mesa? — Eu o odiei. Eu odiava aquele "querida" que ele costumava usar comigo, como se eu fosse uma criança, naquele tom que com certeza não tinha nada a ver com o que ele usava na intimidade. Tão fofo, tão de irmão mais velho, tão... tão tudo que eu não queria que fosse.

Logo depois chegaram os outros. Jake, Tom, Gavin e duas garotas morenas. Mal abri a boca durante o jantar. Também não tive chance, porque Harry, Oliver e seus amigos ficaram conversando sobre suas coisas, sobre histórias do passado, sobre o que tinham feito no fim de semana anterior, o que planejavam fazer nos seguintes, sobre coisas que diziam respeito somente a eles e das quais eu não fazia parte.

Ninguém parecia notar muito a minha presença. Eu estava revirando a comida quando ele falou comigo.

— Suas aulas começam este mês?

— Sim, daqui a algumas semanas. — A garota ao lado dele disse algo que não cheguei a entender, ele começou a rir e desviou os olhos de mim. Voltei a me concentrar no meu prato, tentando ignorar o sorriso que Harry tinha acabado de dirigir a Zoe.

Ao lado dela, me senti pequena e irrelevante, totalmente transparente para ele. E fui mesmo durante o resto da noite, enquanto eles bebiam, falavam e se despediam do ano brindando com suas bebidas, e eu com meu copo de espumante sem álcool. O nó no estômago ficou mais apertado quando Harry terminou a terceira bebida e começou a brincar com Zoe; dançou com ela a música que tocava no aparelho de som, deslizando as mãos pelo corpo curvilíneo dela e pressionando-a contra seu corpo enquanto ria com os olhos brilhantes, sussurrando palavras no ouvido dela.

— Nicola, está tudo bem? — Oliver olhou para mim.

— Um pouco cansada — menti.

— Pode ir dormir, se quiser. A gente abaixa o volume.

— Não precisa. Boa noite. — Dei um beijo na bochecha do meu irmão e me despedi dos outros quase sem olhar para eles, antes de subir as escadas e entrar no meu quarto.

Acendi a luz do abajur e tirei o vestido pela cabeça, deixando-o amarrotado aos pés da cama. Sentada em frente à mesa, removi a maquiagem com um lencinho umedecido; olhei as manchas pretas que o cobriam quando terminei e pensei que aqueles borrões representavam bem o que tinha sido a noite. Tudo por minha culpa, por pensar que ele repararia em mim. Eu teria me contentado com apenas um olhar. Só um. Algo mais do que aquele "querida" fraternal. Qualquer pequeno gesto de Harry me bastaria para eu guardar na memória, seria algo a que eu poderia me agarrar.

Coloquei um pijama curto e me deitei. Não conseguia dormir. Passei horas escutando a música da festa, me revirando na cama, pensando nele e em como eu tinha me sentido infantil, lamentando por não ter ido com meus pais àquela festa de ano novo; pelo menos assim teria evitado ser um fardo para o meu irmão.

Não sei que horas eram quando ouvi a primeira batida na parede, seguida de risadas. Engoli em seco quando reconheci a voz de Harry no quarto ao lado, antes de a voz dela o calar e tudo virar silêncio por alguns minutos. Depois, os gemidos e as pequenas batidas da cabeceira da cama contra a parede inundaram tudo. Meu estômago se revirou e eu fechei os olhos. Ele entrando nela. E mais gemidos. Dor. E um pedaço. Um pedaço partido. Mais um. Escondi a cabeça debaixo do travesseiro para chorar.

Foi assim que descobri que existem corações que se partem pouco a pouco, em noites eternas para esquecer, em anos sendo invisível, em dias imaginando um impossível.

Amore proibiti | H.S Onde histórias criam vida. Descubra agora