Capítulo 18 | Palavras Sufocam

67 10 39
                                    

"Porque agora

Tudo é novo para mim

Você sabe que não posso lutar

Contra o sentimento." One Direction – Right Now

" One Direction – Right Now

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Capítulo 18

Eu dei um tapa na cara do Jonathan Bush!

Qual é a porra do meu problema? Sem pensar direito nas minhas ações, levantei a mão e lhe acertei o rosto. Quando vi ele inclinando a cabeça na minha direção eu simplesmente surtei...

Jonathan acaricia a região afetada e eu me levanto do balanço, envergonhada
comigo mesma pela atitude. Ele se levanta do balanço e me olha, perplexo. Abro a boca, mas a fecho segundos depois. O que você vai dizer para ele?

— Tem uma folha no seu cabelo – é só o que ele me diz. Percebo que seu tom de voz é ríspido, e ele tem todo o direito de ficar irritado. Passo as mãos pelos cabelos e uma folha cai do mesmo, constatando que ele está dizendo a verdade.

Quando não digo nada, ele se afasta e começa a caminhar para longe de mim. Seus passos são determinados e percebo seu corpo inteiro e rígido. Ele está irritado. Ou puto. Ou as duas coisas, porque eu acabei de acertar um tapa na sua cara sem motivo!

Suspiro pesado e saio dali segundos depois dele. Jonathan desaparece do meu campo de visão como vento e algo dentro do meu peito se aperta. Nunca tinha visto Jonathan ficar daquele jeito antes... e isso é tudo por minha culpa.

Caminho por alguns minutos até a minha casa e subo diretamente até o meu quarto, batendo a porta com força. Sento-me no chão e abraço os meus joelhos, lágrimas inundam minha visão e nem sei o porquê a atitude de Jonathan me afetou tanto.

Depois de chorar por alguns segundos, ou minutos, me levanto e vou até o banheiro, ligando o chuveiro. Tiro minhas roupas, ficando nua, e encaro o meu corpo no espelho. Será que algum dia você será uma garota normal? Analiso meu corpo e passo as mãos por minha barriga, sentindo meus olhos arderem de novo e sei que estou prestes a chorar.

"Se você está aqui é porque quer..."

Flashbacks de um dia fatídico inundam minha mente e sinto meu peito doer. Chorando, adentro no box e deixo que a água morna limpe minha pele e alma. Fico por alguns segundos só deixando a água me molhar enquanto penso em tudo o que passei...

Lavo meus cabelos, meu corpo e desligo o chuveiro dez minutos depois. Coloco uma calça jeans, uma camiseta de Stranger Things e um tênis preto. Penteio os meus cabelos, passo perfume e pego na minha bolsa. Hoje é dia de ir à psicóloga.

[***]

Estou sentada a exatos dois minutos enquanto minha psicóloga anota algumas coisas em seu caderno.

— Como foi o seu dia? – ela me perguntou. Tomo fôlego o suficiente e decidi contar a verdade para ela.

— Dei um tapa na cara de um garoto – digo e ela arregala levemente os olhos, surpresa.

— Por que você fez isso? – ela indaga.

— Achei que ele iria me beijar – admito, mordendo minha bochecha. Quando sinto o gosto metálico, pare de morder. Ela anota de novo algo no caderno e volta a me encarar.

— E por que você reagiu assim? – a pergunta que eu estava com medo de ouvir.

Por que eu reagi assim? Porque da última vez que gostei desesperadamente de um garoto... as coisas saíram do controle.

— Porque já gostei de um menino antes e... – minha voz falha por um momento. – As coisas não deram certo – consigo completar a frase.

Ela me encara por longos minutos, me analisando e eu começo a roer as unhas na sua frente. Não gosto que eu observe e acabo roendo a unha, o que, devo dizer, é uma ideia péssima, porque ela anota mais algumas coisas em seu maldito caderno.

Quando ela volta a me encarar, par de roer as unhas e solto um suspiro pesado, ela parece fazer o mesmo.

— Mia, posso te perguntar uma coisa? – ela perguntou gentilmente.

Meu coração dispara dentro do peito e sinto minhas mãos suarem. Involuntariamente, comecei a mexer meu pé, pisando no chão diversas vezes. Ela acompanha os movimentos com os olhos enquanto espera pela minha resposta.

— Pode... – sussurrou, mas sei que ela me ouviu. Meu coração está tão acelerado que acho que ela consegue ouvi-lo de onde está. Vejo minha psicóloga engolir em seco e pigarrear.

— Você já foi abusado? – sua pergunta me causa arrepios e sinto meus olhos arderem, prontos para derramar lágrimas. – Física ou psicologicamente? – ela acrescenta.

Minha perna continua se movendo, sinto uma lágrima cair sobre minha bochecha e a limpo imediatamente.

"Mas você não disse que queria?"

A voz de uma das minhas amigas da época invade minha mente e sinto minha visão embaçar. Mais lágrimas caem sobre minhas bochechas e sinto os meus lábios tremerem. Minha psicóloga pega uma caixinha de lenços e me alcança. Eu pego sem hesitar e fungo no nariz.

— Eu tinha quatorze anos, foi logo depois que o meu irmão saiu da cidade – digo, entre soluções.

— Você consegue me contar desde o começo? – sua voz doce invade meus ouvidos.

Um bolo se forma em minha garganta, impedindo-me de engolir minha própria saliva. Deixo que as várias lágrimas continuam caindo e finalmente param de pisar no chão.

— Acho que consigo – consigo dizer, apesar da voz estar rouca devido ao choro.

— Tudo bem, então, conte-me – ela me pede.

Respiro fundo, limpo as lágrimas e tomo um pouco de água antes de continuar a falar.

Contar o dia mais fatídico da minha vida, em voz alta, para outra pessoa é algo que nunca Pensei que faria. Mas foi como Clarice Lispector disse uma vez:

"Perdi muito tempo até aprender que não se guarda palavras. Ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam."

Bom, como eu não sou escritora nem nada do tipo,prefiro falar. Porque sufocar, elas me sufocaram há anos. E não aguento mais ser sufocada por essa dor e esse medo crescente.

Depois Dela: Livro 2 De 2Onde histórias criam vida. Descubra agora