Depois Dela: Livro 2 De 2

Capítulo 2 | Ela Me Odeia

"Cancelar planos só para o caso de você ligar

E dizer: me encontre atrás do shopping

Tudo isso por um amor de verão e um nós

Porque você não era meu para eu perder." Taylor Swift – August

Capítulo 2

Uma vez Shakespeare disse:

"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada"

E ele não estava errado. Foi aquele maldito sorriso que matou a minha irmã em primeiro lugar, e acho que será o maldito sorriso de Mia Adams que estou
desejando nesse momento. Estudo com essa garota desde o primeiro ano do ensino médio e até então, nunca a tinha visto sorrir. É bonito. É puro.

Não vou negar e dizer que eu não ficaria com ela, porque eu ficaria sim. Porém, Mia e eu nunca fomos próximos, sequer conversamos, apesar de sermos da mesma escola. Nosso ciclo de amigos não é o mesmo e vejo em seu comportamento que ela não gosta dos meus amigos.

Estamos no meio do intervalo, estou sentado em um banco com Aron e Avery ao meu lado, enquanto vejo Mia do outro lado do pátio com uma ruiva, o sorriso que estampa seu rosto é lindo. Algo dentro de mim me faz lembrar a minha irmã. Mia me faz lembrar da minha irmã?

— O que acha? – Aron me pergunta, me tirando do meu devaneio. Balanço a cabeça e volto a minha atenção para os meus amigos.

— Sobre? – pergunto, arqueando uma de minhas sobrancelhas.

— O jogo que teremos na semana que vem – Avery responde por ele.

Ah, isso.

Eu jogo no time de futebol desde que fiz amizade com Avery, e faz um bom tempo. Mas nunca foi a minha praia como é a de Avery e Aron. Eu faço para agradar o meu pai, ele gosta e vejo em seus olhos que sente orgulho toda vez que eu marco um gol.

— Acho que venceremos como sempre – dou de ombros e volto a encarar Mia, que percebi só agora estar segurando um livro em mãos. Cerro os olhos em sua direção, tentando enxergar o título do mesmo, mas ela está muito longe para que eu possa ver.

— Lembre-se do que eu te disse – Avery sussurra em meu ouvido para que só eu o escute. Franzo as sobrancelhas em confusão.

— O que?

— Quando ela cruzou as pernas na sala de aula, ela estava excitada só porque você a olhou – ele volta a dizer.

Quando estávamos na sala de aula e eu tirei Aron de perto dela, comecei a encará-la, porque algo nela me atraiu. Ainda não sei o que me atraiu nela, mas Mia cruzou as pernas e Avery me disse que quando as meninas cruzam as pernas é porque estão excitadas.

Não sei se acredito bem nisso. Mia é diferente, ela não é como qualquer garota dessa escola.

— Não sei – finalmente o respondo. Ele me encara unindo as sobrancelhas, e abre um sorriso de canto.

— Confia em mim, Sabrina vive fazendo isso – Avery responde.

— Do que vocês tanto falam? – Aron se intromete.

— Nada – respondo de imediato. Não confio em Aron para ter esse tipo de conversa.

Na verdade, não confio em Aron para quase nada, nem Avery. Apesar das garotas nos adorarem, elas mal sabem o que acontece por trás dessa cortina perfeita de trio perfeito. Aron fez coisas que eu não apoio, mas não posso me intrometer.

E mesmo que quisesse, quem acreditaria em mim? Aron é sobrinho do prefeito, então não adiantaria nada.

E não posso contar com Avery para expor os podres de Aron, da última vez ele quase morreu por tentar fazer o certo. Vejo Sabrina caminhar até nós e se sentar no colo de Avery, passando um de seus braços por seu pescoço.

— Estava pensando... poderíamos fazer uma festa antes do jogo, que tal? – ela sugere.

Ótimo.

Gosto de festas, é o lugar onde eu mais bebo e me sinto à vontade por isso. Não me sinto culpado por querer sair da realidade através do álcool.

— Boa ideia – é Aron quem responde e Sabrina troca um sorriso estranho com ele, mas não comento nada.

Isso não é da minha conta.

Me levanto de onde estou e pigarreio.

— Me avisem se houver festa, vou ao banheiro – aviso e saio dali antes que qualquer um deles me impeça.

Caminho diretamente até o banheiro, ignorando os olhares maliciosos das garotas. Sabe, eu nunca gostei de ser o centro das atenções, mas acabou acontecendo e hoje somos o trio divindade. E eu odeio esse nome, mas me benefício ao máximo.

Alguns garotos conseguem isso ou aquilo para mim e as garotas...bom, vocês já devem saber o que eu ganho delas facilmente. Dobro o corredor e sem querer acabo esbarrando em um corpo pequeno e magro. O seu livro acaba caindo no chão e me abaixo para pegá-lo, a pessoa faz o mesmo, e acabamos tocando as mãos uma na outra.

Finalmente a encaro. Mia.

— Desculpa – ela pede e pega rapidamente o livro, ficando de pé. Faço o mesmo, encarando seu rosto perfeitamente delicado e seus cabelos louros.

— Sem problemas – digo e abaixo os meus olhos em direção ao livro que ela está agarrada como se sua vida dependesse disso.

Corte de Névoa e Fúria.

A capa é bem interessante, é verde com preto, mas não consigo ver mais do que isso. Mia percebe o que estou analisando e coça a garganta, pronta para sair dali, mas acabo pegando levemente em seu ombro, fazendo-a parar e me encarar.

— Desculpa pelas brincadeiras que o meu amigo te fez mais cedo – peço desculpas por Aron e ela abre um sorriso.

Mas não é um sorriso como o de antes, é um sorriso falso, debochado eu diria.

— Eu deveria esperar menos do trio divindade? – o jeito como ela fala o nome do nosso trio me fez perceber que ela não só não gosta dos meus amigos, mas odeia. E eu estou incluso nisso.

— Não somos como ele – trato de dizer e largo o seu ombro, encarando-a firmemente. Seus olhos azuis transmitem um brilho irônico e suas sobrancelhas escuras estão franzidas, como se eu estivesse mentindo o que acabei de dizer.

— Mas andam com ele, então são como ele – ela replica e saí dali sem me dar a chance de rebater.

Nenhuma garota dessa escola jamais falou algo assim antes e isso me pegou desprevenido. Mas apesar de não conhecer Mia muito bem, de uma coisa eu sei.

Mia odeia os meus amigos, e me odeia também.