Capítulo 16 | Minhas Falhas

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"Mas amigos não olham para amigos desse jeito

Amigos não olham para amigos desse jeito

Nem posso dizer se

Eu te amo ou te odeio mais

Você me viciou." Tate McRae - That Way

" Tate McRae - That Way

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Capítulo 16

Depois de semanas, eu e Cassie viramos muito amigas. Acho que nunca tive uma amizade em que a outra pessoa realmente está lá por mim. Oliver não
falou mais comigo, ela está andando com Sabrina e suas amigas. Sei que ela só está fazendo isso para ter algum reconhecimento e ser popular.

Apesar de falar muito com Cassie, nunca falei sobre minha mãe e o meu problema com comida. Não falo disse com ninguém, mas hoje, meu pai percebeu que estou mais magra do que antes e decidiu que irei ir em uma psicóloga para conversar com alguém que entende do assunto.

Enquanto meu pai me espera do lado de fora da sala, eu estou sentada em um sofá cor bege, enquanto a psicóloga está sentada em uma poltrona de couro na minha frente. A sala em si, é bem simples, cortinas brancas, paredes bege, uma mesinha perto da porta e uma mesa de centro entre o sofá em que estou e a poltrona em que ela está.

Olho para o relógio pendurado na parede. Se passaram apenas dez minutos e eu não disse nada desde que cheguei. Não é como se fosse algo fácil. Parece que o tempo resolveu congelar logo agora e os minutos não passam.

- Como você está se sentindo hoje? - ela me pergunta. Adriana, a psicóloga, tem um caderno em mãos juntamente com uma caneta.

Como estou me sentindo hoje?

- Acho que bem... - pondero.

- Acha? - ela enfatiza.

Acontece que, eu estou me sentindo normal, mas o que é o normal para ela? Bom? Ruim? Muito ruim? Se eu começar a falar tudo o que quero, sei que não vou conseguir parar de falar, porque às vezes falo demais e acho que uma parte de mim não quer que outra pessoa saiba das minhas falhas.

Porque eu sou Mia Adams a filha perfeita, que os pais investiram muito e que não pode decepcionar ninguém. Que vai ter um futuro promissor e que não existem falhas. Abaixo a minha cabeça e encaro o tapete vermelho no chão, enquanto pego uma mecha do meu cabelo e enrolo em meu dedo.

- Tem algo que gostaria de compartilhar comigo? - ela pergunta, gentilmente. Meus olhos se voltam para ela. Adriana tem os cabelos longos e castanhos, seus olhos são azuis e seu corpo é... maravilhoso, na verdade. Coxas fartas, peitos grandes e uma cintura de dar inveja.

- Estou terminando a minha saga favorita de fantasia - desvio do assunto principal.

- Ah, é? Conte-me - ela mostra interesse no assunto e algo dentro de mim se desperta, então começo a falar sem parar sobre a Feyre, Rhysand, Cassian e tantos outros personagens que me ajudam a sair da realidade de merda em que vivo.

Também faço algumas piadas sobre a minha vida, comparando-a com a do livro, o que não faz o menor sentido. Depois de quase trinta minutos, ela anota algumas coisas em seu caderno e volta os seus olhos para mim.

- Você se esconde através dos livros e das piadas sem graças - ela diz. Me conta uma novidade nisso? O meu ponto forte é falar sobre livros e fazer piadas das merdas que acontecem.

- Isso não é novidade - murmúrio, mas sei que ela me ouviu muito bem.

- Vamos falar da escola? - ela questiona, mas nem me deixa responder antes de continuar. - Tem alguém que você confia para falar sobre tudo? - indaga.

Nesse momento, minha mente pensa diretamente em Cassie. Se ela soubesse o quanto ela é incrível e o quanto gosto dela. Mas ao invés de dizer a verdade, digo:

- Não - nego. A psicóloga suspira pesado e anota algo em seu caderno outra vez. Desconfortável, me remexo no sofá e mordo minha bochecha, até sair um pouco de sangue. O gosto metálico enche minha boca.

- Gosta de algum menino? - sua pergunta me pega desprevenida e eu esbugalho os olhos, perplexa.

Quando não respondo, ela continua a falar.

- Olha Mia, você vai continuar vindo nas sessões até que eu perceba uma evolução, não adianta esconder nada - sua voz gentil preenche os meus ouvidos.

Continuo quieta e quando ela olha para o relógio da parede, já se passaram quarenta e cinco minutos.

- Nossa sessão terminou, vejo você na semana que vem - ela sorri.

Levanto-me do sofá e pego minha bolsa, saindo daquela sala. Meu pai, que está sentado em uma das cadeiras quase dormindo, acorda subitamente e sorri em minha direção.

- Como foi? - ele me pergunta e eu dou de ombros, seguindo para o estacionamento do consultório.

Ao entrarmos dentro do carro, meu pai se vira em minha direção. Simpatia estampada em seu rosto.

- Mia, você precisa se aceitar filha - sua voz sai suave, gentil. - Você é uma mulher linda, engraçada. Eu sei que aquele dia nunca vai sair de sua cabeça, mas você precisa seguir em frente - sinto meus olhos arderem e sei que estou chorando.

Eu sei que não estou indo na psicóloga só porque não estou comendo direito. Estou aqui por causa daquele maldito dia. Porque meninas normais da minha idade já saem com vários caras e transam por aí, mas Mia Adams não consegue ser tocada no ombro que já sai chorando da escola.

Quando não digo nada, meu pai se vira para a frente, coloca o sinto de segurança e liga a ignição do carro, dando partida.

[***]

Duas semanas depois, estou com Cassie no intervalo da escola, enquanto ela me conta o que aconteceu em seu fim de semana. Tento, com toda a força que tenho, manter-me interessada no assunto. Ela me deu um bolo no sábado, iriamos no parque de diversões que chegou na cidade, mas ela estava resolvendo alguns assuntos sobre o livro que quer publicar.

Acabei não indo também, não tive coragem de ir sozinha, sem ninguém. E não queria chamar Oliver, estou tentando evitá-la ao máximo, porque sei que quando a Sabrina se cansar dela, ela vai vir correndo até mim, mas eu não vou querer ser amiga dela de novo. Ao invés disso, fiquei em casa lendo outro livro.

Volto a prestar atenção em Cassie.

- Então, eu e Avery estamos em um namoro falso - suas palavras me pegam de surpresa e eu arregalo os olhos.

Meu Deus, estou no livro a Hipótese do Amor? Aí que tudo.

- Meu Deus - é só o que consigo dizer.

- É tudo mentira, não suporto Avery - ela afirma, mas sinto que essa história de "eu o odeio" é só fachada, como nos livros. Abro um sorriso brincalhão nos lábios e Cassie me dá uma cutucada no braço.

- Se você diz... - ironizo e ela cerra os seus olhos em minha direção.

Ah, merda. Espera aí... quer dizer que teremos que conviver com Jonathan e Avery bem mais do que já convivemos?

Que alegria...

E falando no diabo, Avery e Jonathan se aproximam de nós duas, se sentando no banco em que estamos.

- Já está sabendo da novidade? - Jonathan pergunta diretamente para mim.

- Sim - digo e não consigo segurar a risada que me escapa. Jonathan me acompanha, rindo, ou melhor, gargalhando alto demais.

- Vocês são dois idiotas - Avery retruca.

- Isso vai ser bem interessante - digo, ainda rindo.

- Pode apostar - Jonathan diz.

E não consigo controlar a minha risada, rindo ainda mais, até doer a barriga.

Depois Dela: Livro 2 De 2Onde histórias criam vida. Descubra agora